Entrevista/ “Acredito na arte como uma ferramenta de promoção da consciência”

Adriana Scartaris, artista plástica e cofundadora do Coletivo 284

De que forma pode a tecnologia ajudar a arte? Como é que a arte pode empoderar a mulher? Estes são dois dos temas abordados pela artista plástica brasileira e cofundadora da galeria Coletivo 284, Adriana Scartaris, em entrevista ao Link to Leaders.

Adriana Scartaris, 60 anos, brasileira, é artista plástica há cerca de 40, uma atividade que abraça com entusiasmo e à qual juntou há anos a faceta de empreendedora. Trabalha o mercado português desde 2020, onde expõe os seus trabalhos e os de outros artistas.

Cofundadora do projeto Coletivo 284, é a curadora de uma exposição atualmente em exibição naquele espaço – a exposição IMPERFEITA 1-3 – onde algumas das obras têm a particularidade de recorrer a tecnologias como realidade aumentada e inteligência artificial.

Em entrevista ao Link to Leaders, Adriana Scartaris aborda o potencial das tecnologias como ferramentas para potenciar as artes, o papel da mulher neste setor de atividade e, ainda, a forma como conjuga a sua faceta artística com a realidade do empreendedorismo e do mundo dos negócios.

De que forma este tipo de projetos artísticos, como a exposição que tem atualmente a decorrer e de que é curadora, servem para empoderar as mulheres?
Se entendermos como o projeto nasceu entendemos também um pouco da motivação e da alma deste projeto. Nasceu durante 2020 num cenário em que todas as pessoas estavam muito assustadas e eu, particularmente, um pouco mais assustada enquanto mulher, enquanto artista e uma pensadora. Vim a perceber naquele momento que o mundo precisava realmente de se modificar de alguma forma.

Tinha uma galeria recém-inaugurada em Portugal (tinha seis meses). Eu não vivo em Portugal, vivo no Brasil, e a questão de ser uma estrangeira exige que se façam várias adaptações. Na pandemia, houve medo de que as coisas se perdessem. Nesse cenário, comecei a pensar enquanto artista – porque eu também faço mentoria para muitos artistas e todos estavam realmente muito mexidos – no que seria uma ferramenta para mudar o mundo. Aí entendi, e ainda penso da mesma forma, que a maior ferramenta de mudança que poderemos ter é lançar mão do que é a essência feminina. Não quer dizer que ela esteja apenas nas mulheres. Felizmente ela está em muitos homens.

Então naquele momento entendi que a essência feminina seria talvez, o grande escape para transformar o mundo naquilo que realmente precisamos. Fui buscar uma referência dentro da arte, de uma grande potência feminina que tivesse resistido, e resistido bravamente, a situações tão severas como aquela que todos vivemos naquele momento. Encontrei Frida Kahlo, que me pareceu a inspiração perfeita, e fui buscar referências nessa artista que eu já admirava. E percebi nela algo que é uma maneira de opressão para as mulheres contemporâneas, que é a busca de uma perfeição enquanto modelo pré-concebido.
As mulheres veem-se muitas vezes obrigadas a seguir um padrão de perfeição que nem as representa. E Frida Khalo tem uma frase onde ela diz que é imperfeita. Aquela imperfeição para mim foi a chave de dizer: “Mulher, a tua imperfeição realmente te torna única”. Quando você não é uma mulher dentro dos padrões, você é você. Torna-se genuína e única. Decidi então construir um Manifesto todos os anos que pode trazer a revelação da potencia que tem uma mulher.

A primeira frase que coloquei no meu Manifesto em 2021 foi “a tua imperfeição te torna única!” Frida Kalo veio como essa potência, retratada pelo olhar de vários artistas.  No segundo ano eu trouxe: “Sim, a tua imperfeição te torna única” porque eu precisava de reafirmar, até para mim, enquanto curadora, enquanto apresentadora desta exposição.

Imperfeita tornou-se para mim o dia 8 de março. Além de ser o Dia da Mulher é o dia da imperfeita. Para mim, a mulher ser imperfeita é absolutamente libertador, é o que não é padrão, o que é único.

E qual a frase da exposição deste ano?
Este ano a frase que trouxe para este Manifesto em construção é “a tua idade não te define”. A idade não pode definir uma mulher. Por isso entendemos que Frida Kahlo e Madona têm uma grande ligação e aí trouxemos para a exposição uma mulher contemporânea ao lado de um mito construído que é a Frida Kahlo. Porquê no Dia da Mulher? Porque a cada ano eu tenho a meta, o projeto, o sonho de construir um Manifesto, que seja talvez algo para nortear muitas mulheres.

Antecipando um pouco o próximo ano, a chamada é “A tua voz te liberta” e teremos duas homenageadas, Amália Rodrigues e Carmem Miranda. Cada uma a seu modo, através da voz, também se libertaram de padrões. Mulheres que também foram, de certa forma, estereotipadas, uma pela alegria imensa, a outra pelo sentimento. Mas nenhuma delas era só isso.

“Acredito que se as mulheres fossem absolutamente decisoras neste mundo, o mundo teria rumos muitos diferentes”.

Tendo em conta essa abordagem como é que caracteriza a arte de ser mulher. Quais os atributos base?
Acho que a mulher tem na sua essência a capacidade de criar, e a capacidade de criar da mulher é muito diferente. É uma capacidade muito próxima da natureza. E isso acaba por se refletir em tudo o que a mulher faz. Acredito que se as mulheres fossem absolutamente decisoras neste mundo, o mundo teria rumos muitos diferentes. Não só as mulheres, mas também homens com alma parecida com as genuinamente femininas. Porque também não podemos rotular.

Mas talvez a arte de ser mulher seja uma arte de flexibilidade. Acho que se tiver de ter uma palavra forte para definir uma mulher é a arte de ser flexível. Nem resiliente, nem forte, nem poderosa. É flexível porque tem de se adaptar às nuances de um mundo que, na maior parte das vezes, não aprovamos enquanto mulheres, enquanto cidadãs.

Muitas mulheres neste mundo não podem escolher a própria roupa. Muitas meninas veem-se obrigadas a vestir uma aparência que não é delas porque o mundo precisa aprovar uma aparência pré-concebida.

Isso tudo é flexibilidade. E até haver o entendimento de que essa flexibilidade tem de ser no sentido de te mandar para onde você quer e não de se adaptar ao mercado, acho que é um exercício muito poderoso que temos de fazer. Por isso, se tiver que dizer se ser mulher é uma arte, acho que é a arte de ser flexível.

Referiu que o claim da exposição é “a idade não nos define”. Mas como é que uma mulher pode lutar contra isso, contra o fator idade, quando se trata do mundo laboral, tão competitivo e tão exigente, em particular para as mulheres?
Vou dar meu exemplo. Tenho 60 anos e pouco me importa. Acho que qualquer mulher tem de perceber que só está velha para ser infeliz. Na questão laboral, não se deve ver incapaz de fazer nada, porque se qualquer pessoa neste mundo conseguiu fazer alguma coisa, qualquer uma de nós também pode fazer. É só procurar a informação certa, no lugar certo e ter dedicação.

Na indústria criativa, no mercado criativo, temos um pouco mais de benefícios, porque um artista não envelhece. Pode ter 200 anos que se a mente estiver criativa, se as mãos estiverem hábeis, ele continua. Então a vantagem de ser artista neste ponto acho que é incrível.

Olhando para o mundo corporativo, acredito que se a mulher se percebe voltada para o novo, ela jamais vai envelhecer, e a idade não vai defini-la. Acredito que a idade não vai impedir a mulher de fazer o que quer que seja. Quando uma mulher assume a idade com orgulho, também passa um poder para as outras pessoas, poder no bom sentido, no sentido de segurança…É isso que importa. Não acredito que a mulher tenha de se adequar a questões pré-concebidas de que até esta idade é ok fazer isto ou aquilo.

As empresas que começam a mudar, ficam mais inteligentes e percebem a capacidade da mulher acima dos 50. É uma mulher que, geralmente, já não precisa de criar filhos, tem mais tempo disponível, uma mulher geralmente mais culta, mais madura e mais segura de si.

É mentira dizer-se que as mulheres acima dos 50 anos são avozinhas, dependentes, coitadinhas. Isso não é uma realidade. E quando a empresa percebe a capacidade dessa mulher e a coloca dentro de uma equipa, essa mulher, geralmente, coloca a equipa em equilíbrio, principalmente quando a equipa tem pessoas muito jovens. É o equilíbrio da experiência e da paciência do mais velho, com a potência e a energia do mais jovem. Equipas assim são muito mais produtivas. Portanto, na questão laboral, e resumindo, diria que não pare de aprender, jamais. Isso deixa-te no mercado para sempre.

Daquilo que conhece da realidade portuguesa e da brasileira como avalia os dois países?
Num primeiro momento, quando comecei a empreender em Portugal, tinha um pouco de resistência e receio porque não era o meu país. Era um país novo que eu precisava de entender melhor como funcionava. Não senti preconceito por ser brasileira, mas como era uma pessoa estranha, com outro idioma – por mais que digamos que é o mesmo, é uma outra postura –  percebi que as pessoas estavam a analisar-me, do género “deixa ver quem ela é”. Nunca tive nenhuma barreira pelo facto de ser brasileira, mas percebi uma análise mais criteriosa das pessoas, o que em pouco tempo consegui transpor.

Hoje, dentro do universo em que atuo, não há nenhuma barreira. Eu particularmente não sinto. Percebo diferenças culturais entre Portugal e Brasil. Em algumas coisas, acho que aqui é um pouco melhor para a mulher, noutras acho pior, mas por questões culturais do país.

Acho que cada mulher, de acordo com aquilo que quer para si, deve realmente posicionar-se, dizer “não quero isso para mim” ou  “quero isso para mim”. Acredito que muitas mulheres enfrentam situações diferentes das minhas, mas no meu caso, dentro da arte, eu não enfrento nenhuma questão que me impeça ou dificulte qualquer ação pelo facto de ser mulher. Pelo contrário.

Em que aspeto?
Eu levanto a bandeira de um certo corporativismo feminino e percebo que quando trago essa questão para alguma empresa ou para certos gestores, essa questão é bem recebida. A minha experiência é muito positiva.
As pessoas percebem o homem português como sendo muito tradicional, mas percebo que o machismo existe em todo o lado. Não é só aqui, nem só no Brasil. Mas eu não passo por isso e se perceber algo nesse sentido sou a primeira a falar e a levantar a questão. Na maioria das vezes nas conversas que tenho existem muitos homens, e realmente comigo não percebi. Pode ser porque estamos dentro do universo criativo, das artes. Porém, e falando da arte num contexto geral, 90% dos artistas são mulheres e nem 5% estão nos museus. As mulheres estão nos museus retratadas nuas, não estão como artistas, na grande maioria. E isso é algo que eu faço de tudo para modificar. Então a minha contribuição nesse sentido é também de fomentar o mercado.

Isso não é só em Portugal, nem só no Brasil, mas em todo o mundo. Temos muito mais mulheres artistas do que homens, porém não é o que se vê. Então as minhas exposições têm um número muito equilibrado de homens e mulheres. Faço questão de que isso aconteça dessa forma e é muito positivo.

“Acredito na arte como uma ferramenta de promoção da consciência. (…) o artista pode traduzir aquilo que acontece no mundo e deixar o seu recado registado para sempre”.

Qual o papel que os artistas podem assumir na promoção e valorização da mulher?
O artista é um tradutor. Acho que temos uma profissão muito privilegiada. Olha que maravilha que é ser artista! Podemos olhar para o mundo, perceber o que sentimos desse mundo traduzindo do nosso jeito e se “errarmos” ninguém sai prejudicado. É só transcrever novamente.

Então podemos colocar várias camadas de entendimento e tradução desse mundo. O artista é aquele que deixa o seu recado, aquele que usa a sua forma de expressão artística, seja ela qual for – escultura, pintura, música, escrita. Ele deixa a sua forma de tradução desse mundo como um legado para que as pessoas parem, sejam tocadas e pensem. O importante é que ela cause algum impacto.

A arte não é só para tornar o mundo bonito. É também para fazer as pessoas pensarem. Acredito na arte como uma ferramenta de promoção da consciência. Nesse ponto, o artista pode traduzir aquilo que acontece no mundo e deixar o seu recado registado para sempre.

E no seu caso, como mulher, artista plástica e também como empreendedora, quais têm sido os desafios que tem enfrentado?
Tenho o privilégio de ter colocado a 284 [284 Gallery] num posicionamento onde as pessoas esperam algo diferente.  O que o mercado espera quando chega aqui, é ter uma imersão, entrar num projeto onde você rompe as relações com o mundo externo, de alguma forma.

Conseguimos todos juntos, porque não é só mérito meu. É mérito da minha equipa toda, porque ninguém faz nada sozinho. Não existe nenhuma pessoa capaz de fazer nada sozinho. Eu tenho o grande privilégio de ter uma equipa reduzida, porém muito competente, de ter pessoas ao meu lado que são muito envolvidas com todas as questões concetuais que eu trago.

Como é que funciona essa imersão na exposição?
Algumas obras têm QR Codes a que as pessoas podem aceder através do telemóvel. Tenho a preocupação de inserir sempre a tecnologia de uma forma que a pessoa pode ter qualquer aparelho, independentemente de ter memória suficiente ou de ser um aparelho moderno ou não, que ela consegue aceder.
O curador que entender que a arte é apenas para ser vista, está ultrapassado. A arte é entretenimento sim. A arte tem de entreter, tem que divertir, tem de alegrar, tem de fazer com que as pessoas se sintam bem, aquele que quer comprar e o que não quer comprar. Ele pode olhar para a arte, ser tocado por ela e levar apenas uma imagem ou uma sensação.

Então a Galeria não deve estar preocupada apenas com vender obras de arte. Tem de estar preocupada e ocupada com fomentar o mercado e divulgar um propósito, e é nesse sentido que eu trabalho. Trabalho também com gestão de expetativas, porque quando uma pessoa entra na exposição percebe que é um mundo à parte. Nesse conceito talvez o meu maior desafio seja superar a minha própria demanda, porque propus-me, enquanto gestora, curadora, e enquanto pessoa, a fomentar a arte. Cada vez que faço um trabalho quero trazer alguém que normalmente não estaria ali.

Não quero ser melhor que nenhum outro curador ou artista. Quero ser melhor do que fui ontem. Então isso já é um desafio por si. E propus-me sempre ter uma inovação, a procurar algo que tenha a ver com a tecnologia, porque isso me apaixona. Adoro o que é novo, a tecnologia, e é justamente por não ser uma nativa digital que gosto tanto destas questões de tecnologia. Então insiro nas minhas exposições tecnologias de realidade aumentada, de imersão, inteligência artificial, metaverso…procuro trazer essas camadas de inovação tecnológica.

“Criei muitas obras com inteligência artificial como ferramenta (…)”.

Então a tecnologia é uma ferramenta útil para abrir essa janela de entretenimento…
Exatamente. Uma coisa que percebo aqui [na exposição], e fico muito feliz, é que os pais trazem sempre as crianças mais do que uma vez. Gostam de vir, de perceber que algumas obras criam vida e se movimentem.
Tenho uma obra que tem uma tecnologia de realidade aumentada com animação 3D. A obra realmente, cria vida, sai da tela. Há uma outra tecnologia, que não tem nada de muito inovador, mas que também não é comum, que é uma experiência que leva o visitante para casa de Frida Kahlo, para um tour virtual.

Criei muitas obras com inteligência artificial como ferramenta que é para propor esta discussão, que chega agora ao mercado da arte, em que muitas pessoas dizem que isso não é arte. Acho engraçado porque disseram o mesmo da câmara fotográfica e hoje os fotógrafos são reconhecidos com artistas.

Até na classe artística, muito artistas estão absolutamente resistentes com a inteligência artificial. Entendem que não há valor artístico num trabalho que tem uma camada de processos na inteligência artificial. O que não é verdade.

Eu vim [para a exposição na 284 Gallery] com um trabalho de 30 obras, todas pré-concebidas com a inteligência artificial e com várias camadas de produção também usando inteligência artificial e camadas de mão humana. Então chega um momento é que você não sabe onde está a tecnologia e onde está a mão humana. E é só mais um processo. A inteligência artificial é um pincel, é só isso.

Uma coisa que gostei muito no mercado europeu, é que a receção das pessoas é absolutamente amigável. Ninguém diz “isso não é arte”. Pelo contrário. Então acho que o mercado talvez esteja um pouco mais pronto para a IA do que as pessoas pensam.

“Não temos que ter medo da tecnologia, ela está ao nosso serviço e não nós ao serviço dela”.

Tem um percurso de 40 anos onde acompanhou toda esta evolução tecnológica, que encara como uma ferramenta muito útil em termos criativos…
Lembro-me do meu primeiro computador. Eu tinha medo de ligar, tinha medo de desligar e de perder tudo o que fiz. Para mim era algo impossível, achava que jamais iria conseguir mexer com isso. Não fazia parte do meu universo. E talvez tenha sido nesse momento que nasceu esta pessoa que gosta tanto de tecnologia e de aprender tecnologia. Adoro aprender o que não sei e descobrir como trago isso para o meu dia a dia, e propor soluções novas para o meu trabalho.

Agora como artista, e também como curadora, pretendo convidar outros artistas a pensarem em novas soluções, novos suportes, a entenderem a tecnologia não apenas como as ferramentas tecnológicas, mas o que a tecnologia permite fazer. Não temos que ter medo da tecnologia, ela está ao nosso serviço e não nós ao serviço dela.

É difícil para si fazer a conjugação entre as duas vertentes, a de artista plástica e este lado empreendedor, o lado do negócio?
Não, pelo contrário. Até pelo facto de eu ser artista, sei onde doi para o artista. Conheço os dois lados. Isso dá-me uma certa vantagem. O que é que eu percebo no mercado? Que o artista foi induzido, assim como as mulheres, a pensar que é um incapaz. Que é incapaz de gerir a carreira, que é incapaz de fazer contas, de administrar. Só sabe pintar, esculpir… só é artista. E porquê? Porque o mercado se apropriou do talento de muitas pessoas absolutamente criativas e sensíveis, manipulou essas pessoas e ganhou dinheiro. E não foi pouco.

No meu trabalho com artistas, e justamente por ter esse lado empreendedor, eu digo-lhes sempre “vocês sabem fazer contas, sim”, “você sabe administrar a sua carreira, sim”, “sabe gerir o seu marketing, sim”… não abra mão disso e não delegue em ninguém essa missão de cuidar da sua carreira. Você até pode delegar, mas desde que você também saiba fazer. Como conheço os dois lados, conheço essa opressão, essa mística que se criou de que um artista só cria. Isso não existe.

É mais desafiante ser uma mulher artista no Brasil ou em Portugal?
É igual. Só muda o sotaque. Os países têm características diferentes, obviamente. Mas isso não deixa o mercado mais ou menos amigável. É igual. Tem de se mostrar competências, tem de se trabalhar muito, tem de procurar destacar-se.

O que é que ainda gostava de concretizar em Portugal?
Quero alargar o meu campo de ação na arte e na promoção de eventos culturais com propósito. Quero que as pessoas e o mercado, perceba e, no bom sentido, compre as minhas ideias. Quero trazer sempre exposições com propósito, exposições com o objetivo de naturalizar presenças de alguém que nunca expôs, de alguém com deficiência, de alguém que ninguém sabe quem é.

Tenho a meta de expandir e escalar o meu negócio para que ele seja mais rentável e sendo mais rentável dá-me possibilidade de fazer mais pelo mercado. Mas sem mudar, de nenhuma maneira, o formato do negócio. Trazer arte, cultura, entretenimento, possibilidade de negócio para os artistas e óbvio para poder manter o meu negócio também. Juntamente com isso trazer marcas, patrocinadores, que se identifiquem com os projetos artísticos, que não procurem apenas a divulgação da marca, mas que se revejam no tema dos projetos artísticos, que tenha a ver com os seus pilares, com o propósito e valores da marca.

E Portugal é o limite ou vamos ver o seu projeto noutros países europeus, por exemplo?
Antes de procurar outro país estou a tentar dar um salto, de procurar o mundo todo de uma vez só através do metaverso. Já estou a fazer uma inserção no metaverso.

De que forma?
Com a construção de uma vila com potencial para se tornar uma cidade criativa no metaverso, localizada no meio do oceano. Então com o metaverso eu consigo romper com as barreias físicas e temporais, e aí tanto faz, se é aqui ou noutro continente.

Mais uma vez a tecnologia a ajudar a essa expansão…
Eu adoro tecnologia. Lanço um projeto artístico no mertaverso e qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, pode participar, pode ver, interagir, conhecer, de uma maneira em que todos os que estarão connosco serão coautores dessa nova cidade criativa que criamos.

“Talento sem trabalho, não quer dizer absolutamente nada, não serve para nada. É só ego”.

Que conselhos dá aos jovens artistas que estão a começar e que ainda não saibam muito bem colocar em prática esse lado empreendedor?
Primeiro, não têm de ter preguiça. O artista foi muito acostumado a achar que tem talento e que isso basta. Não. Tem de trabalhar, é um trabalho como outro qualquer. É um ofício, exige exercícios diários, estudo, pesquisa, dedicação, como um médico, como um advogado, como um escritor…

O sucesso e reconhecimento vão chegar na medida do esforço, do talento e da dedicação e de você ser atento o bastante para cuidar com zelo da sua carreira e fazer o investimento certo, na hora certa.

Não parar no tempo, não resistir a inovações – veja-se o exemplo da inteligência artificial, é um caminho sem volta -, e testar novos suportes, desafiar-se. Talento sem trabalho, não quer dizer absolutamente nada, não serve para nada. É só ego.

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