Semeia Ventures tem 1,75 milhões de euros para investir em start-ups
500 mil euros estão destinados este ano para três projetos, apesar de terem em carteira propostas para dez anos. A entidade quer fazer três investimentos por ano.
Os investidores da Semeia Ventures têm 1,75 milhões de euros para investir em start-ups, dos quais 500 mil euros estão já destinados para três projetos neste ano.
“Temos 1,75 milhões de euros para investir, mas estamos a falar em 500 mil para este ano, já que a nossa meta é a de fazer três investimentos por ano”, disse Paulo Pinho, investidor da Semeia Ventures, entidade que representa uma nova geração de Business Angels, ou seja, investidores de valores relativamente reduzidos nas fases iniciais (‘early stage’) de start-ups.
Em entrevista à Lusa, Paulo Pinho explicou que a Semeia investe em média 150 mil euros por projeto e que, “pelos pedidos que estão a chegar, pela dinâmica de mercado e qualidade das ‘startups'”, “talvez” consigam ir a mais: “Queríamos ir a cinco”.
Mas as propostas de investimento são várias e, por ano, a Semeia Ventures chega a receber 100 projetos candidatos. “Temos ‘pipeline’ (em carteira) para dez anos. Por semana, recebemos oito a dez start-ups portuguesas e outras vêm mesmo de fora e batem-nos à porta”, contou por sua vez Nancy Brito, empreendedora e investidora da Semeia Ventures.
Em curso, a Semeia tem agora três negociações, com duas ‘start-ups’ portuguesas e uma holandesa, que pretende trazer para Portugal, nas áreas da ‘Internet of Things’ (Internet das Coisas), alimentar e dos sistemas de medida do tráfego ‘online’.
Em setembro do ano passado, a Semeia investiu 100 mil euros na marca de retalho ‘online’ de roupa masculina J.Lisbon – lançada em 2014 por José Cabral, empreendedor e autor do blogue O Alfaiate Lisboeta – simultaneamente como investidores, parceiros de negócios e ‘venture builders’, ou seja, levam competências e envolvem-se na gestão do negócio no dia a dia.
Já em janeiro, investiu outros 100 mil euros na UOY – Uncover the Original You, empresa que ela própria criou para moda masculina “feita à medida” e que tem um ‘atelier’ no Príncipe Real, em Lisboa. Este investimento foi o primeiro que realizou, depois de ter conquistado a melhor classificação no concurso lançado em maio passado pelo Governo para financiamento de Business Angels, tendo recebido 750 mil euros.
E, num momento em que a chamada indústria 4.0 ganha força, Paulo Pinho fala sobre a “grande oportunidade” que as fábricas de vestuário portuguesas – e cuja “confeção é excelente” – têm de venderem diretamente ao cliente final, se apostarem na digitalização e através de marcas como a J.Lisbon e a UOY.
“Ainda não estamos lá, mas vamos lá chegar. Vamos pôr todas as ferramentas no digital”, disse Nancy Brito, explicando que o digital permitirá que através de um processo eletrónico o produto vá diretamente de quem produz ao cliente final.
Por sua vez, Paulo Pinho lembra como a UOY nasceu precisamente de uma fábrica, a Davion, em Oliveira de Hospital, que já investiu alguns milhões de euros no sistema informático, na automatização dos processos e em máquinas específicas para a produção por medida.
“Eu era assessor do Conselho de Administração e considerava que a fábrica devia passar a fazer os seus produtos um por um e não em linha. Quando isso aconteceu, começaram a aparecer ali pessoas da Austrália, da Nova Zelândia e da China, entre outros, mas sem fazermos qualquer promoção”, contou.
Quem os recomendou foi aquela que é considerada a melhor fábrica de tecidos do mundo, a Loro Piana, contou o investidor, acrescentando: “E foi então que a fábrica começou a mudar tudo. O número de costureiras aumentou e estas começaram a ser preparadas – ‘agora tu já não fazes todas as peças iguais por dia, cada produto é diferente do outro'”.
Hoje, a UOY trabalha com esta fábrica e outras duas, a Crialme, em Paredes, e a Diniz e Cruz, em Lisboa, todas em diferentes estádios de desenvolvimento do seu processo de digitalização.
Mas uma coisa é certa e já foi alcançada, diz Paulo Pinho: “Há uma desintermediação de toda a cadeia de valor tradicional. Não há ninguém no meio entre a fábrica e o consumidor final, só as nossas plataformas. Para se ter uma ideia, nós conseguimos fazer um fato por medida a cerca de metade do valor que todas as lojas da avenida da Liberdade [em Lisboa] praticam”.
Os passos na internacionalização estão a ser feitos na Bélgica, em Antuérpia, Espanha, em Madrid, e na Suíça, quer em Lausanne, quer em Zurique, estando já os olhos postos também em Munique, na Alemanha.
“Temos a ambição de que este fundo daqui a ‘x’ tempo tenha 10 milhões de euros e não 1,75 milhões. E queremos que o ‘builder’ tenha mais gasolina para fazer acontecer mais coisas”, afirmou, citado pela RTP.