10 lições de quem mudou de carreira com sucesso

Mudar de profissão é uma obrigação de quem não se sente feliz e realizado no trabalho. Por isso, fique com as 10 lições de Joseph Liu, consultor de mudança de carreira, que aconselha a confiar nos instintos, “pois estes podem apontar para uma direção que lhe interessa, mesmo que não de forma lógica”.

“Os períodos mais conturbados da minha vida foram quando fiz uma grande mudança: quando troquei a faculdade de medicina pelo mundo dos negócios, quando mudei de São Francisco para Londres e quando deixei o mundo corporativo para abrir a minha consultora. Sim, mudar de profissão envolve mais atrito e risco do que seguir uma trajetória profissional linear. Após experimentar os altos e baixos emocionais das minhas mudanças nas últimas duas décadas, agora estou focado em entender o que é preciso para qualquer pessoa se reinventar com sucesso”. Começa por explicar Joseph Liu, consultor de mudança de carreira, à Forbes.

Nos últimos anos, Liu conversou com centenas de pessoas sobre o assunto e entrevistou pessoalmente mais de 50 profissionais de dez países e cinco continentes, de várias idades, setores e cargos, que com ele partilharam as suas histórias no seu podcast “Career Relaunch”.

Com base nos testemunhos que recolheu, apontou 10 lições sobre o que é preciso para relançar a carreira com sucesso. Ora veja.

1. Aceite: não existem atalhos
“Sempre que tentei tomar uma nova direção, levei mais tempo que o esperado. Vivi três anos de confusão e reflexão para descobrir o que queria fazer após sair da faculdade de medicina, três anos que foram seguidos por outros dois de estudos em administração de empresas, a direção que escolhi seguir”, conta Liu.

Stephen Satterfield, o dono de um restaurante que fundou a revista de alimentos “Whetstone”, diz que os sucessos da noite para o dia não acontecem com frequência. “Qualquer projeto bem-sucedido é produto de um trabalho árduo, dia após dia, mês após mês, ano após ano, até que haja um avanço significativo”. A sua aventura para se tornar redator e editor foi repleta de desafios, mas ele continuou a esforçar-se e a prosperar.

Conselho de Liu: Prepare-se para correr uma maratona em vez de uma caminhada, porque, embora os atalhos sejam úteis, serão raros quando estiver a mudar de profissão.

2. Mantenha um ritmo consistente
A maioria das mudanças na carreira de Liu resultou de passos consistentes e demorados, não de eventos repentinos.

Anne Tumlinson, ex-vice-presidente de uma empresa de consultoria de políticas de saúde que fundou a comunidade Daughterhood, vê a dificuldade como parte inevitável de qualquer mudança. “Só porque algo é difícil, não significa que tenha falhado. O progresso tem menos a ver com talento do que com tempo, esforço, comprometimento e consistência”, frisa. Essa mentalidade ajudou-a a tornar-se numa consultora independente e a construir uma comunidade de mulheres comprometidas a apoiarem-se umas às outras, principalmente no cuidado aos pais idosos.

Conselho de Liu: Comprometa-se com um ritmo consistente e constante para superar obstáculos, que surgem inevitavelmente quando deixa um emprego.

3. Tome pequenas atitudes, mesmo que sejam imperfeitas
Liu diz que gosta de fazer planos. Prefere ter um planeamento sólido, delineando as possíveis eventualidades, antes de agir. Por essa razão, as suas mudanças de carreira foram tão conturbadas: muitas vezes, quando teve de dar um passo, ainda não tinha analisado e estudado todo o cenário.

Chris Donovan, que trabalhou 25 anos como reparador de telefones, deu pequenos passos guiados pelo seu interesse por sapatos, embora não soubesse exatamente onde chegaria. Começou por estudar design de calçado em Nova Iorque. Ao ver odesign de Donovan, o professor desafiou-o a levar o sonho a sério. Sem experiência, candidatou-se e entrou para o Instituto Polimoda, em Florença (Itália), como um estudante prodígio. “A maioria dos alunos tinha 20 e poucos anos, e eu, 55. Eu era mais velho que os professores”, afirma.

Donovan completou o programa e, depois de encontrar um fabricante, trabalha agora na produção da sua primeira linha de sapatos femininos de alta qualidade.

Conselho de Liu: Um salto de confiança pode ser assustador, mas necessário para abrir novas portas.

4. Experimente sem criar expetativas
Às vezes, Liu diz que tem receio de investir tempo em algo, a menos que tenha a certeza de que valerá a pena. Esta atitude pode virar um ciclo vicioso: como saber se algo vale a pena até tentar?

Desiludida com a sua vida de advogada corporativa, Vicky Dain demitiu-se e dedicou algum tempo a pensar em outras profissões. “Só terei realmente respeitado as minhas ideias quando as tiver levado adiante”, pensou. Dain passou meses a experimentar uma série de interesses, desde escrever a cozinhar. Foi assim que percebeu que gostava de trabalhar em contato com pessoas. E decidiu enveredar pela psicologia clínica.

Conselho de Liu: Deixe as opiniões e as expetativas para depois. Primeiro tente. Só desse modo pode ignorar noções preconcebidas e focar-se no que interessa.

5. Valorize a sua decisão
Ao candidatar-se a uma vaga em marketing, Liu desculpava-se com a falta de experiência na área. Mas rapidamente apercebeu-se que essa não era a postura correta e que não o ajudava nas entrevistas de emprego.

Sandeep Johal costumava criticar o próprio trabalho e o próprio potencial para seguir a carreira na arte. Trocou a profissão de professora pela de artista. “Um dia, deixei de ser a minha maior crítica e tornei-me na minha maior fã”, explica, acrescentando que esse pensamento inspirou ações e resultados mais positivos na sua vida. “Se é apaixonado por algo que o satisfaz, vá em frente. Eu passei muito tempo sem fazer o que gostava de fazer”.

Conselho de Liu: Para se destacar num novo setor é preciso acreditar que tem qualificações e é único. Afinal, o seu histórico é diferente dos outros. Siga em frente com confiança.

6. Elabore uma nova narrativa
Descrever-se a si mesmo em tempos de mudança é difícil. Quando Liu tentou deixar de ser consultor em saúde para apostar na área de marketing, teve de destacar as suas realizações em saúde, tanto no currículo como nas entrevistas. No entanto, isto qualificava-o como alguém da área de saúde, setor do qual tentava se afastar.

Reescrever a própria narrativa é um desafio para muitos que querem mudar de profissão. Krishelle Hardson-Hurley começou a trabalhar como professora, mas decidiu dedicar-se à engenharia de tecnologia. Investiu muito tempo a elaborar a sua narrativa pessoal para se posicionar como candidata atraente, apesar de não ter experiência na indústria de tecnologia. “Perante pessoas que poderiam me dar uma oportunidade, eu sabia contar bem a minha história porque a tinha escrito, e conseguia comunicar as minhas ambições de forma eficaz”, conta. Hardson-Hurley impressionou e foi contratada pelo DropBox.

Conselho de Liu: Se quer mudar de profissão, invista tempo e esforço a elaborar a sua narrativa para que os outros possam ligar os pontos entre o que fez e o que quer fazer.

7. Não se limite à rede de contactos já existente
Uma vez, o empreendedor Jim Rohn disse a Liu: “Você é uma combinação das cinco pessoas com quem passa mais tempo”. Depois de ouvir esta frase, Liu descobriu que isso é verdade. Quando decidiu deixar o marketing corporativo para abrir a sua consultora de carreira, sentia-se mais à vontade com colegas do marketing. “Sentia-se como um impostor junto dos outros empreendedores, mas estar perto deles lançou-me no caminho que eu queria seguir”, frisa.

Quando Adrian Knight pensou em deixar o seu trabalho como recrutador, muitas das pessoas dos seus círculos mais próximos disseram que ele não se deveria afastar do seu emprego estável – e isso convenceu-o a sair: “Olhei para a vida das pessoas ao meu redor e percebi que não era o que eu queria para mim”. Knight acabou por ignorar o conselho da sua rede de contatos e fundou a própria empresa de recrutamento.

Conselho de Liu: Procure rodear-se de pessoas alinhadas com o seu futuro, não apenas com o passado.

8. Defina os seus limites e seu ponto de mudança
Uma das primeiras lições que Liu aprendeu foi a de definir os seus limites e o seu ponto de mudança antes de qualquer negociação. “Percebi que estou sempre a negociar comigo mesmo sobre o que é e o que não é aceitável. Por exemplo: sempre valorizei o equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal, mas já passei por muitos períodos em que tolerei chegar tarde a casa e trabalhar aos fins de semana”, declara.

A ex-tenista profissional Rina Einy passou a primeira parte da sua vida como jogadora a conquistar títulos de destaque internacional. Chegou a representar a Grã-Bretanha nas Olimpíadas de 1988. No entanto, depois dos jogos, decidiu mudar e seguir uma carreira corporativa. “Eu não precisava de provar mais nada a ninguém ou a mim mesma. Só não queria mais fazer aquilo”, conta. Einy ligou ao treinador e disse que não voltaria a jogar. Frequentou a Escola de Economia e Ciência Política de Londres e conseguiu um emprego na JP Morgan, em Wall Street. Hoje, Rina é diretora administrativa da Textyle International e fundadora da Culthread London.

Já Julian Mather deixou de ser atirador de elite do exército australiano para trabalhar como cinegrafista de televisão. Atribui a sua capacidade de mudar radicalmente ao afastamento que teve do passado.

Conselho de Liu: Para começar um novo capítulo na sua carreira, defina qual será o seu limite e o seu ponto de vista. Comprometa-se consigo mesmo e a seguir em frente.

9. Procure energia em vez de paixão
Nenhuma das mudanças na carreira de Liu envolveu seguir a sua “paixão”. “Na verdade, eu descobri que a palavra paixão é inadequada para definir rumos profissionais. Em vez disso, investi tempo a usar os meus pontos fortes e a fazer coisas que me interessavam, mesmo que não atingissem o nível de uma verdadeira paixão”, afirma Liu.

Zai Divecha, que estava ligada ao setor do software, começou a pensar em mudar de profissão ao perceber que se sentia mais motivada por projetos paralelos que pelo seu trabalho diário. Ela tinha criado uma equipa de ciclismo para angariar fundos e adorava o sentimento e a energia que tinha quando construía algo próprio. “Eu sabia que queria trabalhar para mim mesma e sabia que queria ser criativa. Mas não tinha um plano exato”, conta.

Pensar nas atividades que lhe davam energia ajudou-a a descobrir o queria fazer: “Eu sempre fiz coisas com as mãos no meu tempo livre, desde criança. É quando me sinto mais envolvida e focada.” Depois de passar um ano a explorar ideias com outros artesãos, Zai lançou o seu próprio estúdio de design e agora cria esculturas de papel.

Conselho de Liu: Descubra como realizar mais trabalhos que lhe podem trazer energia.

10. Confie nos seus instintos
Liu descrevia-se como um indivíduo lógico, um planeador. Nenhuma das suas mudanças de profissão, porém, foi uma atitude racional ou lógica..

Audrey Lemargue, que tinha sido gerente de exportação de cosméticos e que hoje é nutricionista, usou os próprios sentimentos como bússola na sua mudança de profissão. “Ao perceber que me queria tornar numa naturopata, não me importei com o que as pessoas pensavam”, diz.

Conselho de Liu: Confie na intuição: ela aponta para uma direção que o honra, mesmo quando não parece ser a forma mais lógica.

Comentários

Artigos Relacionados

José Pedro Freitas, presidente da ANJE
Miguel Pina Martins, fundador da Science4you