Entrevista/ “Portugal é hoje um dos países mais dinâmicos na área do empreendedorismo e inovação social”
“Acreditamos no poder do trabalho em parceria e em rede para o sucesso do ecossistema nacional de inovação e impacto social”, afirma Henrique Sim-Sim, presidente Rede de Incubadoras de Inovação Social, em entrevista ao Link to Leaders.
A Rede de incubadoras de Inovação Social (RIIS) foi criada em abril de 2023, com o apoio institucional do Ministério da Coesão Territorial, e tem como objetivo apoiar e fomentar o empreendedorismo e a inovação social em todo o país, através da capacitação, valorização, trabalho em rede e reconhecimento das incubadoras de inovação social em Portugal.
A RIIS representa atualmente 23 incubadoras sociais e de inovação social fundadas ou apoiadas no âmbito da Portugal Inovação Social. Nas palavras de Henrique Sim-Sim, presidente da Rede de Incubadoras de Inovação Social, estas são “um ativo extraordinário”, que “diariamente estão no território e, de forma colaborativa com a sociedade civil, com as empresas, a academia e o setor público, abrem novos caminhos de atuação para minimizar problemas sociais das comunidades”.
Como surgiu a Rede de Incubadoras de Inovação Social?
Em 2013 foi dado um passo decisivo em Portugal para promover o empreendedorismo e a inovação social ao ser constituída a Portugal Inovação Social, uma estrutura de missão do governo com um envelope financeiro de 150 milhões de euros para apoiar e fomentar o empreendedorismo e a inovação social. No desenvolvimento desta estratégia, foram sendo criadas e apoiadas, ao longo dos anos seguintes, e um pouco por todo o país, várias incubadoras e centros de inovação social.
A partir de 2019 começam a decorrer encontros formativos e reflexivos entre as incubadoras e a estrutura de missão. Pouco a pouco, a ideia da constituir uma rede de incubadoras, que contribuísse para promover, valorizar e debater temas importantes para as mesmas, foi ganhado corpo e fomos trabalhando na constituição e carta da missão. Finalmente, em abril de 2023, a Rede de Incubadoras de Inovação Social é formalizada num Protocolo de Colaboração que contou com o apoio institucional do Ministério da Coesão Territorial.
“Acreditamos no poder do trabalho em parceria e em rede para o sucesso do ecossistema nacional de inovação e impacto social”.
Qual o objetivo?
Esta Rede, pioneira no contexto internacional, e que reúne um conjunto de 23 incubadoras de natureza muito diversa, tem como objetivo contribuir para o reconhecimento e valorização do trabalho extraordinário que é feito diariamente, de norte a sul do país, por estas incubadoras. Queremos contribuir para o debate de temas importantes neste contexto, apoiar a valorização e capacitação das suas equipas, promover o trabalho colaborativo entre distintas incubadoras, representar e defender os interesses gerais das incubadoras junto dos poderes públicos. Acreditamos no poder do trabalho em parceria e em rede para o sucesso do ecossistema nacional de inovação e impacto social.
Que balanço faz deste primeiro ano de atividade?
Esta direção foi eleita em junho de 2023, no decorrer da iniciativa Aldeia da Inovação Social, tendo nessa data sido aprovado o nosso Plano de atividades. Passado um ano, o balanço é positivo. Lançámos no dia 3 de junho um pioneiro Programa de Capacitação para Técnicos das Incubadora de Inovação Social, um projeto único no país e diferenciado que conta com o apoio do Centro para a Economia e Inovação Social. É fundamental capacitar as nossas equipas! Já criámos também o Grupo de Trabalho na Área da Avaliação de Impacto, um passo muito importante para colocar em comum, robustecer metodologias e métricas neste domínio.
Realizámos em maio um Ciclo de Webinares com a participação de especialistas na área do investimento social e de avaliação de impacto. Promovemos com sucesso o 10º encontro de incubadoras em Loures e temos já definido o 11º primeiro encontro que será realizado no Porto. Avançamos com um breve diagnóstico de caracterização das incubadoras membros da RIIS e iniciámos algumas colaborações pontuais, como seja com a Fundação EDP no âmbito do Programa EDP Energia Solidária. Temos também feito o nosso trabalho advocay junto dos poderes públicos, dando a conhecer a RIIS e as suas incubadoras. Há, todavia, ainda muitos desafios para concretizar.
Quantas incubadoras integram atualmente a rede e qual a previsão até ao final do ano?
A Rede é constituída, atualmente, por 23 incubadoras, localizadas de norte a sul de Portugal continental. Existe um conjunto de outras incubadoras que já solicitaram adesão à RIIS, mas a definição dos critérios de adesão é um processo que estamos a finalizar. Temos também tido manifestações de interesse de incubadoras na Estremadura espanhola que se querem constituir como membros observadores, e, do Brasil, temos também registado um interesse muito grande sobre o nosso trabalho.
São incubadoras que estão dispersas geograficamente ou que estão concentradas nas grandes cidades?
A representatividade regional é notória, existindo incubadoras no Algarve, no Alentejo, Vale do Tejo, Centro e Norte, notando-se, todavia, uma maior concentração na grande Lisboa e área metropolitana do Porto. Ainda se verifica também, alguma litoralização da presença as incubadoras, que será importante contrariar para promover maior coesão territorial e social no nosso país.
“As atividades desenvolvidas são diversas – educação para o empreendedorismo, eventos de comunidade, iniciativas de capacitação e de formação (…)”.
Como têm ajudado a dinamizar o ecossistema nacional de empreendedorismo e a incubação de empresas?
Costumo dizer que Portugal tem um ativo extraordinário que é este conjunto de incubadoras que diariamente estão no território e, de forma colaborativa com a sociedade civil, com as empresas, a academia e o setor público, abrem novos caminhos de atuação para minimizar problemas sociais das comunidades. As atividades desenvolvidas são diversas – educação para o empreendedorismo, eventos de comunidade, iniciativas de capacitação e de formação, programas de mentoria e programas de aceleração, incubação e muitas outras atividades que criam verdadeiro valor social, que importa mensurar e comunicar. Esse também e o papel da RIIS. O potencial de transformação social que cada uma destas incubadoras representa per si é muito relevante. Como afirmou Geoff Mulgan, “A ideia da inovação social parte do princípio colaborativo, de que todos somos mais inteligentes que cada um”.
Quais os benefícios para quem integra esta rede?
Os principais benefícios são o acesso a uma rede de parceiros e de conhecimento, iniciativas de capacitação, acesso a oportunidades de colaboração, mas também saber que a RIIS defende e promove este conjunto de entidades por forma a que existam condições para seja possível cumprir, individual e coletivamente, as suas missões institucionais.
Quais os desafios que se colocam hoje em dia aos projetos de inovação social?
Diria que os desafios são distintos, dependendo das áreas de atuação e, também, dos territórios onde atuam, existindo algumas transversais. Na minha opinião, e apesar do ecossistema estar mais maduro e robusto, precisamos de mais empreendedores e ampliar o pipeline de projetos. Processos de ideação e concursos podem ser importantes. Mas precisamos também de os apoiar nesta fase, sendo importante ter instrumentos financeiros mais adequados em fase pré-seed. Alguns outros desafios prendem-se com a definição do modelo de negócio, de encontrar as adequadas evidencias e métricas de impacto, algumas vezes a adequação legal às novas soluções desenvolvidas, a escalabilidade das soluções, podendo a tecnologia ter um papel fundamental. Mas hoje temos mais atores no terreno em diferentes dimensões que permitem que as start-ups sociais possam ser mais bem-sucedidas, é um caminho muito positivo.
“Só com crianças e jovens mais atentas aos desafios sociais poderemos alcançar uma sociedade mais coesa e participativa”.
De que forma podem os mais novos ajudar para estarem mais atentos aos problemas sociais?
Esta é uma área muito importante e existem bons exemplos de iniciativas e de programas de educação para o empreendedorismo social, promovidas pelos nossos membros, em vários pontos do país. É muito importante que, o quanto antes, as crianças e jovens sejam sensibilizadas sobre estes temas, conheçam os problemas sociais, as instituições que os trabalham e que criem um espírito critico e de participação cívica. Só com crianças e jovens mais atentas aos desafios sociais poderemos alcançar uma sociedade mais coesa e participativa. Estes programas são muito importantes também para promover competências de gestão de projeto, de relacionamento interpessoal, de empoderamento e de promoção da sua autoconfiança. É uma área de trabalho apaixonante.
Existem projetos de empreendedorismo social em Portugal com verdadeiro impacto?
Claro que sim. Existem projetos com impacto que já operam para além do território português e projetos de microescala com grande impacto local. Existem vários empreendedores portugueses já reconhecidos internacionalmente pela rede Ashoka [organização internacional sem fins lucrativos, com foco em empreendedorismo social, fundada na Índia por Bill Drayton] e empreendedores que fazem verdadeiramente a diferença na sua pequena comunidade e que, por vezes, se mantêm invisíveis aos olhos de muitos. Portugal é hoje um dos países mais dinâmicos na área do empreendedorismo e inovação social, e isso é comummente reconhecido. Temos muitos empreendedores a fazer acontecer projetos extraordinários em tantas comunidades! Não queria destacar nenhum em particular, preferindo antes realçar que é muito importante continuar a criar condições para que possam crescer e impactar ainda mais pessoas.
“Hoje, a maioria das 23 incubadoras e centros de inovação pertencentes à RIIS desenvolvem programas de incubação, diferenciados conforme a sua especificidade (…)”.
Como avalia o estado da incubação em Portugal?
Penso que hoje temos múltiplas estruturas dotadas de recursos humanos jovens e qualificados, e redes de parceiros e mentores motivados. A Portugal Inovação Social foi fundamental neste percurso. Hoje, a maioria das 23 incubadoras e centros de inovação pertencentes à RIIS desenvolvem programas de incubação, diferenciados conforme a sua especificidade e ecossistema local, e isso permite dar diferentes respostas a quem nos procura. Há ainda caminho por fazer, incrementar mais competências nas equipas, mobilizar mais recursos financeiros e produzir mais conhecimento sobre este nicho de incubação, mas estamos seguramente no bom caminho!
Depois do Programa de Capacitação para Técnicos de Incubadoras de Inovação Social, que outros projetos podemos esperar para esta rede?
Este programa era algo muito desejado pela RIIS e é um passo muito importante para melhorar a qualificação dos técnicos das incubadoras e dos centros, mas também para formar novas técnicos para estas estruturas e outras que possam vir a ser criadas. O programa foi desenhado pela nossa equipa e permitirá que os técnicos atualizem competências e, sobretudo, se coloque em comum formas de atuar e trabalhar. Era um desafio sentido por muitos e que há muito ambicionávamos concretizar e que agora, com a colaboração do Centro para a Economia e Inovação Social, foi possível concretizar. É uma pedrada no charco!
A RIIS encontra-se muito motivada para continuar a capacitar e dinamizar o ecossistema, pelo que novos programas de capacitação e webinares formativos continuarão a ser dinamizados, e criar condições para que seja produzido mais conhecimento sobre esta realidade e o impacto operado. Outras áreas para nós prioritárias são apoiar a cooperação entre os vários elementos do ecossistema de empreendedorismo e inovação social nos territórios e no país, conferindo escala e visibilidade à RIIS.
É nosso objetivo continuar a trabalhar junto dos poderes públicos para que compreendam o valor do trabalho das incubadoras e, dessa forma, contribuir para que se garantam condições para a autonomia ao nível do desenho e da implementação das respostas para as comunidades onde se inserem. Estamos ainda a começar, a RIIS tem um enorme potencial para o ecossistema nacional de empreendedorismo e inovação social!
Respostas rápidas:
Maior risco: Ficar parado, cristalizado, não ambicionar mais…costumo dizer que “quando não se avança, anda-se para trás...”, acrescentando que “podemos sempre fazer mais e melhor”.
Maior erro: Ser demasiado inquieto (risos). Gosto imenso de novos projetos e de desafios, de conhecer pessoas e iniciativas que inspiram, as quais me levam, invariavelmente, a novos desafios e novos projetos…
Maior lição: Uma vida tem muitas vidas. Somos capazes de nos readaptar e seguir em frente, independentemente dos desafios. Clichê, mas temos mesmo de sair da nossa zona de conforto.
Maior conquista: Sem dúvida os meus 4 filhos! São eles que me preenchem completamente e é o maior legado que deixo.








