Dilema das mães: progressão na carreira ou licença de maternidade?

Uma equipa de investigadores descobriu uma nova forma de contornar as potenciais penalizações que as mães sofrem na carreira devido à licença de maternidade.

O que é mais importante para uma mãe trabalhadora? A contínua progressão na carreira ou ter uma licença de maternidade mais longa para poder cuidar mais tempo do seu bebé recém-nascido? À primeira vista estas duas opções não deviam entrar em conflito, especialmente em sociedades mais desenvolvidas, mas a verdade é que estas duas variáveis continuam a colidir.

Desde o começo do século XXI que os países desenvolvidos têm criado diferentes iniciativas para melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal dos pais trabalhadores, com vista a melhorar a relação pais-filho. Este tipo de regalias são especialmente visíveis em países do Norte da Europa ou do Canadá, onde são dadas 61 semanas às mães de recém-nascidos – em Portugal é atribuída uma licença de até 150 dias (cerca de 21 semanas). Isto não só é importante na redução do stress maternal, como também na redução da taxa de mortalidade infantil.

Apesar da intenção associada a medidas ser positiva, há um lado “negro” associado às licenças parentais mais alargadas. Um estudo recente, efetuado em vários países, mostra que quando voltam ao emprego, as mães que decidem prolongar a estadia com os seus filhos recém-nascidos acabam por ser penalizadas pelo tempo que estiveram ausentes.

Quanto mais tempo estiverem fora do trabalho, menor a probabilidade de serem promovidas, de passarem para um cargo de gestão ou de receberem um aumento salarial. Por outro lado, aumentam as hipóteses de serem despedidas ou despromovidas. Para além disso, a extensão da licença de maternidade influencia a forma como os colegas de trabalho veem o seu empenho – quando comparadas com as que tiram pouco tempo de licença de maternidade, as mães que se ausentam por períodos mais extensos são vistas como menos empenhadas.

Estas condições criam dificuldades ao equilíbrio entre a vida profissional e maternal e foi com isso em mente que quatro investigadores (três canadianos e um australiano) tentaram descobrir quais eram os fatores que conduziam às consequências negativas associadas a licenças mais prolongadas – o estudo completo está publicado no Journal of Applied Psychology.

A equipa começou por perceber se a intenção de contratação por parte de empregadores mudava consoante o período em que as mães estavam fora, colocando frente-a-frente mães que se ausentaram durante 12 meses (algum comum no Canadá) contra mães que só ficaram de licença um mês. Os investigadores chegaram à conclusão de que as mulheres que estavam afastadas mais tempo eram as menos desejadas pelo mercado de trabalho – independentemente dos recrutadores serem homens ou mulheres.

Após esta conclusão, a equipa tentou descobrir uma forma de voltar a incluir mais facilmente as mães recentes no mercado de trabalho. Nesta exploração, descobriram que tanto as perceções negativas sobre o empenho, como a predisposição do mercado de trabalho para as voltar a receber, pode ser ultrapassada através de uma carta de recomendação do último supervisor. Ou seja, quando uma carta deste género era anexada ao currículo, os recrutadores não discriminaram as mães que prolongaram as suas licenças em prol das que se ausentaram durante menos tempo.

Outro resultado interessante descoberto pela equipa é o sucesso dos programas “keep in touch”: iniciativas que visam que as grávidas e mães recentes mantenham o contacto com a empresa durante a sua ausência. Isto passa por ter um colega de trabalho que faça as atualizações sobre os clientes, colegas e projetos que estão a ser desenvolvidos pela empresa. Uma experiência com perto de 560 pessoas revelou que as mulheres que tiraram 12 meses de licença de maternidade e que participaram ativamente no programa eram vistas como mais empenhadas – quando comparadas com as que não mantiveram o contacto com a empresa.

É relevante referir que apesar do estudo ser internacional, ambas as soluções previstas pelos investigadores são facilmente aplicáveis em Portugal, onde apesar de haver menos tempo dedicado às licenças de maternidade existe discriminação por parte do mercado de trabalho em relação às mulheres que se tornaram mães.

Leia ainda: “Porque as mães são melhores empreendedoras“.

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