Entrevista/ 5 questões a João Silva Santos, CEO da merytu

Especializada no setor de recursos humanos e turismo, a merytu é uma tecnológica portuguesa que acaba de ser selecionada para o Cloud Program da Google. O CEO da start-up, João Silva Santos, partilhou a sua visão do que é ser empreendedor e líder.
A merytu é uma plataforma digital, nascida em 2021, que tem vindo a revolucionar a área dos recursos humanos no setor do turismo, estando focada na identificação e gestão de talento na área de Hospitality
O que é inovação para si?
Definiria inovação como algo que ocorre quando desafiamos a forma convencional de fazer algo, substituindo-a por um método desconhecido que melhora significativamente o contexto inicial do que era necessário. Contudo, tal como uma moeda, a inovação apresenta duas faces inseparáveis: a melhoria e o desconhecido; a dimensão racional e a emocional. Refere-se aos cálculos que comprovam a efetividade e a importância da melhoria, em contraposição ao receio de trocar a zona de conforto pela incerteza do desconhecido. Não é possível verdadeiramente possuir a moeda sem essas duas faces. Ou seja, uma inovação, por mais comprovadamente benéfica que seja, não tem valor sem a adoção por parte do seu público-alvo.
Qual a competência chave para exercer a liderança hoje em dia?
Proveniente da área de Psicologia Organizacional, o tema da Liderança sempre me fascinou. Não apenas no domínio académico da minha formação, mas também nos contextos das organizações a que me associei, a forma como um líder catalisa a performance de um grupo de indivíduos rumo a um objetivo comum sempre captou a minha atenção. Arrisco mesmo afirmar que deve ser um dos temas que mais tempo de antena recebe no âmbito das ciências sociais e que, em simultâneo, mais valor acrescenta ao tecido empresarial. Considero que a construção da pirâmide de uma liderança de sucesso é composta por uma miríade de blocos, todos eles competências indispensáveis. Contudo, a base desta pirâmide é, sem dúvida, a capacidade de gerar confiança naqueles a quem se pretende liderar.
Uma ideia que gostaria de implementar?
Muitas são as ideias, mas o segredo é a alma do negócio! Contudo, uma das minhas ideias a implementar, e que não deixo de referir aos meus mais próximos, é o tempo que quero dedicar, um dia, à mentoria de empreendedores ou potenciais empreendedores. Esta é, infelizmente, uma área sobrepovoada e cheia de ruído, onde se encontra muita gente com alegada autoridade no tema, mas cujo histórico expõe a completa ausência do principal selo de legitimidade: o “ter feito”. E note-se, não me refiro a “ter sido um unicórnio”, ou sequer a “ter tido sucesso”, mas simplesmente a “ter tentado”, a ter acumulado a experiência do erro, que seja válida para ser transmitida a terceiros. É urgente recalibrar o ecossistema empreendedor ao contexto europeu, e começar a reconhecer que empreender com um mindset exclusivamente americanizado, apesar do muito conhecimento valioso que nos traz, é arriscado. Na Europa, a forma como se faz e implementa inovação difere completamente do contexto norte-americano ou israelita, para citar duas referências incontornáveis deste ecossistema. Tanto a taxa de mortalidade das startups quanto o rácio dos projetos que rapidamente alcançam uma valorização de mil milhões de dólares (unicórnios) não se devem, na maioria dos casos, à qualidade do produto, onde todos tendem a focar, mas sim à forma como este é implementado. E essa caixa de Pandora precisa ser aberta urgentemente junto dos valiosos empreendedores que temos cá, de forma a inverter os dois indicadores que mencionei.
Que argumentos não devem faltar numa start-up para atrair investimento?
Na merytu, tenho o verdadeiro privilégio de contar com mais três sócios fundadores: Francisco Nogueira de Sousa, que também assume o papel de Chairman; Ronaldo Marques, que concebeu toda a parte tecnológica e é o nosso CTO; e Manuel Ferreira Mendes, que desenvolveu o paradigma jurídico em que o nosso modelo se baseia. Tive a sorte de ter pessoas muito experientes comigo nesta odisseia e, no que toca à atração de investimento, essa é uma arte sob a responsabilidade do nosso “chair”. No entanto, o que aprendi com eles e com a nossa jornada neste capítulo é que existe uma tríade dourada que deve estar preparada antes dessa fase: Um “muito bom produto”; um “razoável” plano de implementação e, uma “excelente” equipa.
Os adjetivos foram escolhidos intencionalmente, e as suas valorações são exatamente essas na nossa opinião. O produto tem de ser “muito bom” — nunca será perfeito, mas quanto melhor for, mais vantagem competitiva obviamente terá sobre os demais. O plano de implementação, que não é propriamente um plano de negócios, é um roteiro de como irei fazer o meu produto chegar aos utilizadores. E sim, vem antes da equipa, porque influenciará a sua constituição. É importante conhecer o setor onde estou a atuar, quem me poderá abrir portas, que parcerias estabelecer, que tipo de comunicação o público-alvo prefere. “Razoável” porque já deve conter boas pistas, mas, acima de tudo, uma enorme flexibilidade para ser ajustado inúmeras vezes “on-the-go”, até mesmo influenciando o próprio produto. Por fim, a “excelente” equipa, sim, aquela que troca o seu conforto profissional pelo risco de ficar desempregada se tudo falhar. E quem são estas pessoas? Aquelas que assumem o projeto como seu, que sentem ter finalmente encontrado o “projeto” que as levará ao nível de “fullfilment” com que sempre sonharam para a sua carreira e enquanto indivíduos. Suficientemente “desencaixadas” do convencional a ponto de acreditar na visão do projeto, como se já fosse realidade. Existem e são difíceis de encontrar!
Temos o privilégio de ter uma equipa assim na merytu. Podem fazer “fact checking” e comprovar que não são “Bots” de “IA”, são eles: a Adriana Silva – Creative Manager Rockstar; a Alexandra Costa – Fast & Furious Customer Agent; a Carla Andrade – Chief Financial Wonder, o Diogo Paço – Ninja Product Owner; a Joana Valente – Operations Sparkling Manager; a Liliana Tavares – Financial Assistant Fairy; a Lorena Stanael – Customer Care Boom Agent; o Marc Brander – Chief Analyst Magician; a Mariana Dionísio – Jedi Sales Manager; a Rita Harries – Expansion Twinkle manager e, a Susana Ferreira – Senior Sales Manager Warrior.
O que não falta por aí são produtos, que nem são assim tão bons, mas que marcaram a história simplesmente porque a equipa que os implementou era genial. Também não faltam ideias impressionantes que ficaram pelo caminho, porque quem as concebeu não é, normalmente, quem tem o dom de as implementar. Por fim, alguém poderia ainda perguntar: “Não é um escândalo não ter sido aqui referido o plano de negócios?” A resposta é simples: sem menosprezo, hoje até Apps de IA já os elaboram, e é nisso que qualquer incubadora adora focar-se… e hoje se fosse por número de “incubadoras” e “eventos de empreendedorismo” eramos o país dos unicórnios.
Erros que as start-ups nunca devem cometer?
Desistir por achar que a falha na assimilação instantânea, por parte do público-alvo, do seu produto tal como foi concebido, se deve ao facto de a ideia não funcionar. Se funcionou no piloto, primeiro é desconfiar, não deitar logo a toalha ao chão! Este erro fatal, que, para mim, é um dos principais impulsionadores da mortalidade das start-ups, deve-se principalmente ao mencionado anteriormente sobre o plano de implementação. É necessário ter margem para recalibrar a sequência de implementação e para abandonar até, se necessário, algumas funcionalidades do produto numa fase inicial, que numa fase de maturidade mais avançada poderão vir a funcionar. O pensamento binário do “funciona/não funciona” e a falta de margem/flexibilidade num plano de implementação conduzem normalmente ao fracasso. É precisamente este fenómeno que contribui significativamente para o aumento da taxa de mortalidade das start-ups e que se torna numa grande desvantagem para todo o ecossistema empreendedor, criando socialmente a perceção de que uma start-up é normalmente um projeto de jovens inconsequentes e impreparados a desperdiçar dinheiro alheio em ideias de fraca qualidade.