Opinião

Por que é tão difícil recrutar pessoas com perfil empreendedor?

Leonor Almeida, coordenadora de Mestrado do ISG*

Em gestão de recursos humanos, o recrutamento de pessoas com perfil empreendedor é uma questão que merece alguma reflexão.

Quando pensamos num mercado de trabalho onde a oferta de emprego é inferior à procura, poderá parecer surpreendente que alguns empregadores tenham muita dificuldade em recrutar para determinadas funções, que haja oferta de trabalho que não se consegue preencher. Funções que pressupõem um perfil dito empreendedor, por exemplo. De que se trata? Ser empreendedor implica uma série de fatores nomeadamente, económicos, políticos, sociais e culturais. Não nascemos totalmente empreendedores. Algumas características mais estruturais da nossa personalidade são fulcrais no empreendedorismo, mas uma grande parte de competências treináveis e de fatores ambientais contribuem também para o Ser Empreendedor.

Ouvimos com frequência que as pessoas não querem trabalho, mas sim emprego. Não se trata meramente de uma questão semântica. Efetivamente, esta afirmação tem na base a problemática de que falamos. Como ser empreendedor, tendo aversão ao risco? Procurando segurança e estabilidade, em detrimento de tudo o resto? Ganhar dinheiro sim, mas sem correr riscos!

Como ser empreendedor sem ter propensão para inovar, sem conseguir lidar com a incerteza e ambiguidade, sem conseguir assumir riscos? Uma das competências que considero determinante, enquanto matéria prima para a inovação e empreendedorismo, é sem dúvida a criatividade. Criatividade lato sensu, criatividade enquanto pensamento divergente, capacidade de criar coisas novas, pensar coisas novas e encontrar novas soluções para os problemas.

Atualmente, verifica-se cada vez mais a necessidade das Organizações serem flexíveis, no sentido de conseguirem adaptar-se às constantes mudanças ao nível da sua envolvente, para que possam assegurar a sua sobrevivência e fazer face à forte competição que existe entre empresas. Na Era da Aprendizagem, do Conhecimento e do Saber, não basta fazer melhor do que as outras Organizações, mas sim fazer de forma diferente, para conseguir um lugar de destaque relativamente às empresas concorrentes. Assim, a criatividade é o primeiro passo para a inovação, que se traduz pela implementação bem-sucedida de novas e adequadas ideias. A criatividade é vital para o sucesso a longo prazo de uma Organização, uma vez que o mundo empresarial é dinâmico e sofre constantemente de alterações inevitáveis. Tendo em conta um mundo em constante mudança, as empresas que se preparam para o futuro, implementando novas ideias e sendo por isso empresas inovadoras, têm mais possibilidades de prosperar. É hoje reconhecido que a inovação é um fator-chave da competitividade organizacional, sendo as novas ideias, os novos métodos e os novos produtos os motores potenciais do crescimento económico.

Numa Organização com uma cultura de apoio à inovação, os indivíduos empreendedores podem dar continuidade às suas ideias, sendo apoiados e incentivados pelo sistema. Uma organização inovadora necessita então de desenvolver um clima que favoreça a criatividade, tanto a nível individual como grupal, promovendo posteriormente a inovação. Assim sendo, duas das componentes importantes, para que uma Organização consiga adaptar-se, evoluir e destacar-se relativamente às restantes, são a criatividade e a inovação, que permitirão o desenvolvimento de soluções inovadoras e úteis, que irão surgir como resposta aos mais diversos obstáculos e desafios que se impõem nos dias de hoje às Organizações: Empreendedores precisam-se!

* Leonor Almeida, coordenadora do Mestrado em Gestão do Potencial Humano do ISG

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