Europa ultrapassa EUA na criação de novas empresas tecnológicas, diz estudo

Segundo um estudo da Atomico, a Europa ultrapassou este ano os EUA em termos de criação de novas empresas tecnológicas. O velho continente conta com cerca de 14 mil novos fundadores e o continente americano com 13 mil.
A indústria da tecnologia europeia estabilizou após dois anos de turbulência e está a começar a recuperar, revela o mais recente relatório do Estado da Tecnologia Europeia (State of European Tech) da Atomico. Embora a desaceleração macroeconómica global tenha continuado a impactar o ecossistema tech em todo o mundo, o valor do ecossistema da Europa equivale a 3 trilhões de dólares (2,75 triliões de euros), igualando o seu pico de 2021.

Fonte: Relatório do Estado da Tecnologia Europeia 2023
Numa nota que dá conta das principais conclusões do estudo, o fundo de capital de risco revela que, no entanto, ao longo do último ano, os investidores recuaram a nível global, com o capital total investido a decrescer 45% na Europa, em linha com a média global, que decresceu 39%. Isto significa que o investimento internacional na tecnologia europeia diminuiu, com um decréscimo notável da participação dos investidores norte-americanos, tanto nas fases iniciais como nas fases finais.
O estudo aponta também a que a Europa está prestes a angariar 45 mil milhões de dólares (41 mil milhões de euros) em capital este ano, representado uma queda acentuada em relação ao valor total de 2022 mil milhões de dólares em 2022 (cerca de 1846 mil milhões de euros) e ficará aquém da previsão de meados do ano da Atomico.
Já as empresas portuguesas angariaram 0,152 mil milhões de dólares (aproximadamente 0,14 mil milhões euros) este ano, abaixo dos 0,51 mil milhões de dólares (0,47 mil milhões de euros) do ano anterior (-70%) e aproximadamente ao mesmo nível de 2020. No entanto, este ainda é o terceiro maior ano para a tecnologia europeia desde o início dos registos, indicando que o ecossistema permanece resiliente e está a compor-se após os máximos de 2021 e início de 2022, aponta o estudo.
Menos fundos de investimento angariados
Em relação aos fundos angariados, no primeiro semestre do ano, registou-se um declínio significativo, em termos anuais, com apenas 7,4 mil milhões de dólares (cerca de 6,76 mil milhões de euros) angariados, em comparação com os 24 mil milhões de dólares (22 mil milhões de euros) em 2022.
Este ano assistiu-se também a um decréscimo das rondas de 100 milhões de dólares (91 milhões de euros) ou mais, com apenas 36 das chamadas “megarounds” na Europa – um número é inferior aos 163 registados em 2022 e aos quase 200 em 2021.
Apenas 7 novas empresas atingiram uma avaliação de mil milhão de dólares- incluindo a DeepL, Helsing.ai, Synthesia e Quantexa.
80% dos fundadores referiram que estão a ter mais dificuldade em angariar capital e que tiveram de ajustar as suas expetativas em relação às rondas de financiamento, o que indica uma nova deterioração da perceção dos fundadores em relação às condições de angariação de fundos.
Ainda de acordo com o estudo, a IA é o maior tema de financiamento ao nível das empresas Seed, tendo angariado 11% de todas as rondas inferiores a 5 milhões de dólares (4,57 milhões de euros).
11 empresas centradas na IA conseguiram angariar “megarounds” de 100 milhões de dólares (91 milhões de euros) ou mais este ano, apesar da diminuição geral dos níveis de financiamento. “Isto indica que a apetência dos investidores para financiar o setor continua a ser forte, apesar de um ambiente macroeconómico turbulento”, explica o estudo.
O estudo mostra ainda que a Europa acolhe mais novas empresas em fase de arranque do que os EUA. O velho continente conta com cerca de 14 mil novos fundadores e o continente americano com 13 mil.
Todavia, Tom Wehmeier, sócio, diretor de Inteligência da Atomico e coautor do relatório, refere que “atualmente, as empresas continuam a ter 40% mais probabilidades de serem financiadas nos EUA do que na Europa e os nossos mercados públicos continuam a não ter acesso à tecnologia. As empresas europeias ainda podem fazer mais para aplicar o seu dinheiro na transformação digital e o quadro regulamentar ainda pode fazer mais para adotar e incentivar a inovação. Só conseguiremos captar o valor total da nossa oportunidade tecnológica se todos os cantos do ecossistema estiverem preparados para participar”.

Fonte: Relatório do Estado da Tecnologia Europeia 2023
Tecnologia e atração de talento
Apesar dos desafios nos mercados de capitais e do subsequente risco de despedimentos, a tecnologia europeia não está a perder o seu forte apelo ao talento. Nos últimos cinco anos, a tecnologia europeia aumentou a sua força de trabalho de 750 mil empregados para mais de 2,3 milhões atualmente. Em Portugal, este número é agora 31 415. Os dados deste ano mostram que a Europa é um beneficiário de talentos tecnológicos provenientes dos EUA.
As empresas em fase de arranque são responsáveis por quase o dobro dos novos trabalhadores na indústria tecnológica em cada trimestre deste ano, em comparação com as empresas em fase de crescimento, o que indica até que ponto o ecossistema das startups se tornou essencial para o crescimento do emprego.
Ao longo da última década, a Europa registou um aumento 10 vezes superior no número de pessoas que trabalham em funções de IA e também reivindica uma maior população residente de profissionais de IA altamente qualificados do que os EUA. Portugal tem 2 000 pessoas a trabalhar em funções de IA.
“Os fundadores e os talentos na Europa estão a assumir riscos e a resolver os problemas mais difíceis, como a IA, o clima e a saúde. Precisamos agora de alargar a assunção de riscos e aproveitar mais o potencial que temos à nossa disposição. Precisamos de construir um panorama de investidores que corresponda verdadeiramente às ambições dos nossos fundadores”, explica Tom Wehmeier.
Este estudo contou com entrevistas a mais de 35 figuras de destaque no ecossistema tecnológico europeu, desde investidores e fundadores a programadores e líderes comunitários, e foi realizado em setembro e outubro de 2023.