Start-ups que tiveram tudo e hoje não são nada
Existem start-ups que arrecadaram milhões e desapareceram no mesmo ano. Conheças as histórias que tinham tudo para ter um final feliz, mas que ficaram pelo caminho, como é o caso da start-up portuguesa Mobitto que nem Cristiano Ronaldo salvou.
Uma start-up é uma empresa de criação recente, baseada nas novas tecnologias e com um conceito inovador ou disruptivo dentro do mercado em que atua. Estas caraterísticas facilitam o seu rápido crescimento. Em primeiro lugar, pelo seu caráter disruptivo que apresenta uma solução inovadora para um problema. Em segundo lugar, por serem empresas de base tecnológica, o que permite replicar o modelo para outros países com alguma facilidade, facilitando uma rápida expansão internacional. São também estas as razões que convencem os investidores, que veem neste tipo de empresas o próximo Facebook. Mas, na maioria dos casos, o novo Facebook não chega.
Segundo um estudo da Spain Startup, só uma em cada dez empresas deste tipo prolonga a sua vida mais de três anos. As razões do fracasso podem ser infinitas: desde um plano de marketing mal-executado até ao aparecimento de outro player que ganha quota de mercado ou u, inclusivamente, planos de negócio mal planeados desde o início.
O site Merca2.es partilhou alguns exemplos que certificam que o crescimento de uma start-up pode ser tão exponencial como a sua queda. As empresas de que falamos a seguir estiveram há alguns anos na boca de todos e agora nem existem.
Arrecadaram milhões e desapareceram
A moeda virtual BitCoin está na boca de todos. No entanto, a falta de regulamentação está a acabar com muitas propostas que atraíram o interesse dos investidores e dos media. A BitLendingClub é uma start-up búlgara que, no ano de 2014, foi capaz de fechar uma ronda de financiamento de capital semente de mais de 200 mil de euros. Há alguns meses, anunciou o seu fecho, devido à mencionada falta de regulamentação.
Existem casos muito mais surpreendentes, como o da marketplace Buildzar. Uma ecommerce cuja atividade principal era a venda de material de construção, tanto a empresas como a particulares. En menos de um ano, conseguiu arrecadar quatro milhões de dólares (3,7 milhões de euros) e anunciar o seu fecho.
Em Espanha também há casos de fracassos. Um dos casos mais conhecidos é o do guru do empreendedorismo Pau García-Milà. No ano de 2014, a Telefónica adquiriu a plataforma de escritório virtual eyeOS, fundada por García-Milà. O objetivo era reforçar os serviços cloud baseados em software livre. Conceito que, como tendência, ninguém discute. No entanto, não o souberam rentabilizar, como reconheceu o diretor de inovação da Telefónica, Gonzalo Martín Vila, à Europa Press.
A empresa mediatizou-se, entre outros motivos, pela precocidade dos seus fundadores. Marc Cercós e o próprio García-Milá foram capazes de vislumbrar, com 17 anos, tendências tecnológicas que hoje em dia são inquestionáveis.
Vários prémios internacionais e os acordos com a IBM acrescentaram a fama desta empresa que hoje não existe. No ano de 2012, Cercós reconheceu numas declarações ao blog especializado Tecnolomía que não estava de acordo com o rumo tomado pela empresa.
Também mostrava as suas desavenças com a outra metade da eyeOS (García-Milá), chegando a reconhecer que estas tiveram “bastante” influência na sua decisão. “Irrita-me que as pessoas pensem que esteve relacionado com o facto de ele ser uma cara pública e eu não. Inclusivamente na eyeOS ficaram com essa imagem. Não é verdade. Nunca me interessou dar conferências nem aparecer na televisão, sou uma pessoa de produto, interessa-me criar coisas. A relação com Pau complicou-se, foi uma questão de perda de confiança”, reconheceu.
Outro caso muito mediático é o da rede social Secret, um ambiente onde o utilizador era completamente anónimo. É possível arrecadar 35 milhões de dólares e fechar em menos de um ano? O seu CEO e cofundador David Byttow respondeu afirmativamente a esta questões nos seus perfis sociais em meados de abril do ano passado. Anunciando também que devolveria o dinheiro arrecadado.
Este tipo de sucessos também tem sido protagonizado pelas multinacionais mais importantes do planeta. O caso mais chamativo é o da Coca-Cola, que, há quatro meses, anunciou o encerramento da sua aceleradora de start-ups. Os seus planos de negócio passavam pela sua expansão para Berlim e Istambul.
Na verdade, apenas conseguiu financiar doze projetos, ao longo dos seus três anos de vida. Reconheceu posteriormente a sua incapacidade para dar continuidade às ideias, após o empurrão inicial. Segundo fontes próximas da organização, as start-ups apresentavam um ritmo de crescimento e uma flexibilidade organizativa que a Coca Cola não podia assumir, nem sabia gerir.
A marca de bebidas tem uma série de processos internos que se afastam bastante do âmbito tecnológico. Esta foi outra das chaves do fracasso. Muitos analistas norte-americanos questionaram-se porque a marca não se concentrou no que sabe fazer (bebidas), em vez de se deixar levar pela moda das tech-startups, com as quais, na realidade, não tinha nenhuma experiência.
Casos em Portugal e Espanha
Que a maioria das start-ups vai falhar, já se sabe. Mais difícil é aceitar o desfecho. Pedro Veloso fundou em 2012 a Limetree, um álbum digital destinado a pais que queiram documentar o crescimento dos filhos. Passados dois anos, fechou a empresa. Para Pedro Veloso, o momento mais difícil não foi aquele em que percebeu que devia fechar, depois de ter falhado uma ronda de investimento. Aí, “não o dissemos alto, foi a parte fácil”. A parte difícil, explicou, “foi dizer aos nossos clientes. Recebemos vários emails de utilizadores a perguntarem porque não voltávamos a tentar, já que éramos tão bons”.
“A Limetree teve um “crescimento razoável”, conseguiu atrair investimento nacional e estrangeiro com o qual conseguiram desenvolver o projeto e chegar a um modelo de negócio sustentável, encontrando o canal que se revelou ideal para atrair utilizadores que conseguiam converter em assinantes do serviço. A margem operacional era positiva mas faltava dar o passo seguinte para ganhar escala e para isso era necessário conseguir investimento de 500 mil a 1 milhão de euros que permitiria desenvolver mais a plataforma e investir em marketing para atrair os utilizadores. E foi esse o passo que falhou”, explicou em entrevista ao Tek Sapo.
Mas há muitos outros casos. “Ao fim de 2 anos e meio, chegou a altura de tomar uma decisão. A mesma não é fácil, mas necessária. O Mobitto é um projeto que nasceu com o objetivo de tornar a publicidade em algo interessante para os consumidores. Fazer com que as pessoas tenham interesse em interagir com as marcas que mais gostam e ao mesmo tempo serem recompensadas por isso. Pelo caminho, experimentámos vários cenários, modelos de negócio e diferentes versões das nossas aplicações. No entanto, apesar de todo o feedback positivo que íamos tento, faltava sempre qualquer coisa. Terá sido culpa da nossa equipa? Da indústria? Do país? Neste momento pouco importa o porquê. Infelizmente, resta-me a mim, como CEO do Mobitto informar que as operações irão ser encerradas a 31 de Janeiro de 2014”. Foi assim que José Simões, fundador da Mobitto, anunciou o encerramento da start-up que chegou a contar com o investimento de Cristiano Ronaldo.
Outro dos exemplos que não teve um final feliz chega-nos do setor da biotecnologia. A Bioalvo tornou-se um caso de estudo internacional e mudou uma geração de empreendedores em Portugal, os da ciência. O que começou como uma ideia testada em concursos de ideias, tornou-se numa das maiores empresas nacionais de biotecnologia e num exemplo de sucesso. Ao longo dos seus 11 anos de existência, passaram por ela mais de 100 pessoas. Um sonho que acabou.
Em abril de 2013, os acionistas maioritários da empresa decidiram desinvestir e desmantelar a empresa. No dia 30 de outubro de 2013, Helena Vieira saía do maior projeto da sua vida profissional.
Também de Espanha nos chegam histórias de start-ups que fecharam as portas. A EsLife ligava particulares sem tempo de procurar profissionais de limpeza. Uma start-up que chamou a atenção de Lanzadera, o famoso programa de aceleração promovido pelo presidente da Mercadona. Neste caso, faltou a visão na hora de dar alta na Segurança Social aos trabalhadores que se inscreviam no portal. Conseguiu financiamento público e privado de cerca de 800 mil euros. Hoje, não existe.
E um último exemplo espanhol. Sem dúvida disruptivo, mas talvez demasiado. A Apparcando nasceu no país vizinho com o objetivo de que os proprietários de uma garagem rentabilizassem as horas nas quais os seus lugares de estacionamento não estavam a ser utilizados. Na aplicação apareciam esses lugares privados que se encontravam disponíveis, de forma que o utilizador conseguisse estacionasse aí com preços muito mais baixos do que fazê-lo num parque público.
O modelo, simplesmente, não conseguiu captar a atenção dos utilizadores, de maneira que, no final de 2016, deixou de operar. O website já está desativado, pelo que não há rasto da Apparcando.