Opinião

Um tour a seis start-ups de Lisboa

Chic by Choice, Farfetch, Landing.jobs …

 

4 horas, mais de 5 start-ups e cerca de 8 ruas percorridas. Foi a proposta da Beta-i dias antes da realização da Web Summit  para dar a conhecer Lisboa através das suas start-ups a empreendedores, investidores, estudantes e jornalistas de todo o mundo.

A iniciativa “Lisboa Start-up Tour”, organizada pela Beta-i, foi composta por vários roteiros que, em vez de mostrar monumentos da cidade, invadiu start-ups como Chic by Choice, Farfetch, Landing.jobs, Linnk, TalkDesk e Tradiio.

No tour participaram empreendedores, investidores, entusiastas da tecnologia, jornalistas e inscritos na Web Summit.

A Link To Leaders também esteve presente na iniciativa e mergulhou neste universo tão peculiar, tendo a oportunidade de contactar diretamente com os fundadores de seis start-ups e ouvir as suas histórias de sucesso.

Chic-by-Choice

Foi considerada a melhor start-up de moda pela The Europas Conference & Awards e continua a dar provas do seu sucesso. Tudo começou quando duas jovens de 25 anos, Filipa Neto e Lara Vidreiro, transformaram uma ideia num negócio do luxo.

No mercado há cerca de dois anos, a Chic by Choice é uma plataforma que permite o aluguer de vestidos de luxo. Conta com criações de dezenas de “designers”, entre eles Diane von Furstenberg e Roberto Cavalli.

A start-up portuguesa quer dar a oportunidade a todas as mulheres de poderem aceder a um vestido de sonho para cada ocasião, sem terem de investir demasiado numa peça que sabem que irão usar apenas uma ou duas vezes.

E porquê este nome? A Chic by Choice é o universo de sonho para todas as mulheres que adoram produtos de luxo e que gostam de seguir tendências, mas que são economicamente conscientes.

O volume de aluguer de vestidos na plataforma Chic by Choice tem vindo a aumentar exponencialmente.  Quando o site da Chic by Choice foi lançado, em 2014, Filipa e Lara não tinham um único vestido em armazém. Negociaram parcerias com marcas e boutiques, que as deixaram colocar no site a imagem dos vestidos; só quando tivessem encomendas, é que tinham de os comprar, a “preço de parceria”, para depois os poderem alugar aos clientes.

Passaram dois anos e a Chic by Choice tem um showroom, na Rua Castilho, em Lisboa, com 1300 vestidos. Emprega 20 pessoas, sendo que a maioria faz parte da área tecnológica. É que, como sublinham as fundadoras, este não é um negócio de têxteis; é um negócio tecnológico – no e-commerce, a área do digital tem de funcionar na perfeição.

No último trimestre de 2015, a empresa cresceu 200% em relação ao trimestre anterior. Nos últimos seis meses, a taxa de crescimento tem sido de 17%, mês após mês. Até agora, a Chic by Choice já angariou dois milhões de euros de investimento.

A start-up de Filipa e Lara é líder europeia nesta área, tendo adquirido as suas duas principais concorrentes: uma no Reino Unido e outra na Alemanha. No Reino Unido, onde estão atualmente 70% dos seus clientes, a empresa comprou os ativos de uma empresa (os vestidos e a base de dados) e ganhou escala.

A Chic by Choice acredita que o aluguer de marcas de luxo é o futuro. Por isso quer continuar a crescer, dentro e fora dos 15 países onde opera.

Farfetch

Com mais de 400 lojas de roupa de luxo de todo o mundo no seu catálogo, a Farfetch tem vivido um crescimento rápido nos últimos anos, tornando-se numa empresa verdadeiramente global. Em todo o mundo, mais de mil funcionários garantem o funcionamento da tecnológica internacional, que permite aos clientes terem “acesso aos melhores produtos” e às lojas de luxo.

Segundo Andreia Campos, brand manager da Farfetch, esta é uma empresa de tecnologia e também de moda, e toda a parte da tecnologia é gerida em Portugal.

Fundada em 2008, a Farfetch é a única startup portuguesa no clube dos “unicórnios” – nome dado às empresas não cotadas cuja avaliação financeira atinge os 1000 milhões de dólares. Após a última ronda de financiamento, a avaliação da Farfetch rondava os 1400 milhões de euros.

A Farfetch conta com um escritório no Porto e um em Guimarães e anunciou em agosto deste ano a abertura de um escritório em Lisboa — o terceiro em Portugal. A abertura do escritório em Lisboa vem na sequência do desejo da empresa de estar “perto do talento”.

Desde o seu nascimento, a empresa recebeu mais de 300 milhões de euros em seis rondas de investimento, um sinal de confiança por parte do mercado de investidores numa empresa que não tem parado de crescer e cujas receitas assentam, fundamentalmente, na cobrança de comissões sobre as vendas feitas na sua plataforma eletrónica, que é gerida a partir de Leça do Balio, nos arredores do Porto, e de Londres. O centro de operações onde são tratados todos os artigos, antes de serem postos à venda, situa-se em Guimarães.

Esta plataforma reúne centenas de marcas e lojas do segmento de luxo, que vendem os seus artigos de moda e acessórios para todo o mundo. A faturação bruta esperada em 2016 ronda os 800 milhões de dólares.

Embora o negócio digital seja a grande fonte de receita da Farfetch, a empresa adquiriu em 2015 a Browns, uma boutique independente e emblemática no mundo da moda, cujo volume de negócio representa menos de 5% da faturação conjunta da empresa, que todos os anos tem pago IRC em Portugal – ou seja, declara lucro – mas que, globalmente, depois de consolidar as suas contas na Farfetch UK Ltd, ainda não chega aos lucros.

Até ao final de 2016, a empresa espera empregar mais de 750 pessoas no país.

Landing.jobs

Ouvimos o nome JOBBOX pela primeira vez em fevereiro de 2014, quando Pedro Carmo Oliveira e José Paiva apresentaram a sua ideia, para responder a um problema sério que afeta não só Portugal, como a Europa em geral: existem profissionais das tecnologias de informação (TI), mas muitas vagas de emprego neste setor estão por preencher.

Pedro e José criaram a JOBBOX, uma plataforma que permite às empresas de TI encontrar os melhores profissionais. Este sistema de recrutamento é suportado por um mecanismo de recompensa, em que os amigos que fizerem as sugestões mais indicadas para cada vaga, são recompensados em caso de contratação.

Foi com 45 mil euros de capital próprio que a JOBBOX arrancou no início de 2014. E, ao longo dos seus primeiros 12 meses, (sobre)viveu como muitas start-ups: num regime autossustentável, sem investimento externo – o chamado bootstrapping.

Incubada na Startup Lisboa desde o início, a jovem empresa viu a sua equipa crescer e mudar-se para um escritório maior, no outro lado da Rua da Prata. A plataforma ganhou mais utilizadores à procura de emprego, mais ofertas de trabalho e mais empresas a recrutar. Nomes sonantes como o Spotify, a Miniclip ou a Booking.com já utilizam a ferramenta da JOBBOX.

Em maio de 2015, Pedro Oliveira e José Paiva enfrentaram novos desafios. Com 750 mil euros de investimento da Portugal Ventures  (em coparceria com a Best Horizon) no bolso, a equipa atacou Londres, com um escritório próprio na capital britânica, e passou a chamar-se Landing.jobs: “a new name to do a better job”.

Na génese da Landing.jobs esteve o objetivo de criar um match making entre os profissionais de TI e as empresas, da melhor forma possível. A primeira ferramenta que descobriram foi o crowd referral.

Para além de querer ser um mercado com as melhores ofertas de trabalho no mundo da tecnologia, a Landing.jobs pretende acompanhar os seus utilizadores em todo o processo de recrutamento. Na visão de Tiago Moreiras, diretor de Produto da Landing.jobs, as fases mais complicadas são o início e o fim: “conseguir que as pessoas entendam o processo e depois fechá-lo é o mais complicado”, diz.

Entre as mais-valias da empresa, o responsável enumerou a capacidade para perceber a “comunidade ‘tech’ [ligada à tecnologia]”: “Uma vez que fazemos parte dela e sabemos quais os seus problemas e como resolvê-los, mas também pelos nossos serviços que foram criados de modo a facilitar todo o processo entre a empresa recrutadora e os candidatos”.

O método de seleção e recrutamento distinguem-na de outras empresas. A seleção e recrutamento socorrem-se de três pontos: a tecnologia, a “multidão” e as entrevistas.

A start-up, uma das 67 escolhidas para representar Portugal no web Summit, consegue agilizar o processo de recrutamento, ao focar-se na atração de candidatos que tenham o perfil exato que a empresa procura, assegurando que existe um ‘fit’ (adequação) entre empresa e candidato.

Em junho passado, a Landing.jobs organizou, pelo segundo ano consecutivo, um evento para “unir empresas e candidatos internacionais num único espaço de ‘networking’ e alguma animação”. Este ano participaram mais de 1.200 candidatos e 60 empresas.

Mais recentemente, a empresa portuguesa decidiu abordar a organização da Web Summit e tornou-se na única empresa nacional a recrutar para a Web Summit, através de um método ágil que consiste na “atração de candidatos que tenham o perfil exato que a empresa procura, assegurando que existe um ‘fit’ entre empresa e candidato.

LINNK

O LINNK  (Lisbon Innovation Kluster) é um ecossistema colaborativo para a inovação, onde empreendedores, programadores, criativos e makers cooperam na elaboração de projetos e empresas disruptivas, predominantemente focadas em Design, TI e Hardware.

A LINNK é uma Spin-off do MIT Portugal que aposta em acelerar um novo formato de desenvolvimento de inovação disruptiva em Lisboa, com um modelo de baixo custo, descentralizado e colaborativo.

“Fundimos o melhor de um laboratório de inovação e um modelo de cowork, para criar um ambiente de trabalho único para aprender e criar. Dentro do nosso ecossistema de inovação, podes encontrar recursos, inspiração e colaboração para desenvolveres projetos e impulsionar inovação”, explica a empresa no seu site.

Estão localizados no coração de Lisboa e têm 6 hubs para incubar talentos das áreas de computação (Developers Hub), criatividade (Creative Hub), makers (Makers Hub), Engenharias (Tech Hub), Gestão/Marketing (Business Hub) e talento puro (Mix Hub).

Cada LINNKER  (membro do LINNK) também pode usar o espaço de trabalho para desenvolver projetos individuais, beneficiando da comunidade e dos recursos disponíveis, para torná-los maiores, melhores e excecionais.

TalkDesk

A Talkdesk nasceu há mais de quatro anos com uma solução tecnológica inovadora. Apesar de ter sido pensada em Portugal, a empresa já nasceu com os olhos postos no mercado global. A vertente internacional faz parte do ADN da empresa desde o início, que conta com utilizadores em mais de 50 países.

Há cinco anos, dois jovens portugueses – Cristina Fonseca e Tiago Paiva – desenvolveram uma tecnologia que permite criar um call center em poucos minutos. Hoje, a Talkdesk é das start-ups que mais rapidamente cresce em Silicon Valley.

Criar a Talkdesk foi como saltar de uma falésia sem paraquedas. Tinham tudo contra: não tinham dinheiro, nem clientes, nem experiência. Tiago e Cristina tinham chegado à capital mundial do empreendedorismo cerca de um ano depois de concluírem o mestrado em Engenharia de Telecomunicações e Informática do Instituto Superior Técnico. Foi numa tarde de agosto de 2011 que esbarraram num concurso online promovido pela Twilio, uma empresa de São Francisco que tinha lançado um serviço telefónico via browser. Para comemorar o lançamento, abrira uma competição para o desenvolvimento de aplicações que utilizassem aquele serviço. Os dois portugueses decidiram concorrer, com os olhos postos no prémio – um computador Apple – e foram selecionados para apresentar a Talkdesk na conferência anual da Twilio, em São Francisco.

Fizeram a apresentação perante duas a três mil pessoas, incluindo alguns dos principais investidores internacionais. No final, saíram da sala com um convite para integrar a aceleradora 500 start-ups, durante seis meses, e 50 mil dólares para transformar a ideia numa empresa. Voltaram a Portugal para tirar o visto e, duas semanas depois, já estavam instalados em São Francisco.

Criada em outubro de 2011, a Talkdesk permite às empresas terem um centro de contacto telefónico de forma simples e rápida. Bastam cinco minutos para abrir uma conta, registar os operadores que atendem os telefones e comprar números de contacto diferentes, em várias partes do mundo. A partir desse momento, ficam com um serviço de atendimento telefónico profissional através de um browser de internet, sem necessidade de instalar qualquer hardware, sem custos iniciais ou contratos de longa duração. Numa indústria onde não havia inovação há mais de vinte anos, a start-up foi a primeira a apresentar uma solução no navegador de internet.

Até ao momento, a sua missão tem sido cumprida de forma exemplar. A Talkdesk é uma das empresas a crescer a um ritmo mais acelerado em Silicon Valley. Em 2015, o volume de negócios multiplicou-se praticamente por sete — de mais de 2,5 milhões de euros para quase 18 milhões — e deverá triplicar este ano. O número de trabalhadores cresceu quase dez vezes. Hoje são perto de 240, distribuídos em igual medida pela sede da empresa em São Francisco e pelo escritório em Oeiras. Num mercado avaliado em 18 mil milhões de euros, não há limites para a ambição.

Hoje, a start-up tem mais de dois mil clientes em cerca de 50 países, mas sobretudo nos Estados Unidos da América. Alguns são negócios em rápido crescimento que precisam de uma solução flexível, que possa acompanhar a sua expansão; outros são empresas mais pequenas que procuram um software profissional e completo de call center, mas que não represente um investimento demasiado significativo. Só cinco por cento dos clientes são portugueses. A Uniplaces, que quer ser o maior site mundial de reserva de alojamento para universitários, é um deles.

O sucesso da Talkdesk colocou-a no radar de publicações de referência, como a “Forbes”. No início do ano, a revista norte-americana de economia incluiu Tiago e Cristina na lista dos 30 mais promissores empreendedores do mundo com menos de 30 anos. Um mês depois, a cofundadora da Talkdesk, responsável pela operação em Portugal, anunciou o seu afastamento da gestão da start-up (mantém-se como sócia).

Tradiio

600 mil euros são quanto a Tradiio, empresa portuguesa de streaming de música procura em troca de 13% do seu capital social. O sonho é, literalmente, ir à conquista do mercado norte-americano e ser a disrupção mundial no negócio da indústria musical.

Seguindo o princípio da sua própria start-up – que, na versão beta lançada no segundo trimestre deste ano, permite que qualquer pessoa apoie os seus artistas preferidos, através de um donativo mensal que lhe dá acesso a conteúdos exclusivos e experiências com os artistas -, a Tradiio procura o investimento junto dos que queiram apoiar a ideia, ou seja, em sistema de crowdfunding (financiamento coletivo), onde qualquer pessoa pode investir através da plataforma Seedrs.

Álvaro Gomez, André Moniz e Miguel Leite são os nomes por detrás da Tradiio, empresa que criaram em 2014 e que conta já com uma equipa de 16 pessoas e um investimento de 1,75 milhões de euros (Whitespace Ventures e Espirito Santo Ventures), presença em mais de 100 países e parcerias com a Universal e a Island Records, entre outras.

“Já recorremos a formas mais tradicionais de financiamento no passado e, com certeza, faremos o mesmo em futuras rondas de investimento. Mas, nesta fase, optámos deliberadamente por recorrer ao crowdfunding, para provar que o modelo funciona. A Tradiio quer melhorar a indústria da música e expandir as fontes de rendimento dos artistas, através do apoio coletivo que os fãs estão dispostos a dar-lhes. Apenas faria sentido, nesta altura, que também nós recorrêssemos ao mesmo apoio coletivo. Uma empresa de crowdfunding que usa crowdfunding para se financiar – não há mais fé no modelo que essa“, explicou Álvaro Gomes, cofundador e CEO da Tradiio, ao Link To Leaders.

Com mais de 30 mil artistas e acima dos 250 mil utilizadores, é hoje maioritariamente procurada por artistas dos EUA, Reino Unido, Brasil e Portugal. Mas o objetivo desde financiamento é passar dos milhares para os milhões de artistas possíveis de apoiar. Com esta operação de financiamento, a Tradiio fica avaliada em 4 milhões de euros.

“Estamos confiantes de que chegaremos ao objetivo da nossa campanha – 600 mil euros. No entanto, temos alternativas viáveis. Há a possibilidade de fazermos um soft launch nos EUA, com uma presença de marca menos forte mas sólida, e prontos a angariar o investimento necessário lá, localmente. Ou até mesmo uma transição para mercados emergentes, onde possamos expandir, mas gastar menos recursos. Mercados como o da América Latina ou na Ásia. Estas são sempre possibilidades e estamos preparados para isso. Mas os resultados que temos tido fazem-nos acreditar que teremos sucesso no mercado americano“, revelou Álvaro Gomez.

Depois de obtido o financiamento pretendido, a Tradiio tem uma estratégia e visão bem definidas: “2017 será o ano de conquistarmos o mercado americano, por dentro. Queremos colocar parte da equipa em Los Angeles e estabelecer parcerias-chave para o lançamento do Tradiio localmente. Aconselhamos toda a gente a visitar a nossa campanha em seedrs.com/tradiio e ver o curto vídeo onde explicamos como pretendemos usar os nossos recursos neste novo mercado. Também qualquer investidor interessado poderá consultar o nosso modelo de negócio e deck de investidores”, afirmou Álvaro Gomez.

Chic by Choice
Lara Vidreiro, cofundadora da Chic by Choice
Chegada à Farfetch
Farfetch
Farfetch
Farfetch
Landing.jobs
Landing.jobs
Landing.jobs
Vasco Portugal, CEO do LINNK
TalkDesk
TalkDesk
Raul Félix, CTO da TalkDesk
Tradiio
Tradiio
Tradiio
Chic by Choice
Comentários

Artigos Relacionados

Alexandre Meireles, presidente da ANJE*