Espanha: enquanto tecnológicas despedem, start-ups ficam de olho no talento desperdiçado

Os despedimentos em massa nas empresas de tecnologia têm originado uma onda de publicações dos trabalhadores dispensados no LinkedIn. Mas nem tudo está perdido: há start-ups que estão atentas e atraem estes perfis para reforçar as suas equipas.
Uma onda de despedimentos em massa abalou o setor de tecnologia em Silicon Valley no ano passado. Em 2023, o cenário não parece diferente. Mais de 88 mil pessoas foram despedidas em janeiro, de acordo com dados da plataforma Layoffs.fyi, que monitoriza os despedimentos nas tecnológicas desde a pandemia de Covid-19.
Os números de 2023 correspondem a mais de metade de todos os despedimentos reportados em 2022, quando foram contabilizadas 159 766 pessoas despedidas pelas tecnológicas.
Espanha não está a passar ao lado dos despedimentos e depara-se inclusive com um fenómeno: as start-ups espanholas estão de olho nos trabalhadores que foram dispensados por empresas como a Glovo, a Wallbox ou o Facebook.
Segundo o Business Insider, nas últimas semanas várias empresas espanholas – unicórnios como a Glovo ou a Wallbox – despediram funcionários devido à situação macroeconómica e aos ventos contrários enfrentados pelas empresas tecnológicas em todo o mundo.
Sempre que as notícias de despedimentos em massa abalam o setor, o LinkedIn é inundado com conteúdos dos trabalhadores que foram dispensados. Já aconteceu com o Facebook, com a Amazon, com o Google e até com a Glovo.
Os funcionários encontram nesta rede social uma forma de comunicar que foram despedidos e que estão à procura de trabalho. Segue-se depois uma onda de solidariedade, quer dos ex-colegas, quer de outras empresas, que os ajudam a encontrar novas ofertas de trabalho.
“Publicar o que procura é nada mais nada menos do que dizer aos contatos da sua rede para pensarem em si e avisarem, se descobrirem alguma coisa [oferta]”, explicou Gustavo Pina, CEO da Akuaro, empresa especializada em recrutamento.
Mas o que leva os funcionários despedidos e fazerem publicações online. Satya Nadella, CEO da Microsoft, refere: “quanto ao motivo pelo qual as pessoas anunciam no LinkedIn, acho que a nova geração de media social acelerou esta tendência. É a geração que partilha todos os aspectos das suas vidas (viagens, comida, opiniões, eventos positivos e negativos)”.
Start-ups contra-atacam
O talento desperdiçado pelas grandes empresas tecnológicas representa uma oportunidade para muitas start-ups espanholas que atualmente procuram integrar novos perfis especializados.
Depois de ver as publicações de ex-funcionários da Glovo no LinkedIn, Bharath Sankaran, CTO e cofundador de Naska.AI – uma empresa especializada em inteligência artificial com sede em Barcelona -, deixou mensagens nos comentários: “Na Naska.AI estamos a contratar. Além disso, estamos ao virar da esquina”.
Também a Fandit, empresa espanhola de tecnologia com apenas 19 funcionários, está atenta. O seu cofundador, Pedro Robles, viu uma publicação no LinkedIn de um funcionário da Glovo que se tornou viral e decidiu deixar um comentário. “Quem já esteve na Glovo, queira ou não, conhece as características de uma start-up e a linguagem deste setor”, disse.
Apesar do clima de incerteza que reina no ecossistema, a Fandit tem várias vagas em aberto e, segundo Robles, encontram-se numa situação económica saudável.
Nas publicações dos ex-funcionários da Glovo surgem também comentários de recrutadores de outros unicórnios como a Fever ou a Personio que procuram novos talentos para reforçar as suas equipas.
A própria Glovo já tomou uma posição. Kevin Hawkins, atual diretor global de UX da Glovo, criou um documento no Google e partilhou para que as empresas com vagas em aberto possam enviar as suas propostas a colaboradores que despediram.