Opinião
Vagas de inovação na agricultura indiana
As inovações e a sua aplicação em larga escala já eram familiares desde a Revolução Verde, dos anos 1960 e posteriores. Os muito bons resultados foram capazes de acabar com a necessidade de importação de cereais para alimentar o povo, logo após os anos 1970.
Efetivamente, em 2022/23, a Índia teve uma produção de cereais de 329,7 MT (milhões de toneladas), suficiente para alimentar toda a sua população, constituir um bom stock de reserva para emergências e ainda exportar mais de 22 MT. Antes, em 1969, a primeira-ministra Indira Gandhi tivera que importar 9 MT por ter sido um ano seco. Choveram críticas do Ocidente de como uma nação com pretensões a ser uma potência, mal podia alimentar a sua população. Desconheciam a terrível exploração colonial acompanhada de roubo.
A atitude inovadora tem de estar enraizada na mente dos empreendedores para encontrar novas ideias, mais aperfeiçoadas para prosseguir com o aumento da produtividade. Não apenas de forma linear ou incremental, mas, sobretudo, de modo disruptivo, com saltos significativos do rendimento da terra.
Não basta produzir e produzir bem. O passo seguinte é vender bem, conservando boa margem de receitas para o agricultor que produz, sem deixar a fatia de leão nas mãos dos intermediários. Por isso, apareceram muitas FPO-Farmers Producers Organizations que adquirem produtos aos agricultores associados, por um preço aceitável, para depois tratar, empacotar e vender. Vender a quem? Vender às redes de retalho, presentes nas grandes cidades, ou indo diretamente até elas, habitualmente mal abastecidas com produtos frescos. E quando o volume de produção cresce, criar uma ampla zona de refrigeração de perecíveis para lhes aumentar o tempo de vida e ao mesmo tempo tentar exportar.
Uma FPO, a SahyadriFarms, com mais de 15.000 associados exporta variados produtos frescos entre fruta e hortaliça. Chamou-me a atenção a exportação de uva de mesa, sem grainha, produzida na Índia e exportada de janeiro a junho de cada ano para muitos países da UE e outros. A Europa mediterrânica tem uva nos meses de setembro e outubro. Agora tem a possibilidade de saborear a uva da Índia, praticamente ao longo de todo o ano. A SahyadriFarms tem sido um bom sucesso, posicionando-se como um modelo a imitar e reproduzir ao longo da geografia índiana.
Um novo salto inovador deu-se com a GVT-Global Vikas Trust, fundada por Mayank Gandhi, para ajudar os agricultores com pequenas propriedades marginais de terra a multiplicar a sua produção por acre, de 4 a 10 vezes. Eram terrenos pequenos de transição de culturas tradicionais amplas, com boa produtividade, para zonas mais elevadas, onde por inércia se cultivavam os mesmos produtos, com muito baixa produção.
Como é que conseguiu? Numa aldeia do Estado de Maharastra a falta de água e a seca eram tremendas, sem água sequer para beber ou para os animais. Por sorte e casualidade na ação de Mayank G., um primeiro passo foi fechar as lojas de venda ilegal de vinhos, quase por decisão dos proprietários, em vista das desgraças que provocava. Isso criou um vasto movimento da população que começou a ver em Mayank G. um amigo para ajudar a resolver os problemas da baixa produtividade e de muitos suicídios de pessoas que estavam endividadas, sem poderem pagar.
O movimento local teve uma primeira ação de resolver o problema da falta de água: o rio local foi aprofundado e alargado, e criaram-se furos para reintroduzir a água das chuvas em excesso, até aos lençóis freáticos que já estavam a 400 pés de profundidade pela sucção da água, quando antes estavam a cerca de 50 pés.
O resultado final dessa ação foi 70 km de aprofundamento e alargamento do rio Paapanashi e dos seus afluentes; 162 lagoas agrícolas; 62 barragens de controle, 5 açudes, centenas de trincheiras e 222 milhões de litros de armazenamento de água em depósitos subterrâneos feitos para reter as águas das chuvas, que se poderiam bombar, quando necessário. Ao mesmo tempo instalaram-se 120 GRA-Furos de Recarga Global, ao longo do rio Paapnashi, resultando na elevação do lençol freático de 400 pés para menos de 50 pés. Tudo isso feito em apenas 45 dias, ficando o problema da água definitivamente resolvido nesse local.
Após isso, em cada zona fazia-se o estudo dos solos para ver que variedades de árvores eram as mais indicadas e as mais rentáveis. Em três anos consecutivos, plantaram-se 43 milhões de pés.
Felizmente, foi fácil encontrar Estações Agronómicas capazes de preparar as “plântulas” das mais variadas espécies, em geral das mais produtivas. A ordem de compra para o conjunto dos interessados era posta em dezembro e as plântulas estavam prontas em junho, para se transplantar. A GVT costumava subsidiar as plântulas em cerca de 12% com os donativos das empresas que utilizavam os seus fundos de SCR-Corporate Social Responsibility.
Não é difícil de imaginar a ação que 43 milhões de árvores têm no clima local, aumentando a pluviosidade e refrescando o ambiente. E com a subida do nível do lençol freático, o resultado foi impulsionador para a agricultura.
Em geral nas terras onde se produzia entre 20.000 a 25.000 Rupias por acre, agora com a plantação de diferentes árvores, com frutos mais procurados, e plantados de acordo com o desejo do proprietário do terreno, o mesmo acre de terra já produz 200.000 a 375.000 Rupias por acre!
Há árvores que dão fruto num breve espaço de tempo, como a banana e a papaia; outras a médio prazo, como a anona (custard apple), a goiaba, a romã, o limão, a lima doce, o mosambi, e as de longo termo, como a manga. Elas aumentaram o rendimento anual do agricultor 4 a 10 vezes, em média.
Em 2023, a GVT trabalhava em três Estados: Maharastra, Andra Pradesh e Gujarat, alcançando mais de 23,000 agricultores marginais. Em setembro de 2023, a GVT podia afirmar: trabalhamos em 3300 aldeias, 27 distritos. Impactamos 91.000 pessoas, 20.000 famílias de agricultores, atuando sobre 32.000 acres de terra.
Muito importante é a criação de um Centro de Incubação, para treino e difusão dessas ideias com prova dada, por todo o país, para que todos os agricultores possam beneficiar delas com rapidez. O centro está já em construção, esperando-se que funcione em pleno rapidamente.
*Professor da AESE-Business School, do IIM Rohtak (Índia) e autor do livro “O Despertar da Índia”