Opinião

O Agora Futuro!

Henrique Jorge, fundador e CEO da ETER9

Quando em 1995 comecei a usar o slogan “Porque a Internet é uma realidade!”, praticamente ninguém mostrava interesse ou dava atenção, fazendo-me sentir um louco a remar contra a maré.

Era natural, a Geração X, a qual pertenço, era ainda muito jovem, tecnologicamente falando, e assistia, muito distraída, ao ‘boom’ da Internet e da tecnologia digital. Nesse silêncio nasciam os Millennials (Geração Y) que viriam a agilizar o pensamento dos mais cépticos quando estes se rendiam às evidências. No fundo, a Geração Y, teve um berço tecnológico que, de certa forma, abanou a sociedade, a começar pelas redes sociais aproximando o mundo outrora distante.

Os Xs cresceram durante a Guerra Fria — nos tempos em que a Internet era, necessariamente, construída –, crises económicas dos anos ’70 e início da globalização. Apesar de testemunharem a transição de uma sociedade mais industrial para uma mais tecnológica, não estavam ainda mentalmente preparados para essa ‘ficção científica’ que eu, e outros poucos, apregoavam.

As ideias que mudam o mundo nascem da coragem de abraçar o que parece loucura e/ou impossível.

A revolução Internet ainda estava no seu início, mas eu via-a já lá para a frente. Mea culpa, para mal dos meus pecados… Foram precisos 30 anos para que a geração que não acreditava, ou não dava importância a esta tecnologia, gerasse outra praticamente dependente da tecnologia. Pelo meio, surge a Geração Z, onde as minhas filhas se encaixam, fechando o ciclo geracional do Século XX.

Já depois de o digital se ter instalado e enraizado nas mentes mais cépticas, é feito um ‘reboot’ neste conceito geracional dando início a um novo ciclo. O termo cunhado por Mark McCrindle, Alpha, sugere iniciar o alfabeto grego para apelidar as gerações após o Z. Assim, a Geração Alpha marca o início de uma nova geração, reiniciada, que assistirá ao nascimento da AGI (Inteligência Artificial Geral) e subsequente ASI (Inteligência Artificial Superinteligente).

É a primeira geração completamente imersa em tecnologias de Inteligência Artificial, dispositivos conectados e aprendizagem automática.

A Geração Alpha, qual versão experimental de um novo Sistema Operativo, irá fazer a Singularidade Tecnológica acontecer; para bem ou para mal, assim “inconscientemente” queira!

Se sobreviver… acordará num mundo novo! Não estou a falar de Matrix, mas bem que poderia!

Após a Geração Alpha (nascidos a partir de 2013), o padrão lógico será continuar a utilizar o alfabeto grego, já que ele foi introduzido para cunhar as gerações pós Z. Assim, e sem avançar muito mais, a próxima geração pode vir a chamar-se, hipoteticamente, de Geração Beta e acredito que os primeiros rebentos nasçam já neste novo ano de 2025. Tal como um sistema em fase Beta, encaixa perfeitamente para o que começarão a ver quando começarem a discernir nos seus pensamentos.

Será a grande onda de crianças que crescerão com tecnologias ainda mais avançadas, como realidades totalmente imersivas e interacções profundas com Inteligência Artificial, em fusão com as máquinas. Estas farão parte da Singularidade Tecnológica numa espécie de teste às capacidades humanas, à essência humana!

Neste enquadramento, e voltando ao presente, encontramo-nos agora na terceira vaga de Inteligência Artificial. Tudo agora acontece muito rápido!

Os chatbots actuais utilizam IA generativa para fornecer respostas com base numa única interacção. Uma pessoa faz uma consulta e o chatbot utiliza o processamento de linguagem natural para responder.

A próxima fronteira da Inteligência Artificial é a Agentic AI (IA de Agente, na falta de melhor termo), que utiliza um raciocínio sofisticado e um planeamento iteractivo para resolver problemas complexos e de várias etapas de forma autónoma. [Quis mesmo dizer “iteractivo” e não “interactivo”.]

Este “novo” conceito IA foi criado para aumentar a produtividade e as operações em todos os sectores. Se o que introduzi na década passada tivesse sido transportado (ou teleportado, hehehe) para o presente e, em seguida, retornado ao passado, talvez o termo hoje fosse “AI-counterpart”. Teria sido cedo demais? Mea culpa, mais uma vez! E agora? Estarão os astros alinhados (todas as peças de IAs num agora puzzle mais visível) para navegar a grande onda IA antes da AGI?

Veremos, mas de uma forma ou de outra, os Agentes Inteligentes estão a chegar e têm agora toda a matéria-prima necessária para fazer jus ao nome que identifica esta geração (Alpha). Os sistemas Agentic AI ingerem grandes quantidades de dados de múltiplas fontes para analisar desafios de forma independente, desenvolvem estratégias e executam tarefas como a optimização da cadeia de abastecimento, análise de vulnerabilidades de cibersegurança.

Se eu tivesse a capacidade de me colocar fora deste Universo, numa espécie de zona quântica sem tempo nem espaço, tiraria uma foto realística do puzzle que hoje vejo do Agora Futuro e partilharia com todos vós! Naturalmente que a maioria não acreditaria e seria vista como mais um “fake” gerado por IA generativa. Vulgo ‘ficção’ para os cépticos!

Voltando à Terra, a Agentic AI refere-se a um tipo de Inteligência Artificial que age de forma autónoma, ou seja, que toma decisões e realiza acções com base em objectivos definidos, sem necessitar de intervenções constantes de seres humanos. Este conceito contrasta com sistemas de IA que são apenas reactivos ou que operam exclusivamente sob instruções directas.

Eis as características principais de uma Agentic AI:

– Autonomia: Capacidade para funcionar sem supervisão contínua, seguindo os seus próprios processos de raciocínio ou planeamento para atingir objectivos.
– Pró-actividade: Consegue identificar oportunidades, antecipar problemas e tomar iniciativas para resolver questões sem instruções explícitas.
– Objectivos internos: Possui metas definidas ou a capacidade de criar e prioritizar objectivos com base em instruções gerais ou na sua própria aprendizagem automática.
– Capacidade de raciocínio: Capacidade de planear, raciocinar (e esta, hein?) e tomar decisões complexas considerando diversas variáveis e cenários.

Este conceito está a ser amplamente explorado em discussões sobre o futuro da Inteligência Artificial e está no centro dos debates sobre como alinhar sistemas autónomos com os interesses e valores humanos.

Um exemplo neste campo é o Projecto ETER9, que há cerca de uma década apresentou ao mundo um conceito inovador de “contraparte digital” ou “AI-counterpart”. Esta ideia visa maximizar a produtividade através da automatização de tarefas, permitindo que cada indivíduo tenha uma contraparte digital personalizada que aprenda e opere de forma independente. Que seja o “Segundo Eu Digital” de cada ser humano, tendo, curiosa e inevitavelmente, como efeito secundário a… imortalidade!

Esta minha visão já não é tão solitária como dantes. É agora uma realidade inevitável que se aproxima a olhos vistos! E mais depressa toma forma com a chegada da Agentic AI.

Esta visão mais reforçada fica com o que o antigo CEO da Google, Eric Schmidt, disse na Collision Conference em 2024: “Os humanos terão em breve um Segundo Eu, feito pela Inteligência Artificial”.

Por último, se tivesse que apresentar a sequência evolutiva da IA, seria assim:

– Passado: IA Especializada – Sistemas focados em tarefas específicas, como recomendação de livros, filmes ou reconhecimento facial.
– Presente: IA Generativa – Produz conteúdo criativo e interactivo.
– Hoje/amanhã: Agentic AI – Actua autonomamente para atingir objectivos.
– Futuro próximo: AGI – Inteligência equivalente à humana.
– Futuro equidistante: ASI – Superinteligência que supera a inteligência humana em todos os aspectos.
– Futuro inevitável: Singularidade Tecnológica – Transformação radical da civilização.

Disclaimer: Estas são apenas as minhas opiniões, algumas delas bastante pessoais, pelo que não as tomem demasiado à letra. Também não se preocupem em excesso sobre se irão ou não sobreviver à transformação radical. Preocupem-se, sim, em contribuir para um futuro melhor; tudo o que fizerem agora determinará esse futuro, essa transformação radical de que falo. O futuro tanto poderá ser utópico como distópico. Depende de si…!

Nota: Este artigo não obedece, propositadamente, ao Novo Acordo Ortográfico.


Empreendedor, Programador e Analista de Sistemas, Henrique Jorge é o fundador e CEO da ETER9 Corporation, uma rede social que conta com a Inteligência Artificial como elemento central, e que atualmente está em fase BETA.

Desde sempre ligado ao mundo da tecnologia, esteve presente no início da revolução da Internet e ficou conhecido pela introdução da Internet e das tecnologias que lhe estão associadas em Portugal, sendo um dos pioneiros nessa área.

Passando por vários episódios de desconstrução e exploração das linguagens dos computadores, chegou à criação da rede social ETER9, um projeto que tem conhecido projeção internacional, e que ambiciona ser muito mais que uma simples rede social. Através de Inteligência Artificial (IA) pretende construir a ponte entre o digital e o orgânico, permitindo a todos deixar um legado digital ativo no ciberespaço, inclusive pela eternidade. Fora do espaço virtual, é casado, pai de duas filhas, e “devora” livros.

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