Entrevista/ 5 questões a Daniel Murta, fundador e CEO da EntoGreen
A EntoGreen atua na nova área bioindustrial dos insetos e quer criar “valor assente em sustentabilidade económica, social e ambiental”. O seu fundador e CEO, Daniel Murta, aceitou o desafio do Link to Leaders para responder a 5 questões sobre inovação, liderança e investimento.
Para Daniel Murta, “uma start-up é por natureza uma empresa, ou projeto empresarial, em crescimento e redefinição constante”, cujo “maior ativo são as pessoas, que contribuirão para o crescimento da empresa e tecnologia”. É desta forma que o fundador e CEO da EntoGreen, empresa que integra a Ingredient Odyssey SA, entende que deve ser a abordagem de uma start-up.
Especialista no desenvolvimento de soluções biotecnológicas para a produção de proteína animal e fertilizantes orgânicos, através da reutilização e valorização de subprodutos da indústria agroalimentar, a EntoGreen é especializada na produção e uso da Mosca Soldado Negro, tendo desenvolvido uma tecnologia de biodigestão eficiente e produtiva. A proteína de inseto serve para a indústria de rações para animais domésticos, peixes, aves e suínos, mas a EntoGreen também desenvolve fertilizantes orgânicos para hortícolas e árvores de fruto.
Atualmente, está ativamente envolvida na implementação Agenda Mobilizadora InsectERA, uma iniciativa financiada no âmbito do PRR, e que visa o investimento de cerca de 43 mil de euros no desenvolvimento de um novo setor bioindustrial em Portugal.
O que é para si inovação?
A inovação nasce da capacidade de identificar soluções alternativas para desafios ou necessidades da sociedade. Porém, inovar deverá não ser somente fazer diferente, mas trazer ferramentas e soluções adicionais, contribuindo verdadeiramente para uma solução ou necessidade. Na minha perspetiva, a inovação faz-se com espírito aberto ao desafio e sem preconceitos quanto à ferramenta que podemos encontrar. No caso concreto da EntoGreen, inovamos por apresentar soluções alternativas na valorização de subprodutos vegetais, como o bagaço de azeitona, através da utilização de uma ferramenta biológica muitas vezes negligenciada, os insetos. Fazemo-lo ainda criando valor, ao trazer de volta à cadeia de valor nutrientes que de outra forma seriam desperdiçados.
“(…) a liderança efetiva passa ainda pelo empoderamento e pela promoção do crescimento de todos e cada um dos elementos da equipa”.
Qual a competência fundamental para exercer a liderança nos dias de hoje?
Para mim a competência fundamental para a liderança é a capacidade de ouvir, estando atento aos diferentes desafios que a nossa equipa vai apresentando, direta ou indiretamente. Para mim, a liderança efetiva passa ainda pelo empoderamento e pela promoção do crescimento de todos e cada um dos elementos da equipa. Porém, é necessário compreender as dinâmicas de desenvolvimento da equipa por forma a poder tirar o melhor de cada um, estando aberto à nossa própria aprendizagem a todo o momento.
(…) Agenda Mobilizadora (…) visa o investimento de cerca de 43 milhões de euros no desenvolvimento de um novo setor bioindustrial em Portugal”.
Uma ideia que gostava de implementar?
Felizmente tem-me sido possível implementar algumas das minhas ideias, tanto no que diz respeito às tecnologias que a EntoGreen tem desenvolvido como na criação de um novo setor bioindustrial em Portugal. Na verdade, a ideia que gostaria de implementar e que está a começar a ganhar forma é representada pela Agenda Mobilizadora InsectERA.
Esta Agenda Mobilizadora, liderada por mim e financiada no âmbito do PRR, visa o investimento de cerca de 43 milhões de euros no desenvolvimento de um novo setor bioindustrial em Portugal. Este plano de industrialização, de criação de competências e de investigação, deverá permitir criar mais de 140 postos de trabalho, instalar quatro novas unidades bioindustriais e criar mais de 100 novos produtos, processos e serviços. Serão gerados, transmitidos e aplicados novo conhecimento na área bioindustrial dos insetos criando valor assente em sustentabilidade económica, social e ambiental.
Que argumentos não devem faltar numa start-up para atrair investimento?
Na EntoGreen os argumentos que levaram a que os nossos investidores apostassem na nossa equipa e tecnologia foram a confiança e competência. Apesar de sermos uma empresa bioindustrial que requeria um investimento significativo para a sua primeira unidade, a nossa tecnologia e capacidade de multiplicação, assim como o papel que desempenhamos na sociedade e setor agroindustrial, falaram por nós. Porém, mesmo com uma tecnologia validada, com um impacto claro no setor, e com uma procura pela tecnologia crescente, o que fez a diferença no momento do investimento foi a demonstração clara da nossa confiança e competência.
“Numa fase inicial de uma start-up, e a fase inicial pode ser bem longa, é central assegurar que a equipa é versátil e que se consegue manter alinhada”.
Erros que as start-ups nunca devem cometer?
Uma start-up é por natureza uma empresa, ou projeto empresarial, em crescimento e redefinição constante. O seu maior ativo são sempre as pessoas, que contribuirão para o crescimento da empresa e tecnologia. Assim, a equipa tem que ter o perfil certo e estar muito centrada na partilha da visão da empresa, sendo também fundamental que seja versátil e capaz de se adaptar a alterações constantes. O projeto vai precisar de pessoas que façam de tudo durante o seu arranque e que estejam altamente motivadas.
Embora a contratação de membros experientes que tragam competências empresariais superiores possa ser ambicionado pelas start-ups, muitas vezes estes elementos vêm de empresas fortemente estruturadas e com procedimentos e processos muito bem definidos. Tudo o que uma star-up não é.
Da minha experiência, estes elementos nem sempre se adaptam facilmente, procurando rever na start-up aquilo que esperam numa empresa cimentada e com dezenas de anos de história. Este choque de realidades cria facilmente desafios na medida em que a start-up pode tentar ir ao encontro das necessidades apresentadas por estes novos membros da equipa, mas naturalmente vai-se sentir impedida devido à dinâmica e adaptabilidade que a caracterizam. Ou seja, embora a identificação e captação de talentos e competências seja chave, há que assegurar a partilha de visão e a capacidade de adaptação à realidade presente do projeto empresarial. Numa fase inicial de uma start-up, e a fase inicial pode ser bem longa, é central assegurar que a equipa é versátil e que se consegue manter alinhada.








