Opinião
Trabalhar em 2025
“A melhor forma de prever o futuro é criá-lo”- Alan Kay. Todos concordaremos que, no mundo do trabalho, os conhecimentos e competências do presente não são iguais aos do passado. E serão diferentes do futuro. A grande questão, explorada por sociólogos e tecnólogos, é que o tempo acelerou, pautado pelo ritmo da mudança.
A tecnologia dita “digital”, associada à gestão da informação e às comunicações, começou, nas últimas duas décadas, a integrar-se com todas as áreas de atividade, mudando hábitos, rotinas e processos de trabalho. Das ciências da vida à gestão do ambiente e das cidades, do mundo financeiro à logística e à indústria, nada fica como dantes. E, ano após ano, o incrementalismo gradual será cada vez mais convertido em disrupção.
Em inúmeras conferências, documentários, artigos de opinião, tenta-se prever o futuro. Nalguns casos, registando apenas aquilo que no presente já temos como adquirido e que precisa apenas de ganhar escala, eficiência operacional e usabilidade. Falo de tecnologias como machine learning (que suportará os vários tipos de inteligência artificial, com algoritmos cada vez mais sofisticados) ou blockchain (que permitirá segurança e rigor acrescidos nas transacções, com registos descentralizados). Ou as realidades aumentada e virtual, que revolucionarão as nossas experiências – como aprendemos, desfrutamos, interagimos com os outros. Ou a IoT (Internet of Things) que permitirá conectar tudo com tudo. E muitas mais, como Big Data, Cloud Computing ou Impressão 3D.
A grande questão, a meu ver pouco explorada, será como desenvolver competências que permitam a um qualquer profissional lidar com esta complexidade e inovação acelerada – e não apenas na perspectiva da “tecnicidade” de cada uma das inovações que mencionei antes. Competências que sejam mais universais e transferíveis, nas várias profissões deste novo mundo do trabalho. A título de exemplo, apresento aqui cinco que me parecem essenciais:
a) Gestão inteligente da informação – conseguir filtrar e categorizar o fluxo massivo de dados e informação (a cada vez maior sobrecarga cognitiva), concentrando-se no que é efetivamente importante e prioritário;
b) Colaboração Virtual – capacidade de trabalhar de modo produtivo, deslocado no espaço e no tempo, com empenho e entreajuda, como membro de uma equipa virtual;
c) Pensamento Computacional – capacidade de formular, analisar e resolver um problema, identificando as variáveis envolvidas e os algoritmos adequados – no fundo, compreender a linguagem das máquinas, pugnando assim pela solução óptima.
d) Aprendizagem Estruturada e Ativa – capacidade de “aprender a aprender”, com metodologias próprias, que potenciam a descoberta de fontes de informação e transformação desta em conhecimento útil, passível de ser aplicado.
e) Inteligência Social – capacidade de avaliar rapidamente as emoções das pessoas com quem se interage e, com empatia, adaptar a comunicação e a influência (essencial quando hoje lidamos com a diversidade de interlocutores, em contextos organizacionais cada vez mais abertos).
Estas (e outras similares) são competências que ganham progressiva importância na era digital mas que não são exclusivas das profissões ditas “tecnológicas”. Serão, de facto, relevantes para um programador como para um médico, um advogado, um engenheiro civil ou um operário que controle equipamentos em fábricas (cada vez mais) robotizadas.
Não pensemos que mudar de mindset e adquirir novas competências será algo importante lá para 2040. Será uma vantagem competitiva já hoje e algo mandatório num prazo de cinco anos.
Em Portugal, como podemos preparar-nos? De duas formas, pugnando pela educação de base de crianças e jovens e requalificando os adultos. Preparando todos para um mundo menos linear e mais complexo e imprevisível. Importará, nos vários estádios dos ensinos básico e secundário, proporcionar aos estudantes portugueses uma visão geral da tecnologia, conferindo-lhe a compreensão dos algoritmos que estão a mudar a nossa vida em sociedade.
Tal proporcionará níveis superiores de raciocínio estratégico e conceptual, capacidade acrescida de resolução de problemas, e consciência dos princípios de funcionamento de tudo o que nos rodeará – sensores, plataformas, redes sociais, e muito mais. Sem o esquecer o foco nas competências sociais atrás mencionadas, do pensamento crítico, para profissionais cada vez mais autónomos de hierarquias e a interdisciplinaridade, vital para compreender o mundo à nossa volta.
Serão importantes, para os “ativos”, programas em grande escala de requalificação profissional, assentes em conteúdos revelantes para a sociedade digital. O foco deverão ser competências pertinentes para o trabalho colaborativo, cada vez mais de cariz digital (teletrabalho, equipas virtuais, open innovation, plataformas colaborativas); e ênfase na formação dos Líderes, garantindo a sua capacitação para lidarem com a transformação digital e com os novos modelos de trabalho inerentes.
Em suma, preparemo-nos. Reestruturemos os sistemas educativo e formativo, herdados do século XX, e preparemos todos os Portugueses, mais ou menos jovens, para serem melhores cidadãos e profissionais.