Educação financeira: como preparar os mais jovens para o mundo digital

Com o dinheiro cada vez mais digital e os riscos online a crescer, a Kaspersky alerta para a importância de combinar educação financeira com cibersegurança, capacitando os jovens portugueses a gerir o dinheiro de forma responsável e segura.

A época de regresso às aulas não se resume apenas a livros e uniformes novos, é também um momento crucial para criar hábitos saudáveis que permanecerão com as crianças por toda a vida. É neste contexto que a educação financeira se torna relevante, defende a Kaspersky.

Segundo a empresa, a forma como as crianças interagem com o dinheiro mudou drasticamente, por isso devem aprender o seu valor. Se as crianças não estiverem cientes dos riscos online, mesmo uma sólida educação financeira não as protegerá contra phishing disfarçado de brindes, ofertas falsas em jogos, renovações de assinaturas dissimuladas ou roubo de identidade.

Ao integrar a educação financeira com a proteção digital, os pais podem preparar os seus filhos não só para gerir o dinheiro de forma inteligente, mas também para se defenderem contra as ciberameaças que os rodeiam, refere.

De acordo com dados da OCDE, provenientes do PISA 2022 (Programme for International Student Assessment), os alunos portugueses apresentam um desempenho em literacia financeira de 494 pontos, estatisticamente alinhado com a média dos 14 países da OCDE que participaram neste domínio (498 pontos) – Portugal encontra-se em 9º lugar dos 20 países e economias que participaram neste estudo.

Apesar de acompanhar os níveis da maioria dos países da Europa, e de 84,5% dos alunos portugueses atingem o nível básico de literacia financeira, apenas 30% dos jovens portugueses inquiridos releva ter tido contacto com atividades de literacia financeira e conceitos sobre esta temática.

Tendo em conta este cenário, os especialistas da Kaspersky recomendam que a sensibilização destes conceitos comece em casa, com os pais a transmitirem alguns conhecimentos aos seus filhos sobre como gerir o seu dinheiro de forma responsável e segura.

1. Estabeleça limites

Ajudar as crianças a compreender os limites é o primeiro passo para desenvolver disciplina financeira e consciência digital. Comece por estabelecer uma estrutura orçamental básica para as despesas típicas do seu filho:

  • Material escolar
  • Comida ou dinheiro para o almoço
  • Compras relacionadas com desporto ou passatempos
  • Entretenimento (aplicações, jogos)

Em vez de controlar minuciosamente cada compra, converse sobre percentagens. Por exemplo: “70% é para despesas relacionadas à escola, 20% para entretenimento e 10% para poupança”.

Aproveite esta oportunidade para introduzir a educação financeira digital: explique como compras dentro de aplicações, microtransações ou taxas ocultas podem fazer com que o dinheiro não chegue para cobrir todas as despesas.

Para além disso, incentive à poupança: se as crianças não desenvolverem esse hábito da poupança desde cedo não o conseguirão fazer na sua vida adulta – estudos comprovam que 2 em cada 3 portugueses não conseguem poupar 10% do seu salário. As famílias portuguesas estão entre as que menos poupam na europa, muito motivado não só pelos salários baixos e custo de vida, mas também pela falta de literacia financeira.

2. Opte por métodos de pagamento seguros

Embora dar dinheiro às crianças possa parecer simples, traz desvantagens óbvias, pois pode acabar perdido, roubado ou gasto sem qualquer controlo. Apesar das vantagens evidentes, de acordo com o PISA 2022 apenas 38% dos jovens em Portugal tem conta bancária, um valor bastante abaixo da média europeia (62%).

A criação de uma conta bancária é a opção mais segura, sendo que existem soluções adequadas às crianças e jovens, com controlos parentais integrados e acesso a cartão de débito. Estas contas disponibilizam a possibilidade de definir limites de gastos, enviam notificações instantâneas de compras, acompanham transações em tempo real e bloqueiam certas categorias, como mercados online ou plataformas de jogos. Desta forma, as crianças continuam a desfrutar da independência de gerir o seu próprio dinheiro, mas os pais têm a garantia de supervisão, podendo assim controlar os seus gastos.

Igualmente importante é proteger o ambiente digital onde estes pagamentos são efetuados. As aplicações bancárias e as lojas online podem tornar-se alvos de cibercriminosos, pelo que é essencial instalar uma solução de cibersegurança que inclua navegação segura e proteção de pagamentos seguros.

3. Proteja dispositivos e contas financeiras

As crianças podem não compreender totalmente a importância da segurança das contas, mas uma password fraca ou um dispositivo roubado pode expor todas as suas ferramentas financeiras.

Como pai ou mãe, pode fazer o seguinte:

  • Ative a autenticação de dois fatores (2FA) para todas as aplicações que possam ser usadas para compras online.
  • Escolha um gestor de password que armazena credenciais com segurança e permite o acesso da família se algo der errado
  • Sensibilize os seus filhos sobre os princípios básicos de passwords fortes: incluir pelo menos 12 caracteres, evitar nomes ou datas de nascimento e não reutilizá-las em diferentes plataformas.

Ao transformar esses hábitos em práticas diárias, dará ao seu filho as ferramentas para manter as suas finanças e os seus dados pessoais seguros.

A sensibilização para estes temas deve começar tanto em casa como nas escolas, onde os jovens passam a maioria do seu tempo. O Orçamento de Estado Português para 2025 (OE2025) prevê a implementação do Programa Nacional de Literacia Financeira para Jovens, que tem como principal objetivo capacitar os jovens para gerir poupanças, crédito e o planeamento financeiro de forma adequada às suas fases de vida.

4. Acompanhe as assinaturas e cobranças recorrentes

Uma das maneiras mais fáceis para as crianças perderem o controlo dos seus gastos é através das assinaturas para jogos e aplicações. Atualmente, muitos jogos, ferramentas de aprendizagem e serviços de streaming utilizam modelos de pagamento recorrente em vez de compras únicas. Uma criança pode inscrever-se num “teste gratuito” sem perceber que este se converterá automaticamente numa cobrança mensal assim que o período de teste terminar. Como essas taxas são pequenas e recorrentes, muitas vezes passam despercebidas até que o saldo se esgote ou um dos pais verifique a conta.

Algumas dicas:

  • Garantir sempre que a criança usufrui de um teste gratuito e cancela a subscrição a tempo
  • Procurar as configurações de “renovação automática” e saber como cancelá-las
  • Definir lembretes no calendário para as datas do fim de teste gratuito

Os pais devem rever regularmente o histórico de compras na loja de aplicações e verifique a sua caixa de entrada de e-mail para ver se há notificações de renovação que possam ter passado despercebidas. Muitas aplicações bancárias e ferramentas de segurança também podem sinalizar cobranças recorrentes ou enviar alertas em tempo real para cada transação, facilitando o controlo dos gastos.

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