Os tempos áureos das start-ups estão a chegar a um fim

Será que o final da era das start-ups está já ao virar da esquina?

Alguns dados mostram que sim, que o tempo áureo das start-ups pode mesmo estar a chegar ao fim. Isto numa altura em que todos os países e cidades sonham em ter uma incubadora e em que os locais com o tecido empresarial mais desenvolvido se podem dar ao luxo de desenvolver aceleradoras como a de Paul Graham, a Y Combinator.

As cidades sonham em tornar-se a próxima Silicon Valley, os próximos destinos dos grupos de engenheiros que procuram locais onde possam inovar e criar o novo Facebook, os novos Yahoo!, Uber, Airbnb, Amazon, Alibaba, Instagram… Estamos numa era em que as palavras “disrupção” e “inovação” podem ser utilizadas em qualquer setor e em qualquer aspeto da nossa economia.

As grandes empresas estão condenadas ao fracasso porque, eventualmente, vai aparecer uma start-up com um modelo de negócio mais apetecível para os investidores e que vai conseguir arrecadar mais clientes que os gigantes já presentes no mercado. Esta é a tendência, certo?

Não. A próxima década vai favorecer os grandes. E quem são os grandes? As empresas criadas no boom da Internet, como a Google, o Facebook e a Amazon. Estas três últimas marcas, a par com a Coca-Cola, a Apple e a Microsoft, são as que mais valor de mercado têm hoje em dia, segundo a lista da Forbes.

O boom da Internet criou gigantes que conseguiram capitalizar na nova invenção. Como a Internet era algo de novo, um grupo de miúdos juntava-se numa garagem, criava um site, arrecadava uns quantos milhões e desenvolvia o negócio para poder abranger o resto do mundo.

A invenção dos smartphones levou start-ups como a Uber, o Snapchat, o WhatsApp e o Instagram, por exemplo, a tomarem conta do mercado e a atingirem valores astronómicos. Isto aconteceu pela mesma razão que o boom da Internet.

As empresas que adotam e tomam conta de novos mercados, criados a partir de novas invenções de hardware, tomam mais facilmente conta do mercado devido à falta de competição. Com isto, assumimos que no próximo mercado criado a partir de um novo hardware vão haver grupos de universitários numa garagem a desenvolver um novo software que vai mudar totalmente o mercado.

Em apenas 10 anos, as cinco maiores empresas em termos de capitalização do mercado mudaram totalmente, exceto a Microsoft. Duas delas estão ligadas à indústria do petróleo (Exxon Mobile e a Shell), outra aos serviços financeiros (Citigroup) e a General Electric (ligada também à indústria do petróleo, transportes, criação de software, entre tantas outras coisas). A diferença entre o início dos anos 2000 e o mundo atual é que as empresas já estão prontas e atentas ao próximo grande mercado.

A nossa dependência das maiores empresas de há cinco anos nada se compara com a dependência que temos dos gigantes que hoje ocupam o pódio. Senão vejamos: a Amazon, e as empresas homólogas de e-commerce,­ controlam a maneira como fazemos compras; o Google, a maneira como adquirimos conhecimento; e o Facebook, a maneira como comunicamos.

Mas voltando à próxima grande inovação que vai mudar o mercado, tal como a Internet e os smartphones mudaram. O futuro próximo no mundo tecnológico passará, muito provavelmente, pela inteligência artificial (IA), pelos carros que se conduzem sozinhos, pela Internet of Things (IoT) e pela realidade virtual/aumentada (RV/RA).

Mas eis algumas razões para os gigantes já estabelecidos na esfera tecnológica virem a controlar algumas das próximas revoluções neste mercado:

Inteligência artificial: não é uma tecnologia que precise dos melhores engenheiros do mundo. A única dificuldade deste setor é precisar de toneladas de dados que alimentem a tecnologia. E quem são as empresas que têm mais dados senão as que controlam a forma como compramos, aprendemos e comunicamos? O mercado de data vai também ser um dos mais fortes da próxima década e já há start-ups a tentarem combater a Google neste setor.

Carros autónomos: um mercado que já conta com a Tesla e outras grandes marcas e que, dificilmente, vai ser ocupado por uma start-up. O melhor cenário possível aqui é haver uma colaboração ou aquisição de uma das grandes companhias já estabelecidas.

Realidade virtual/aumentada: estes dois tipos de tecnologia estão bastante atrás do previsto há alguns anos e são um problema, tanto a nível de hardware, como de software. A Magic Leap, uma start-up deste setor, já recebeu investimentos superiores a 1,5 mil milhões de euros e, mesmo assim, ainda conseguiu desenvolver um produto. Por outro lado, o ARKit, da Apple, o HoloLens, da Microsoft, e o Cardboard, da Google, continuam a ser bem-sucedidos nas suas plataformas.

Estas tendências deixam as start-ups com pouco espaço nestes novos mercados e com a esperança de conseguirem ser adquiridas – em vez de engolidas – pelos titãs.

A partir daqui os grandes do mundo tech vão adquirir ainda mais poder e as start-ups vão ter ainda mais desafios à sua frente.

Isto não quer dizer que estamos próximos de um apocalipse no mundo das start-ups. Este tipo de empresas são, e vão continuar a ser, um bom canal de inovação nos mercados conservadores e de melhoria nos serviços à população, mas a ideia de que os próximos empreendedores vão criar a nova grande plataforma para competir com o Facebook, com a Google ou com qualquer outro gigante deste género, não podia estar mais errada.

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