Entrevista/ “Na avaliação de talento, os maiores desafios são a subjetividade e os vieses”

Helena Ravara, Head of Assessment & Advisory da Neves de Almeida – Search & Talent Advisory

Num contexto em que as empresas enfrentam escassez de talento e um ritmo de mudança acelerado, a avaliação e o desenvolvimento das pessoas tornam-se fatores críticos de sucesso. Helena Ravara, Head of Assessment & Advisory da Neves de Almeida – Search & Talent Advisory, explica como o Assessment pode ser uma poderosa ferramenta de decisão estratégica e apresenta as soluções que ajudam as organizações a “conhecer melhor para decidir melhor”.

Com um percurso que alia a curiosidade pelo comportamento humano à experiência em avaliação psicológica, recrutamento e executive search, Helena Ravara integra desde 2017 a equipa da Neves de Almeida, onde atualmente lidera a área de Talent Assessment & Advisory. A especialista defende que conhecer profundamente as pessoas, as suas competências e motivações é a base para decisões mais justas, humanas e transformadoras nas empresas.

Em entrevista ao Link to Leaders, fala sobre o papel do Assessment na gestão de talento, apresenta as soluções RISE, NEXT, MATCH, ASCEND e DRIVE, e explica porque é que, hoje, confiar apenas na intuição já não chega.

Pode contar um pouco sobre o seu percurso e como chegou à área de Talent Assessment & Advisory da Neves de Almeida?

Sempre tive curiosidade em compreender o comportamento das pessoas e a forma como as organizações se constroem por meio delas. Após experiências em avaliação psicológica, recrutamento e executive search em empresas multinacionais, integrei a Neves de Almeida em 2017, como Partner na área de Executive Search e continuando a dar o meu contributo em Assessment. Após a aquisição pela Cegoc / Grupo Cegos, passei a liderar a área de Talent Assessment & Advisory, um desafio exigente, mas profundamente recompensador.

“O Assessment surge como uma metodologia essencial para garantir decisões imparciais e transparentes”.

Qual é, na sua opinião, o papel do Assessment na gestão de talento nos dias de hoje?

As empresas necessitam de informação objetiva e fidedigna sobre o perfil de competências, soft skills e motivações dos seus colaboradores, para tomarem decisões mais fundamentadas e justas, seja em relação à mobilidade interna, à progressão de carreira, à prontidão para novos desafios, à alocação a novos projetos ou à entrada em programas de desenvolvimento. O Assessment surge como uma metodologia essencial para garantir decisões imparciais e transparentes. Por meio da identificação de pontos fortes e áreas de melhoria, é possível delinear planos de desenvolvimento, formações, ações de coaching e outras iniciativas, assegurando uma gestão de talento verdadeiramente eficaz.

A Neves de Almeida lançou recentemente a campanha “Conhecer melhor. Decidir melhor.”. Qual é a mensagem central que querem transmitir com esta iniciativa?

“Conhecer Melhor” é o primeiro passo para “Decidir Melhor”. Quanto mais profundo e objetivo for o conhecimento sobre as pessoas, as suas competências e motivações, mais assertivas, humanas e transformadoras serão as decisões. Esta iniciativa reforça a importância de conhecer os outros e de se conhecer a si próprio, pois o autoconhecimento é também um resultado valioso do processo de Assessment. Essa clareza gera impacto nas decisões de talento, seja em contratação, promoção, sucessão ou desenvolvimento.

Porque é que confiar apenas na intuição já não é suficiente na gestão de talento?

Num contexto empresarial cada vez mais complexo e competitivo, as decisões baseadas em dados e evidências comportamentais são essenciais. A intuição pode ter algum valor, mas não pode ser o critério. O Assessment complementa a intuição com rigor científico, reduzindo vieses e aumentando a justiça e a eficácia das decisões.

O portefólio inclui cinco soluções. Pode explicar brevemente como cada uma responde a desafios concretos de talento?

O RISE foi criado para identificar e desenvolver talento emergente, apoiando jovens profissionais a crescer e envolvendo-os com a empresa. Já o NEXT destina-se a identificar colaboradores prontos para o próximo passo, facilitando a tomada de decisões de progressão. Com o MATCH, apoiamos decisões de recrutamento e de mobilidade interna, assegurando o alinhamento entre a pessoa e a função. O DRIVE centra-se em equipas comerciais, impulsionando a sua performance e o seu desenvolvimento comportamental. Por fim, o ASCEND foca-se na liderança formal e informal, ajudando a compreender e a fortalecer a forma como os líderes inspiram, mobilizam e geram impacto.

“As novas gerações valorizam o desenvolvimento rápido, o feedback contínuo e experiências diversificadas”.

Que tipo de impacto o Rise traz às empresas que recebem jovens talentos ou high potentials?

As novas gerações valorizam o desenvolvimento rápido, o feedback contínuo e experiências diversificadas. O RISE ajuda as empresas a reconhecer e envolver estes jovens, demonstrando interesse genuíno pelo seu crescimento, proporcionando-lhes feedback e ferramentas para evoluir. Assim, potenciamos o seu talento, aumentamos o engagement e fortalecemos a capacidade da empresa para reter e desenvolver os futuros líderes.

Quanto ao NEXT, como é que esta solução ajuda os colaboradores experientes a evoluir sem comprometer engagement ou retenção?

O NEXT foi concebido para apoiar decisões de progressão de carreira, pois não se pode considerar apenas o desempenho atual, mas também o potencial de evolução. Mesmo sem uma posição em aberto, o processo de Assessment demonstra ao colaborador que a empresa acredita no seu futuro e investe no seu desenvolvimento, o que naturalmente reforça o engagement e a retenção.

O MATCH é focado em colocar a pessoa certa no lugar certo. Que erros comuns esta solução ajuda a evitar e que benefícios gera para as organizações?

Muitos insucessos nas contratações não decorrem de lacunas técnicas, mas de dificuldades de adaptação cultural ou comportamental. O MATCH ajuda a evitar esses erros, que podem custar até cinco vezes o salário anual de um colaborador, considerando perdas de produtividade, da moral da equipa e da reputação. Com o MATCH, as empresas tomam decisões de contratação e mobilidade mais seguras, estratégicas e sustentáveis.

“Os líderes são determinantes para transformar a estratégia em resultados. São quem inspira, mobiliza e desenvolve equipas (…)”.

Sobre o ASCEND, de que forma a avaliação do potencial de liderança contribui para formar líderes alinhados com a estratégia da empresa?

Os líderes são determinantes para transformar a estratégia em resultados. São quem inspira, mobiliza e desenvolve equipas, garantindo o alinhamento com os objetivos organizacionais. O ASCEND permite identificar power skills críticas de liderança e apoiar o desenvolvimento dos líderes para que contribuam de forma mais efetiva para o crescimento do negócio e das pessoas.

E como é que o DRIVE impulsiona a performance comercial e melhora o engagement das equipas de vendas?

As equipas comerciais enfrentam desafios constantes, como novos mercados, produtos e clientes. O DRIVE permite compreender o perfil comportamental dos comerciais, avaliando a sua prontidão para cada desafio. Com base nisso, podem ser desenhadas ações de desenvolvimento personalizadas, que resultam em melhor performance, reconhecimento e motivação, traduzindo-se em maior engagement e resultados sustentáveis.

Quais são os principais desafios que as empresas enfrentam hoje em termos de avaliação e desenvolvimento de talento?

Na avaliação de talento, os maiores desafios são a subjetividade e os vieses. Para superá-los, utilizamos instrumentos científicos e rigorosos, aplicados por Assessors experientes e formados, com critérios de avaliação objetivos e consistentes. Outro desafio é a comunicação: o processo deve ser claro, transparente e centrado no desenvolvimento. Trabalhamos com os clientes para garantir isso e, nas sessões de feedback com os participantes no Assessment, privilegiamos uma abordagem positiva e construtiva.

Já no desenvolvimento de talento, os principais desafios estão na necessidade de feedback contínuo, reconhecimento e oportunidades claras de crescimento. O Assessment permite identificar potencial, dar feedback estruturado e apoiar trajetórias de desenvolvimento, essenciais num mundo em rápida transformação e digitalização.

Na sua experiência, quais são as tendências emergentes em Assessment que os líderes de RH e de negócio devem acompanhar?

As soluções de Assessment estão a tornar-se cada vez mais digitais, rápidas e interativas. A simulação e a gamificação ganham destaque, especialmente entre as novas gerações. Há também uma forte valorização de processos transparentes, inclusivos e com feedback individualizado, bem como a crescente integração da inteligência artificial.

Como é que a Neves de Almeida garante que estas soluções são fáceis de implementar e com resultados mensuráveis para os clientes?

Estas soluções estão pré-desenhadas e prontas a serem aplicadas, o que facilita a implementação. Com cada cliente, é possível definir indicadores mensuráveis, como sucesso na nova função, evolução de competências, melhoria do desempenho, redução da rotatividade ou aumento do Engagement, garantindo impacto real e monitorizável.

Existe alguma recomendação geral para empresas que querem começar a usar Assessment de forma estratégica e eficiente?

Antes de iniciar qualquer Assessment, é essencial definir objetivos claros: o que se quer medir e para que finalidade. Depois, é preciso agir com base nos resultados, traduzindo as conclusões do Assessment em decisões e planos concretos. Sem ação consequente, o Assessment torna-se apenas um custo; com ações concretas, transforma-se numa ferramenta poderosa de crescimento organizacional e humano.

Se pudesse deixar uma mensagem aos líderes e decisores de RH, qual seria, sobre a importância de conhecer melhor para decidir melhor?

Num país como Portugal, com desafios demográficos, escassez e fuga de talento, o Assessment, mais do que uma avaliação, é um instrumento de desenvolvimento e diferenciação empresarial. Permite tomar decisões justas, assertivas e sustentadas, potenciando o crescimento dos colaboradores e, consequentemente, das organizações, além de contribuir positivamente para o seu clima e employer branding. Em última análise, “Conhecer Melhor para Decidir Melhor” é investir no futuro das pessoas, das equipas e das empresas.

 

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