Opinião
Três desafios para 2017
Com o ano a começar, partilho aqui três desafios que Portugal enfrenta num futuro próximo.
Se olharmos para a lista de empresas da Fortune 500 de 2015, vemos que só cerca de 10% têm mais de 50 anos. Empresas que moldam a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, como Airbnb, WhatsApp, Instagram, Uber, Dropbox ou Spotify, não existiam há 10 anos.
As 20 maiores empresas que vão moldar o nosso futuro daqui a 5 ou 10 anos, as que mais emprego irão criar, muito possivelmente ainda não foram criadas. Não há motivo nenhum para que algumas delas não possam surgir a partir de Portugal. É fundamental criarmos condições para apoiar as novas empresas.
Conscientes disso, lançámos em junho passado uma estratégia para o empreendedorismo, chamada Startup Portugal. Do seu conjunto de medidas, destaco os 400 milhões de euros em fundos de coinvestimento que se destinam a atrair para Portugal os melhores business angels e as melhores capitais de risco de todo o mundo.
Queremos atrair investidores que, mais do que capital, tragam know how e mais ambição e inovação às nossas empresas.
Com este propósito, lançámos durante o Web Summit o 200M, um fundo de 200 milhões de euros que permite a um investidor estrangeiro coinvestir com fundos públicos em start-ups portuguesas, sem que, para isso, tenha de criar uma entidade veículo em Portugal.
A segunda ideia em que proponho que Portugal se foque nos próximos anos, é a digitalização da economia. Um estudo da PwC apresentado no mês passado no Porto indica que vai subir de 32% para 86% a percentagem de empresas portuguesas que consideram que, nos próximos 5 anos, a sua atividade passará a ser eminentemente digital. Este é apenas um indicador que atesta que a revolução digital que nos rodeia é hoje absolutamente incontornável.
Para preparar as empresas portuguesas para a Indústria 4.0, o Governo tem estado, desde abril passado, a trabalhar com cerca de 100 empresas em grupos de trabalho para diferentes setores, como o Retalho, o Turismo, o Automóvel, os Moldes ou a Agroindústria. Estes grupos, compostos pelas maiores empresas dos seus setores, mas também por start-ups que dominam e estão a desenvolver soluções baseadas nas tecnologias características da 4ª Revolução Industrial, teve por missão produzir recomendações ambiciosas, mas realizáveis para todos os envolvidos, com uma agenda adaptada às necessidades e ao potencial da nossa indústria. Diversas das medidas resultantes já estão no terreno e contamos com a COTEC, a associação empresarial que, por excelência, está focada na inovação, para supervisionar o trabalho de implementação desta estratégia.
A terceira ideia de que quero falar, tem a ver com a aposta no conhecimento. Sem formação, sem ensino, sem ciência, Portugal não poderá liderar em nenhuma das ambições que qualquer um detenha para o País. Já não há fronteiras para a forma como o conhecimento se incorpora nas novas indústrias e o mesmo irá suceder nos setores mais tradicionais.
Um médico estuda ao longo de toda a sua vida para conhecer novas técnicas e novos princípios ativos que surgem a cada ano. Temos que encarar com a mesma naturalidade que um gestor, um engenheiro ou um operário sintam como sua obrigação a formação ao longo da vida. É preciso pensarmos em integração e partilha de conhecimento, nomeadamente com as entidades que detêm competências que podem ser úteis às empresas, de que são exemplos os centros tecnológicos, os politécnicos e as Universidades. É preciso prepararmos os nossos modelos de ensino e de formação nas empresas.
Muitas das medidas que saíram dos grupos de trabalho da Indústria 4.0, vão neste sentido e é nessas iniciativas que estaremos a trabalhar nos próximos meses. Todos temos a ganhar com isso.