Opinião
Traje de gala: casaca com condecorações
Se é um dos “happy few” convidados para o banquete de Estado em honra dos reis Willem-Alexander e Máxima da Holanda, na próxima semana, no Palácio da Ajuda, esta crónica pode ser uma preciosa ajuda para responder às suas dúvidas e evitar situações constrangedoras.
Antes de receber o convite deve ter sido contactado por alguém do Serviço de Protocolo de Estado que lhe perguntou se aceitava estar presente neste jantar oferecido pelo Senhor Presidente da República. É prática corrente só se enviarem convites impressos a quem já confirmou a sua presença pois ficaria muito mal recusar um convite de Sua Exa. o Presidente da República. É por isso que no canto inferior direito do cartão aparece escrito à mão ”p.m.“. Trata-se da abreviatura de “Pro memoria”, uma expressão latina que significa «para lembrar». A expressão impressa R.S.F.F. aparece, por isso, com um risco por cima, para que não tenha de confirmar novamente a presença.
No canto inferior esquerdo aparece a indicação do traje. No século XIX, a casaca era o traje de gala noturno por excelência. Atualmente em Portugal só é pedido para receções muito solenes em honra de soberanos. A maioria dos empresários portugueses não tem uma casaca no guarda-roupa. Terá, por isso, de a pedir emprestada a um amigo ou recorrer ao aluguer.
A casaca é preta com abas e tem bandas de seda ou cetim. Usa-se com calças da mesma cor (e, é claro, do mesmo tecido), ornadas, como as do smoking, com um galão que desce da cintura à bainha das calças. A casaca veste-se sobre uma camisa branca de colarinho partido e punhos singelos para usar com botões de punho. Entre a casaca e a camisa veste-se um colete branco de piqué.
A casaca pede um laço branco, ao contrário do laço do smoking, que é (ou devia ser) sempre preto. É por isso, aliás que, nos países de língua inglesa, quando o traje exigido é a casaca, o que se escreve no convite é «white tie»; enquanto, que se for smoking, o convite dirá «black tie». Em relação aos sapatos já não é necessário serem de verniz mas devem ser pretos e de atacadores. Os sapatos de fivela – muito bem engraxados – são aceitáveis, continuando a ser muito mal vistos os sapatos de pala, adequados para usar com fato escuro. As meias devem ser pretas e até ao joelho. E não deve usar relógio de pulso mas sim de bolso com corrente de ouro ou platina no colete. Os suspensórios são outro acessório muito útil para usar por baixo do colete em vez de um cinto.
Deve ter reparado que o convite menciona “Casaca com condecorações”. Se tiver dúvidas, consulte o “uso de insígnias” na Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas, na página da Presidência da República, de onde foram retirados os desenhos ilustrativos desta crónica, e que determina que ”as insígnias maiores das Ordens Honoríficas Portuguesas apenas podem ser usadas com traje de gala, ou uniforme correspondente, sejam estes militares, diplomáticos ou académicos”. Esta é, por isso, uma excelente oportunidade para exibir as insígnias que lhe foram atribuídas pelo Chefe de Estado. Se não tiver sido agraciado com um colar ou uma placa (maiores insígnias), poderá usar as miniaturas na lapela do casaco. “Nas cerimónias solenes, os agraciados com diversas condecorações podem usar as miniaturas dos respectivos distintivos e fitas suspensas de uma corrente ou de uma pequena barra metálica, colocada no topo do peito, do lado esquerdo dos uniformes ou dos vestidos, ou na lapela esquerda dos trajos ou uniformes adequados”.
Para as senhoras o traje é vestido comprido, o mais chique que tiver. Se tiver sido condecorada “as insígnias de senhora usam-se em laço, colocado do lado esquerdo do vestido”. Caso não tenha ainda recebido uma condecoração, esta é a ocasião ideal para tirar do cofre as suas melhores jóias verdadeiras: brincos compridos, gargantilha ou colar e pulseiras, caso o vestido não tenha mangas compridas. Não deve usar relógio, a não ser que este se possa confundir com uma jóia. Os sapatos devem ser de salto alto fino com carteira pequena e de mão. Para se proteger do frio, pode cobrir-se com uma capa preta de seda ou veludo, que deverá deixar guardada no vestiário do Palácio da Ajuda.