Smart Cities: as cidades de amanhã
Decorreu esta semana o ZOOM Smart Cities, um evento com foco nas cidades inteligentes e nos desafios contemporâneos da utópica simbiose entre a cidade e a tecnologia.
Cidade inteligente, inovadora ou mesmo um sítio onde possa criar os seus filhos e um negócio. Estas são as várias definições dadas pelos diversos oradores que passaram pelo palco do Grande Auditório da Universidade Nova de Lisboa. Não há nenhum significado consensual em relação ao termo “smart city”.
O grande desafio urbano atual é elevar as cidades a outro nível, recorrendo à utilização dos dados disponibilizados para fomentar o seu crescimento. Estes números devem ser usados com o objetivo de potenciar a experiência dos turistas e contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos locais.
A definição de “smart city” muda consoante a evolução da tecnologia. Se em 2008 a designação destas cidades do futuro para os holandeses era uma cidade livre de poluição, hoje em dia passa por melhorar a vida dos cidadãos e ter uma utilização mais sustentável dos recursos disponíveis.
Uma das maneiras de melhorar o ecossistema urbano é dar ferramentas a start-ups, de forma a executarem aquilo que sabem fazer melhor: arranjar soluções. É o caso da Citibrain, que arranjou uma solução tecnológica para diminuir o tráfego nas zonas mais frequentadas ao redirecionar os carros para áreas com menos trânsito e mostrando, através da sua aplicação “mobile”, os lugares de estacionamento livres ao pé do utilizador. Esta solução não só diminui o tempo perdido pelos condutores, como também diminui a poluição.
Mas nem sempre é fácil criar novas soluções. Durante o evento foram também abordadas as dificuldades criadas pelas entidades reguladoras aos novos negócios. Segundo o advogado João Caiado Guerreiro, que introduziu este tema, a burocracia cria constrangimentos à evolução das cidades, o que terá implicações na legislação que deverá evoluir no mesmo sentido.
O tema do turismo também foi abordado no evento. Se grande parte dos esforços de criar uma “smart city” passa por tornar a cidade um local atrativo para os turistas, esta inovação, segundo vários oradores, devia ser também utilizada na melhoria da qualidade de vida nos locais, visto que há zonas como Veneza, por exemplo, em que o rácio diário entre turistas/locais é de mais de dez para um.
Doug Lansky, um jornalista de viagens, também apresentou as suas ideias sobre o que é uma cidade inteligente e como melhorar estes espaços urbanos para aperfeiçoar tanto a experiência turística como a vida dos locais. A fuga do “mainstream” e a procura de experiências únicas é uma das tendências do turismo de hoje em dia. Neste sentido, as agências de viagens e os países tentam vender as localizações mais remotas para atrair mais turistas. Este tipo de iniciativas não só piora as condições de vida das pessoas que escolheram este tipo de sítios para viver, como também não se traduzem nas experiência desejadas pelos turistas, uma vez que os locais acabam por estarem cheios.
Com isto, o jornalista norte-americano propôs algumas medidas às cidades, como criar sustentabilidade a partir do turismo, todas com o objetivo do turista deixar mais dinheiro na cidade que o acolheu. Lansky deu ainda um exemplo bastante prático e real: a criação e boa manutenção de casas de banho públicas. Segundo o jornalista, os turistas acabam por voltar para o hotel por não haver casas de banho públicas com boas condições, acabando por não voltar para a rua e “gastar dinheiro”.
A corrida das grandes cidades à evolução e criação de “smart cities” está patente nos países mais desenvolvidos. Espante-se, no entanto, se achar que a evolução destas atuais selvas urbanas passa por implementar tecnologia de topo nos locais mais populosos. Apesar de não haver uma definição consensual, uma cidade inteligente passa por dar o melhor que pode – com os recursos que tem ao seu dispor – aos seus cidadãos. A grande dificuldade é reunir os dados disponibilizados por estudos, máquinas e sensores para melhorar a vida destas pessoas.
Segundo o Conselho Mundial da Água, atualmente, 32% da população mundial ainda não tem acesso a instalações sanitárias. Será que para estas pessoas uma “smart city” seria um local com este tipo de acomodações?