ConnectaFoods 25 destaca digitalização e inovação no setor agroalimentar

Especialistas do setor agroalimentar defendem que a sustentabilidade e a competitividade da indústria passam pela simbiose entre tecnologia e capital humano, desmistificando o “mito do emprego perdido”.
O futuro do setor agroalimentar português esteve em debate no Porto. Sob a chancela da PortugalFoods e em parceria com a ESI Robotics, a SES Energia e a AI Square, o Connecta Foods 25 colocou em cima da mesa os pilares que vão definir a competitividade do setor – tecnologia, energia e inovação.
O encontro, que juntou mais de uma centena de gestores e decisores, teve como objetivo central inspirar e capacitar os líderes para os desafios da dupla transição, digital e verde. Através de um programa intenso e focado, os oradores demonstraram, com casos práticos, como a adoção de tecnologias disruptivas é um passo fundamental para garantir eficiência, redução de custos e um futuro mais sustentável.
Uma visão de cluster para o futuro
Na sessão de boas-vindas, Amândio Santos, presidente da PortugalFoods, enquadrou a iniciativa como um “piloto” para pensar o setor de forma integrada. “Muitas vezes temos uma pessoa que se preocupa com a fatura da energia, outra que pensa em sistemas e outra em automatização. Este desafio é pensar em fileira. E hoje o que falamos é a fileira dos dados para a fileira agroalimentar”, disse, acrescentando que “acreditamos que hoje, Portugal e as empresas de agroalimentar têm a confiança para olhar para os mercados, sabendo que temos um foco que faz das nossas marcas embaixadoras. Mas só estarão presentes no futuro as empresas que demonstrarem que trabalharam estas várias dimensões”.
Da gestão de dados à automação no caminho para a eficiência
A sessão de trabalhos arrancou com uma análise concreta sobre o poder dos dados. Diogo Carvalho, da AI Square, sublinhou que a competitividade das empresas depende da capacidade de transformar informação em ação. “Na AI Square, gostamos de olhar para a Eficiência Global dos Equipamentos (OEE) através do tempo, e não da quantidade. É uma lei básica: não temos capacidade de produzir mais do que o tempo disponível. Convertendo o tempo em dinheiro, conseguimos dar inteligência acionável”, explicou, mostrando como a sua plataforma identifica em tempo real as paragens e desperdícios que mais impactam a produtividade.
A receita para a produtividade foi depois complementada por Igor Couto, da ESI Robotics, que destacou o papel da robótica e da automação industrial personalizada. “Os nossos principais ingredientes são eficiência, produtividade, flexibilidade, segurança e sustentabilidade. No mercado alimentar, com produtos sempre novos a surgir, é crucial ter uma fábrica não só automatizada, mas também facilmente adaptável”, frisou, defendendo que a automação liberta o ser humano de tarefas repetitivas e fisicamente desgastantes.
Energia descentralizada como uma oportunidade coletiva
No capítulo da sustentabilidade energética, Hugo Silva, da SES Energia, elucidou a audiência sobre o potencial das Comunidades de Energia Renovável: “São grupos de consumidores e produtores que se unem para produzir, consumir ou armazenar energia renovável, especialmente solar. Permitem poupanças entre 30% a 40% na fatura de eletricidade e dão acesso a energia verde sem investimento inicial por parte da empresa”. Este modelo, que promove a “democratização energética”, permite que uma fábrica, por exemplo, partilhe os seus excedentes de produção com vizinhos num raio de quatro quilómetros, valorizando a sua imagem e contribuindo diretamente para as metas de sustentabilidade.
O capital humano no centro da revolução tecnológica
Entre as intervenções do programa, destacou-se ainda a palestra de Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa, intitulada “O Mito do Emprego Perdido: O Valor da IA vs Valor Humano”. Num discurso fundamentado na sua experiência prática, que viu a sua empresa crescer de 1,8 milhões para 82 milhões de euros de faturação no decorrer de uma década, Ricardo Costa desafiou a narrativa do confronto entre pessoas e máquinas.
“Todos os dados indicam que 25% a 40% das atuais funções vão ser substituídas por inteligência artificial nos próximos 10 anos. Significa isso que 25% a 40% das pessoas vão ficar sem emprego? Não. Significa que vão ter que voltar ao banco das escolas”, afirmou. “Ninguém gosta de estar oito horas por dia a carregar sacos de 25 kg. Vamos deixar isso para os robôs. Ninguém gosta de estar oito horas por dia em frente a uma folha Excel a introduzir dados. Vamos deixar isso para a inteligência artificial. Vamos utilizar a nossa inteligência, a inteligência humana, para aquilo que mais nenhuma inteligência consegue fazer: criar e relacionar-nos”, referiu.
Ricardo Costa partilhou também a filosofia por detrás do “Departamento da Felicidade” do seu grupo, criado há oito anos. “Chamaram-me de tudo, ‘lamechas’, pouco profissional… Hoje sinto que não podia ter tomado melhor decisão”, contou, enumerando pilares como “a liberdade, a simplicidade, a coerência e uma comunicação aberta e transparente” como fundamentais para atrair e reter talento, especialmente das gerações mais jovens e qualificadas.
O Connecta Foods 25 encerrou com uma mesa redonda e um momento de networking, reforçando a ideia de que o futuro da indústria agroalimentar portuguesa passa por unir tecnologia, talento e bem-estar.