8 lições que os empreendedores devem aprender com os agricultores

Os agricultores debatem-se diariamente com a redução das margens de lucro, o poder da indústria transformadora, a flutuação diária dos preços dos produtos e a inconstância do tempo. Eis oito lições a aprender com esta profissão.
A agricultura é um setor que se carateriza por alguma instabilidade, não estivesse este sujeito à inconstância do tempo, à incapacidade de controlar totalmente o volume da produção e à lei da oferta e da procura, que faz com que os preços variem muito.
Como se fosse pouco, ainda se deparam com o forte setor da indústria transformadora e do grande retalho, com quem nem sempre conseguem negociações tão favoráveis como seriam desejáveis.
Amor Deshpande, CEO e cofundador da FBN, uma base de dados agrícola que partilha informação analítica, com o objetivo de ajudar no processo de decisão dos agricultores. partilhou no Entrepreneur oito lições que considera que todos os empreendedores devem aprender com os agricultores:
- Tenha uma missão com valor
O que está a fazer é importante e essencial? Enquanto empreendedor é bom que esteja, caso queira mesmo ser bem-sucedido. Os agricultores escolheram uma profissão que é essencial e fundamental à sociedade. À medida que a população aumenta, conseguir ser-se produtivo em cada hectare de terra é cada vez mais importante.
- “Aquele que tiver mais informação, ganha.”
Larry Ellison tinha algo em mente com esta citação. Em média, cada agricultor tem acesso a mais de quatro milhões de dados individuais por ano na rede FBN. E têm uma boa razão para os analisar e usarem como apoio à decisão. Num estudo, os agricultores que plantaram as sementes que obtiveram melhores análises agregadas de dados conseguiram produções até 12,5% superiores às dos que que não o fizeram. Face à constante mudança, não se pode assumir que algo que funcionou uma vez volte a fazê-lo. Na agricultura, como em qualquer outro negócio, é preciso analisar os seus dados a frio para que possa inovar com confiança.
- Um aperto de mãos e a sua palavra são tão importantes como um contrato
Nos dias de hoje, e com o excesso de litígios e acesso aos serviços legais online, pode-se pensar que os contratos são a única coisa que importa. Mas, de facto, a sua reputação e a longevidade do seu negócio devem-se mais às suas ações do que a umas palavras escritas num papel. As comunidades de agricultores são pequenas e os agricultores vivem e morrem pela sua palavra e pela confiança criada com os vários fornecedores com que fazem negócio.
- Colherá o que plantar
Os agricultores são habitualmente empreendedores familiares. Da mesma forma, embora as histórias de unicórnios tenham captado muita popularidade no mundo de hoje das start-ups, a verdade é que muitas das empresas tecnológicas com impacto, como a Apple, a Google e a Amazon, andam por cá há mais de uma década. A lição? Foque-se nos objetivos de longo-prazo. Os agricultores têm de pensar nas suas decisões em termos de décadas e não de dias. Por exemplo, um agricultor pode aumentar os rendimentos a curto prazo se cultivar o solo de forma intensiva, mas isso trará consequências a longo prazo para a saúde do solo e exigirá a implementação de programas de fertilização mais onerosos no futuro. Os agricultores têm de pensar bem nas suas decisões e nas consequências a longo prazo que estas podem trazer, uma espécie de gestão visionária que os empreendedores faziam bem em replicar.
- Foque-se naquilo que consegue controlar
A quinta lição a aprender com os agricultores é manter o foco naquilo que consegue controlar. Ser-se empreendedor, em especial na área da agricultura, é sinónimo de ser-se ágil. Claro que é necessário dedicar o tempo necessário ao planeamento, mas também é necessário preparar-se para a possibilidade do plano A mudar. Os agricultores não conseguem controlar nem o tempo nem os mercados. Em vez disso, podem focar-se em conseguirem uma boa colheita, em encontrarem novas mercados, melhorarem a saúde dos solos e em gerirem as suas despesas. Todos eles aspetos que podem reduzir a sua exposição ao risco. Os empreendedores têm de ser impiedosos na gestão do seu tempo; conseguir-se-á criar valor nas áreas que se consiga afetar diretamente. Colocar o foco naquilo que conseguimos controlar e em como reagimos às mudanças que vão ocorrendo é o mais importante na jornada do empreendedor.
- Reduza sistematicamente o risco
A sexta lição que as start-ups podem aprender com os agricultores é encontrarem formas de reduzir o risco. Enquanto empreendedor, o risco é uma parte inevitável do caminho. Desde o momento em que toma a decisão de começar um negócio é preciso reduzir sistematicamente o risco que o negócio enfrenta, seja através do foco na adaptação do produto ao mercado, seja no levantamento de financiamento ou na criação da equipa. Os agricultores estão expostos a muitos riscos, muitos deles que não podem controlar. Como os fundadores de start-ups, aplicam sofisticadas estratégias de gestão de risco, por exemplo, através da rotação de culturas, aluguer de terrenos, venda das culturas a diferentes envolvidos e desenvolvimento de especializações de mercado. Quando mais depressa conseguir retirar da equação os riscos que pode gerir, mais depressa conseguirá reinvestir naquilo que fará escalar o seu negócio.
- A inteligência é importante, mas o trabalho árduo também
Muitos empreendedores inteligentes pensam que conseguirão inventar algo grandioso e ir para os Barbados, tendo apenas de despenderem tempo a ver o negócio crescer. Infelizmente o negócio não funciona dessa forma. A agricultura é a combinação máxima entre inteligência e trabalho árduo. É preciso ser-se inteligente para conseguir ver como maximizar o valor das colheitas, mas assim que isso seja alcançado há muito trabalho árduo a fazer. A agricultura é um bonito casamento entre o poder da mente e o poder do trabalho e todos os empreendedores e setores podem aprender com isso.
- A inovação constante é um músculo. Exercite-o.
A última lição remete para a necessidade da constante inovação no negócio. Muitas pessoas pensam nos agricultores como pessoas atrás do seu tempo. Já aqueles que trabalham com eles percebem que se trata do oposto. Os agricultores abraçam a inovação, uma vez que atuam num setor de negócio altamente competitivo. Se se adotar a inovação logo desde o início, consegue-se uma real vantagem sobre os que não o tiverem feito. Para Deshpande, “os agricultores estão na dianteira em termos de disponibilidade para correrem riscos e inovarem sempre que encontrem potencial de retorno”.