Opinião

Melhorar as competências das mulheres é a chave para desbloquear o potencial da IA

Suzana Curic, Country Leader Portugal e Espanha da Amazon Web Services (AWS)

Estamos a assistir ao início de uma nova era da tecnologia e os efeitos já se fazem sentir: 70% das empresas em Portugal que estão a utilizar a Inteligência Artificial relatam um aumento das receitas e 100% relatam uma melhor experiência do cliente, como consequência da adoção da IA.

No entanto, ainda há muito por fazer. Apenas há três anos – e segundo o Boletim Estatístico realizado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género – as mulheres portuguesas representavam apenas 21,9% das pessoas diplomadas na área das STEM, existindo praticamente quatro vezes mais homens (78,1%). Fica claro o enorme potencial desta disparidade.

Hoje é o Dia Internacional da Mulher, por isso, num mercado em que a oferta de perfis tecnológicos qualificados é menor do que a procura, é estritamente necessário que a indústria promova a tecnologia no feminino e desenvolva programas de formação que incentivem as raparigas e as mulheres a seguir estudos e carreiras tecnológicas. Mais de 50% da população portuguesa é constituída por mulheres, pelo que, sem o aumento da presença feminina no setor tecnológico, não será possível dar resposta às necessidades de RH do mercado.

Ao olhar para o futuro, as empresas nacionais demonstram compreender a importância crescente das competências digitais, com 74% a prever que, em apenas cinco anos, as competências digitais vão ultrapassar as qualificações universitárias tradicionais.

Nesse sentido, é fundamental colmatar este défice de qualificações, uma vez que Portugal está à beira de uma oportunidade única no que toca à aplicação deste tipo de tecnologias. Para tal, é necessário adotar uma abordagem de formação mais equitativa, diversificada e acessível.

Ainda nos meus tempos de escola, lembro-me de uma antiga professora que me ensinou as maravilhas da matemática e que, sem dúvida, foi a semente para que eu optasse por uma carreira técnica. Sete anos depois, candidatei-me a uma licenciatura em Engenharia Industrial, com especialização em produção e logística. E é precisamente essa curiosidade que devemos promover junto das jovens adolescentes de hoje em dia.

O poder transformador da IA está ao nosso alcance e mais de metade dos cidadãos portugueses (60%) acredita que esta ferramenta será importante para enfrentar os grandes desafios da sociedade, como as alterações climáticas e o controlo de doenças. Mas ainda há trabalho a fazer para garantir que Portugal tem as competências necessárias para impulsionar mudanças positivas. É necessário trabalhar em conjunto para continuar a aumentar o acesso à formação de competências e à democratização do acesso à tecnologia de IA. Por isso, vejo como decisivo o papel dos setores público e privado na promoção e acesso de mais jovens e mulheres a posições tech, e no incentivo à requalificação dos recursos humanos nestas áreas. Muitas vezes a mudança tem de começar dentro das próprias organizações.

O ano passado foi crucial. Em toda a Europa, e em Portugal, a acessibilidade à IA generativa suscitou curiosidade entre consumidores e empresas, que quiseram conhecer e explorar estas ferramentas.  De acordo com um relatório recente da Strand Partners, caso se aproveite esta tendência e se mantenha a taxa de crescimento anual de +25% no que diz respeito à adesão à IA pelas empresas portuguesas, há a possibilidade de gerar 61 mil milhões de euros para o país até 2030. A redução das barreiras à formação em competências digitais e a democratização do acesso às tecnologias são essenciais para Portugal desbloquear estas oportunidades.

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