Opinião
Turn arounds, liderança e yoga!

Enquanto executivos o que nos pedem permanentemente é resultados! Crescimento, vendas, EBITDA, sucesso! Ao dia, ao mês, ao trimestre, ao ano! É necessário e entende-se. Os resultados significam à partida melhores condições para os colaboradores, clientes satisfeitos, maior impacto na comunidade.
Crescimento é a obsessão de qualquer executivo. Conseguido num tabuleiro de jogo em que as regras estão em permanente mudança. Desde o contexto competitivo, à situação macro económica e política do país e do mundo, à natural evolução da sociedade, das expetativas e necessidades do consumidor e comprador, até à cadeias de abastecimento.
As regras do jogo mudam. Por vezes até o próprio jogo se transforma, por exemplo, com as novas tecnologias que imprimem mudanças ao nível dos modelos de negócio, obrigando os jogadores a adaptarem-se ou a morrerem. Veja-se o caso da Uber e a disrupção que ocorreu na indústria em que opera.
Mas, podemos dizer que, ainda a procissão vai no adro. Ou seja, o mundo em que vivemos de acelerada mudança e transformação vai alterar-se muitíssimo mais, com o advento da inteligência artificial. Empregos vão deixar de existir, outros tantos que ainda não existem hoje vão emergir, novos negócios aparecerão enquanto outros passarão à história…
Um mundo em acelerada mudança onde ao executivo, líder, gestor, é-lhe pedido que, apesar de tudo, cresça e se adapte! Ontem. Hoje. Amanhã. Num hoje e num amanhã mais incertos do que nas últimas, pelo menos, cinco décadas.
Se os negócios vão de vento em pompa é fácil. E quando os negócios não vão de vento em pompa? Qual o desafio?
Talvez o maior de todos os desafios seja o próprio executivo em si mesmo. A gestão emocional que faz de si e da situação, a sua capacidade de reagir à pressão, e a auto liderança que impacta tanto na liderança das equipas e na sua capacidade de motivá-las, como na qualidade da estratégia, execução e, por conseguinte, sucesso.
Mas tudo começa com a sua capacidade de auto liderança.
Consegue manter a calma, clareza e foco? É capaz de com desapego ler a situação, onde estão as ameaças e as oportunidades e redefinir a estratégia, alinhar e motivar a equipa para a ação? É corajoso para decidir e assumir riscos?
Age ou reage? Não pára. Não levanta a cabeça, não analisa a situação, não se adapta nem reinventa e insiste na mesma estratégia, no mesmo caminho e põe mais pressão na equipa. Entra numa espiral de fazer, fazer, fazer. Sem tempo a perder. Pressionado e a pressionar a equipa.
Se a situação ao nível de resultados não é favorável é bem provável que isso signifique que são necessárias mudanças de fundo. Tomada de decisões. Assunção de riscos. Novas soluções.
E isso necessita de um novo olhar do líder. De novas perspetivas. De uma leitura fresca e atual da realidade do tabuleiro de jogo. Dos concorrentes. Dos consumidores e clientes. Das oportunidades, qual a vantagem competitiva e como consegui-la.
Agir e não reagir é imperativo. Então porque não o fazemos suficientemente? Antecipadamente?
Por várias razões certamente. Mas há uma que acredito que é muito simples e também muito esquecida e negligenciada.
A de o líder priorizar conseguir encontrar calma, concentração e foco para olhar com distanciamento e desapego para a situação de forma holística, detetando sinais de alarme e também oportunidades. Acedendo à análise, à sua experiência e também intuição necessárias especialmente em situações mais desafiantes de necessidade de revisão da estratégia e descoberta e exploração rápida de caminhos alternativos que supõem apostas e riscos.
Para isso o líder necessita priorizar parar de trabalhar! Deixar tempo para o seu lado mais racional e cerebral poder trabalhar junto com o seu lado direito do cérebro responsável sobretudo pela criatividade e intuição que permite ter uma visão holística da situação integrando sensações, racionalidade e imaginação.
Deixar de estar permanentemente ligado e em modo de fazer, fazer, fazer. Parar para fazer atividades sem qualquer relação com o trabalho, com a concorrência, com o mercado, com a indústria. Atividades que dão prazer e que permitam desfocar-se durante algum tempo do trabalho e focar-se de corpo e alma no que se está a fazer.
Paragens regulares semanais e consistentes. São tão importantes como a leitura atenta de emails, a leitura de dash boards, estudos e P&Ls, reuniões. Permitem aumentar a produtividade, a criatividade e multiplicar o potencial de sucesso do líder e, por conseguinte, multiplicar e ativar muito mais potencial nas equipas.
Não posso dizer que pessoalmente tenha sido intencional nestas paragens e que as tenha começado a partir de uma posição de equilíbrio e conforto. Pelo contrário, fi-lo por absoluta necessidade, numa altura de grande cansaço e algum desequilíbrio pessoal e profissional.
Assim descobri o Yoga. Não foi uma prática que me tenha conquistado e apaixonado desde logo, mas pouco a pouco comecei a notar os efeitos profundos da prática. Por isso, para mim hoje no meu plano semanal encaro-o como mais uma extensão do meu trabalho, no sentido em que não me permito não o fazer. É uma prioridade.
Há uma frase em sânscrito que diz: “yogah cittavrtti nirodhah”, que diz que o yoga significa cessar as flutuações da mente. O parar da nossa “mente macaco” em que saltamos de pensamento em pensamento.
Não sei se para o leitor, a sua parada obrigatória será o Yoga ou a dança, caminhadas, escalda, surf…
O que sei é que é ao líder é exigido muito. Que esteja sempre no topo do seu jogo e das suas capacidades. E que em momentos chave consiga fazer verdadeiros sprints, aguentar embates fortes, ter ou dar notícias duras e encontrar novas soluções.
Para mim, o Yoga trouxe-me a paz, calma e equilíbrio que necessitava para ser melhor líder e gestora. Em tempos de maior estabilidade e em tempos de turn around.
Turn arounds, liderança e Yoga! Combinação improvável. mas acertada, para mim! Qual será a sua?