Entrevista/ “É importante levarmos conhecimento às pessoas, sobretudo a quem tem poder de decisão”

Filipe Vaz, diretor-geral da Tema Central

A Leadership Summit Portugal regressa a 25 de setembro ao Casino Estoril para a sua 9.ª edição, com o tema “The Game of Leaders – New Rules for Politics, Earth, AI and Humans”. Filipe Vaz, diretor-geral da Tema Central, explica a origem deste conceito e sublinha a importância de refletir sobre os desafios atuais num mundo em constante transformação.

Lançada pela Tema Central, a Leadership Summit tornou-se, ao longo de quase uma década, num dos maiores palcos nacionais de debate sobre liderança e gestão. Este ano, o evento parte de uma consulta a cerca de 200 conselheiros, que “desempenham funções de liderança de topo”, para definir um tema que reflete as grandes inquietações do nosso tempo: da inteligência artificial à sustentabilidade, passando pela política global e pelo papel da pessoa humana.

Em entrevista ao Link To Leaders, Filipe Vaz, diretor-geral da Tema Central, revela como surgiu esta escolha e explica porque é fundamental discutir hoje as “novas regras” do jogo dos líderes. E defende que “é cada vez mais relevante levarmos conhecimento às pessoas, sobretudo a quem tem poder de decisão”.

A Leadership Summit chega à 9.ª edição com um tema ambicioso. Como é que surgiu esta ideia de “The Game of Leaders”?

O tema deste ano resultou de uma consulta feita aos cerca de 200 conselheiros Líder que todos os anos se pronunciam sobre os temas que consideram mais relevantes atendendo à conjuntura de cada momento. São pessoas que desempenham funções de liderança de topo em muitas das maiores organizações do país e que estão especialmente bem colocadas para avaliarem as questões que mais preocupam, ou devem preocupar, os líderes e as suas equipas.

“É nesta estrutura complexa de realidades em que vivemos que nos parece ser importante avaliar as novas regras do jogo, o jogo dos líderes, um jogo em que todos possam ganhar”.

Que preocupações atuais motivaram a escolha das “novas regras para a política, o planeta, a inteligência artificial e os humanos”?

Vivemos um momento conturbado e imprevisível. Claro que pensamos imediatamente nos conflitos militares que a todos preocupam e que causam incerteza generalizada, mas também há outros fatores igualmente geradores de incertezas que colocam os líderes perante a dúvida de qual o caminho a seguir. Falo, por exemplo, dos desafios e oportunidades colocados pela inteligência artificial que podem ser tão entusiasmantes como assustadores. Também ao nível político, vivemos uma época de recrudescimento de movimentos populistas, extremistas e, por vezes, inorgânicos com os quais temos de aprender a conviver e gerir relacionamentos ao nível organizacional.

O mesmo se diga perante o crescente desafio que é a degradação dos recursos naturais demonstrada pela ciência e a contestação desses dados, mais uma vez, por grupos que têm uma crescente preponderância social. Tudo isto, sem esquecer o foco na pessoa humana, no respeito pela individualidade, pelos direitos humanos, pela liberdade e seus limites. É nesta estrutura complexa de realidades em que vivemos que nos parece ser importante avaliar as novas regras do jogo, o jogo dos líderes, um jogo em que todos possam ganhar.

Num mundo cada vez mais polarizado, como é que vê o papel dos líderes na criação de pontes e não de muros?

Os líderes deveriam ser um farol que indica caminhos com base em informação estruturada e verdadeira. É um lugar-comum dizer-se que já não há líderes como antigamente, os grandes estadistas do pós-guerra que garantiram paz e prosperidade no mundo ocidental durante décadas, os grandes industriais, os grandes pensadores. Creio que os líderes são um reflexo de quem os escolhe, ou elege, no caso das democracias. Para termos bons líderes é urgente termos a população esclarecida, pessoas com conhecimento verdadeiro que possam decidir e escolher devidamente informadas e conscientes das suas opções. Certamente que, nesse caso, os líderes serão pessoas habilitadas a decidir no sentido da justiça e bem-estar coletivo. É importante levarmos conhecimento às pessoas, sobretudo a quem tem poder de decisão.

“A realidade é que a IA vai muito além disso e as suas capacidades estão em constante evolução, não sabemos até onde. Por isso, é urgente refletirmos e regularmos o seu desenvolvimento e utilização”.

A inteligência artificial é um dos pilares do tema deste ano. A liderança está preparada para os desafios éticos e estratégicos da IA?

Creio que ainda não. A IA é vista, sobretudo, como mais uma ferramenta de trabalho e lazer. Para a maioria de nós é utilizada como um simples aplicativo que nos ajuda no trabalho, que nos esclarece dúvidas, produz conteúdo, no fundo, que nos facilita a vida. É um gadget engraçado e útil. A realidade é que a IA vai muito além disso e as suas capacidades estão em constante evolução, não sabemos até onde. Por isso, é urgente refletirmos e regularmos o seu desenvolvimento e utilização. Creio que a Europa deu um bom exemplo com a aprovação do Regulamento Europeu de IA. É importante que este e outros normativos se mantenham atualizados e consigam acompanhar o ritmo de desenvolvimento da IA.

Que tipo de reflexões podemos esperar dos oradores convidados? Há algum painel ou nome que destaque particularmente?

Tentamos trazer sempre ao palco de Leadership Summit nomes que sejam improváveis e com mensagens diferenciadas, muitas vezes provenientes de sectores que não é costume impactarem os líderes de organizações. É o caso, por exemplo, do painel que temos dedicado ao espaço com Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, Miguel Gonçalves, comunicador de ciência e Nini Andrade Silva, designer, ou o painel de encerramento em que se irá falar da morte com Hugo Van der Ding e Nuno Morais Sarmento. Levamos a palco nomes consagrados em áreas de liderança empresarial, como Armindo Monteiro, presidente da CIP, Albertos Ramos, CEO do Bankinter, Marcelo Nico, diretor-geral da Tabaqueira, Sandra Silva, CEO da Veolia, Nelson Rodrigues, CEO da Jaba Recordati, Helene Westerlind, CEO da Zurich, Pedro Moura, CEO da Merck, Pedro Gomes, CEO da Teleperformance

Destaco também o encerramento da manhã com uma entrevista em palco a Luís Marques Mendes e uma talk reservada aos portadores de acesso VIP a realizar após o almoço pelo ministro da Reforma Administrativa, Gonçalo Saraiva Matias.

O que representa para o evento ter nomes como Sean Pillot de Chenecey, Netta Jenkins ou Frank Tétart?

É importante trazermos a Portugal nomes de referência internacional em áreas que sejam enquadráveis no tema geral do evento e que nos pareçam relevantes para a nossa audiência. Já é tradição quem assiste à Leadership Summit saber que verá em palco intervenções de oradores internacionais que vêm pela primeira vez a Portugal. Os nomes internacionais que referiu falam por si. Contudo, acrescento também a presença, mais uma vez, do vencedor do pitch internacional que fazemos junto dos Global Shapers do Fórum Económico Mundial e que este ano é a Warda Bouye que vem de Marrocos. Destaco ainda Robert Engels que é Vice-Presidente e Head do IA Lab da Capgemini, Simon Abikzer, Diretor da Cyvault e Eduardo Soley, Head of Groth da Cuboo.

Na escolha dos oradores, que características foram tidas em conta?

Partimos do tema do evento para a escolha dos oradores, tendo sempre em atenção um flow de programação que garanta ritmo e resposta a interesses diversificados. Como referi, é importante trazermos a Portugal oradores em estreia com provas dadas internacionalmente. Ao mesmo tempo, termos a voz nacional de quem está no terreno ao nível das organizações. Por fim, tentamos sempre colocar em palco vozes improváveis para discutirem os temas da liderança.

“Os Global Shapers são os potenciais líderes do futuro e reúnem mais de 7.000 jovens no mundo inteiro”.

O concurso internacional com os Global Shapers tem sido também uma aposta. Que tipo de ideias procuram com esta iniciativa?

O Lisbon Hub dos Global Shapers do Fórum Económico Mundial é parceiro da Leadership Summit desde a primeira edição. Os Global Shapers são os potenciais líderes do futuro e reúnem mais de 7.000 jovens no mundo inteiro. Acreditamos que é fundamental prestarmos atenção aos pontos de vista dos mais novos. Todos os anos lançamos um concurso para escolher um shaper que venha a Portugal fazer uma talk em palco sobre o tema do evento. Este ano, mais uma vez, recebemos dezenas de candidaturas de todo o mundo, a maioria com enorme qualidade. A partir de vídeos de apresentação fazemos uma short list e juntamente com o Lisbon Hub escolhemos um vencedor. Este ano é a Warda Bouye, Global Shaper de Marrocos, que vem fazer uma apresentação surpreendente.

A Leadership Summit é já uma referência em Portugal. O que tem permitido manter a sua relevância ao longo de quase uma década?

Creio que a relevância da Leadership Summit resulta de conjugação de vários fatores, nomeadamente, o envolvimento de muitos líderes de empresas relevantes do nosso país, as parcerias com instituições de referência nacionais e internacionais, o cuidado na escolha de temas e respectiva programação. No inquérito de satisfação que todos os anos realizamos junto da audiência há uma intenção de voltar no ano seguinte que ultrapassa os 90%. Esse é o melhor reconhecimento que podemos desejar e é para isso que trabalhamos o ano inteiro.

A relevância da Leadership Summit creio que resulta muito de não ser one shot event, e estar integrada numa multiplataforma de produção de conhecimento para líderes que desenvolve ao longo de todo o ano inúmeras iniciativas e eventos, produz conteúdos editoriais para a revista Líder e disponibiliza todo o material vídeo na nossa plataforma de streaming Líder TV.

Já pensam na próxima edição? Que sonhos ou ambições têm para o futuro do evento?

Neste momento estamos focados na edição deste ano, mas em 2026 iremos comemorar os 10 anos de existência da Leadership Summit Portugal, portanto vamos apostar num evento ainda mais impactante e cheio de surpresas que nos permita, também, projetar a década seguinte.

O que podemos esperar da Leadership Summit no Futuro? Outros formatos? Em outras geografias?

Já este ano vamos apresentar a primeira edição de um evento em que apostamos muito, a Leadership NEXT GEN, um evento focado também na liderança, mas direcionado para o target 15-30. Irá realizar-se dia 10 de setembro na Nova SBE, com um programa de excelência, e o objetivo é darmos a voz aos jovens e fazer uma ponte com a edição “adulta” da Leadership Summit.

Atualmente a nossa marca Líder Events, para além da Leadership Summit e da Leadership NEXT GEN, produz outros eventos do conhecimento relevantes em Portugal, tanto próprios como para outras entidades, dos quais destaco a Leading People-International HR Conference, a What’s Next? para a Porto Business School, a Data With Purpose Summit para a Nova IMS, o Espanto-Festival Internacional de Filosofia, para a Associação Espanto, para além de inúmeros encontros sectoriais dos nossos grupos de conselheiros com convidados de referência.

Internacionalmente lançámos há três anos a Leadership Summit Cabo Verde que tem tido enorme recetividade e impacto no país, pelo que em 2026 iremos realizar a quarta edição deste evento que pretende também discutir os assuntos relacionados com a liderança promovendo a troca de conhecimento entre Portugal e os PALOP.

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