Start-up norte-americana apresenta solução para a solidão no trabalho

Nunca houve tantas teorias sobre a relação entre a produtividade e a felicidade dos trabalhadores como agora. Contudo, o trabalho remoto parece estar a tornar os funcionários mais isolados e menos felizes. A BetterUp quer resolver o problema e está a usar a ciência para ir ao fundo da questão.
A Universidade da Califórnia levou recentemente a cabo uma pesquisa sobre as ligações sociais e a forma como o trabalho descentralizado e remoto influenciam a solidão dos trabalhadores e têm implicações no seu desempenho e na retenção de talentos. Neste estudo, que teve como universo trabalhadores em contextos reais de trabalho, os cientistas quiseram saber como diferentes tipos de interação afetam o sentimento de pertença e os sentimentos de isolamento.
Habitualmente para uma pesquisa desta natureza, os investigadores iriam recrutar um pequeno grupo de universitários para ser o universo de pesquisa. Por outras palavras, isto significa que a maioria das investigações realizadas anteriormente sobre a melhoria da vida dos funcionários não foi conduzida ou analisada em locais de trabalho reais.
Para Alexi Robichaux, cofundador e CEO da start-up de coaching de liderança BetterUp, o método habitual de estudos é algo extremamente problemático, pois não tem a visão efetiva de um funcionário em contexto de trabalho. Neste sentido, há cerca de três anos, Alexi Robichaux teve uma ideia ambiciosa. A BetterUp, sediada em São Francisco, começou a desenvolver o que o fundador descreveu como o seus próprio “Bell Labs”, um símbolo de investigação e desenvolvimento tecnológico que mostra como a tecnologia afeta as pessoas. No caso da BetterUp Labs, o alvo seria a gestão de recursos humanos.
O que é a BetterUp e como tudo começou
A BetterUp é uma empresa de tecnologia focada na ciência comportamental e o “BetterUp Labs” funciona como a área de pesquisa e investigação comportamental que valoriza os produtos da BetterUp. Esta iniciativa atraiu os nomes mais sonantes nesta área de Investigação e Desenvolvimento (I&D). Entre os consultores contam-se Martin Seligman, o pai da psicologia positiva; Adam Grant, psicólogo organizacional da Wharton; Fred Kofman, consultor de desenvolvimento de liderança da Google e John Seely Brown ex-diretor da Xerox PARC. O objetivo da BetterUp com esta iniciativa é traduzir a ciência em ações práticas e tornar as empresas em locais de trabalho mais felizes, saudáveis e produtivos.
O fundador da BetterUp tornou-se empreendedor muito cedo. Aos 26 anos, a primeira start-up que criou, a Socialcast, foi comprada pela VMware, uma empresa de software global. A experiência foi interessante, mas o stress e a ansiedade provocados pela exigência e o ritmo da empresa levaram-no ao despedimento. Posteriormente, Robichaux lançou um outro negócio, mas renunciou ao cargo de CEO. Entretanto, começou a pensar em criar uma organização para o desenvolvimento de liderança entre pares, inicialmente dirigida a jovens do ensino secundário.
Durante o período de recuperação do esgotamento provocado pela experiência profissional, o fundador da BetterUp fez terapia, life coaching, executive coaching, participou no programa de desenvolvimento pessoal do Landmark Forum e em diversas outras estratégias de autoajuda. Leu o trabalho de Martin Seligman sobre psicologia positiva, que explora perspetivas como as pessoas podem prosperar e ter vidas significativas e cultivando o que há de melhor em cada um. Apostou também num coach pessoal para treinar a disciplina e focou-se em assuntos relacionados com resiliência e agilidade cognitiva.
Tendo por base a sua própria experiência pessoal, Alexi Robichaux começou a desenvolver uma visão mais abrangente sobre o crescimento profissional. Se as empresas querem que os funcionários prosperem, estas devem adotar uma abordagem de “pessoa completa” para o desenvolvimento, compreendendo tanto emoções quanto competências. Segundo este fundador, quando as pessoas sentem que o trabalho é orientado para o seu crescimento pessoal, os funcionários das empresas consideram-no mais significativo, contudo as empresas apostam apenas no desenvolvimento de carreira.
A solução da BetterUp consiste em fornecer aos funcionários coaching ao vivo e individual, baseado em investigações científicas. Os gestores seriam o principal alvo, mas também o apoio deverá ser alargado a todas as áreas das empresas.
Robichaux e o cofundador Eduardo Medina lançaram a BetterUp em 2013. Atualmente, a empresa tem quase 200 funcionários e mais de mil formadores que trabalham remotamente e possuem credenciais licenciadas de terapeuta ou coaching executivo. Os clientes da empresa incluem Airbnb, Logitech e Warner Bros. A BetterUp já obteve mais de 100 milhões de dólares ( 90 milhões de euros) de vários investidores, entro os quais a Threshold Ventures (antiga DFJ) e a Lightspeed Venture Partners.