Entrevista/ “As pessoas estão mais predispostas para serviços sharing-economy”

Francisco Bento, cofundador da Rnters

Quer alugar uma prancha de surf? Um smartphone? Esse é o core business da Rnters, uma plataforma peer-to-peer de aluguer de bens do dia-a-dia com pouco mais de um ano de atividade.

Francisco Bento, um dos cofundadores da start-up, explicou ao Link to Leaders os desafios diários que a Rnters enfrenta para promover este conceito empresarial e chegar aos consumidores. E congratula-se com  o facto dos portugueses estarem cada mais predispostos para serviços baseados em sharing-economy

Como é que surgiu a Rnters?
Surgiu na sequência de uma viagem que o Guilherme Guerra, um dos três cofundadores, fez pela Ásia. Quando se viu privado de acesso a material de surf de qualidade numa das localidades por onde passou, pensou: “como é possível não poder contar com a comunidade local para alugar material?”. Foi quando voltou dessa viagem que começou a explorar os primeiros conceitos do que viria a ser a Rnters, uma plataforma peer-to-peer de aluguer de bens do dia-a-dia.

Qual é o vosso modelo de negócio?
Commision-based. A Rnters cobra 20% de todas as transações. Por exemplo, ao alugar uma GoPro durante três dias por 50€, a Rnters cobra 10€ desse valor.

O mercado tem sido recetivo?
Tem sido bastante recetivo à ideia quando nos conhece. E temos beneficiado de um efeito positivo de passa-a-palavra. O grande desafio passa por dar a conhecer a Rnters como uma alternativa segura à compra a segmentos de clientes que ainda não têm conhecimento desta alternativa.

Quem é o vosso público-alvo principal?
A nossa estratégia tem-se vindo a adaptar à recetividade dos utilizadores. O público-alvo caracteriza-se por ser maioritariamente “young adults” entre os 23 e os 35 anos, de classe média. Dentro desta definição temos claramente dois subsegmentos: portugueses e estrangeiros, concretamente pessoas que fazem Erasmus e turistas. Estamos ativamente a trabalhar os dois.

Como é que garantem a integridade dos produtos alugados pelos “Rnters”?
Temos  um processo de segurança dividido em três componentes.  Primeiro fazemos uma two-step validation dos nossos utilizadores. Ou seja, o primeiro passo é confirmar o número de telefone, em seguida, é necessário fornecer dados como nome e nacionalidade bem como NIF e CC. Em segundo lugar, e já com os dados recolhidos, emitimos um Termo de Responsabilidade entre as duas partes que responsabiliza quem aluga (rnter) em caso de danos que prejudiquem o correto funcionamento do artigo alugado. Em terceiro lugar temos um sistema de Pins que é sempre trocado ao mesmo tempo que o artigo alugado. Por exemplo, o Pedro aluga a GoPro da Matilde. Depois de validar que a GoPro alugada está nas condições desejadas, o Pedro irá trocar o seu código Pin pelo artigo alugado. Na altura da devolução, será a Matilde a trocar o seu código Pin pela sua GoPro. A troca dos Pins é bastante importante porque estes servem de data de início e fim da transação na elaboração do Termo de Responsabilidade.

Visto que o negócio passa alugar um produto a um desconhecido, como é que ganham a confiança das pessoas que disponibilizam os bens?
De uma forma geral, as pessoas estão cada vez mais predispostas a serviços baseados em sharing-economy. A Uber e o Airbnb mudaram o paradigma da compra deste tipo de bens e é com naturalidade que vemos esta tendência a chegar a outros bens e serviços da sociedade. Os consumidores entendem que já não precisam de ter algo para poderem usufruir do mesmo. Na Rnters, além da segurança dada pelo nosso sistema, focamo-nos dar suporte constante aos nossos utilizadores todos os dias. Este processo é um dos pilares da nossa operação diária. É muito interessante analisar que a conversão de um utilizador que interage connosco, num aluguer, é altíssima.

Quais são os produtos mais procurados na vossa plataforma?
GoPros definitivamente! Bem como smartphones , geralmente para substituição temporária. O segmento dos produtos eletrónicos é, de facto, o mais procurado. Ainda neste contexto, já tivemos um aluguer muito interessante de um utilizador que alugou um smartphone para experimentar o jogo Pokemon Go num encontro. Material para eventos, como colunas e luzes, também é muito procurado. Outro segmento que tem bastante procura é o de produtos para atividades e desporto ao ar livre como, por exemplo, tendas de campismo, material de escalada, etc.

A start-up tem pouco mais de um ano. Que balanço fazem deste primeiro ano de operações?
Tem sido extremamente positivo e gratificante.Tem sido um ano de aprendizagem constante a todos os níveis, tanto na perspetiva de negócio como a nível técnico. Somos uma equipa de três pessoas e, embora cada um tenha o seu papel no projeto, sabemos que é essencial dominar todas as áreas.
Ao longo deste ano eu diria que a maior aprendizagem que podemos retirar é que há sempre alguma coisa por fazer porque há sempre alguma coisa que se pode melhorar. Penso falar por inúmeras start-ups mas não me lembro da última vez que saímos do escritório com a lista de tarefas terminada. Acreditamos que é esse foco que nos leva a atingir bons resultados. Temos uma estratégia claramente definida e trabalhamos todos os dias de forma positiva para atingirmos os nossos objetivos. A grande conclusão que tiramos e que queremos partilhar com todos os que estiverem na fase em que estávamos há um ano é que devemos mesmo ser persistentes, mas de uma forma prática, ou seja, temos que meter as mãos na massa, temos que falar com pessoas e temos mesmo que investir tempo a aprender a mexer nas ferramentas certas para podermos atingir os números que ambicionamos!

Quais foram os maiores desafios, enquanto start-up, que enfrentaram até agora?
O maior desafio que enfrentamos acaba por ser o marketing. Na verdade, nenhum de nós tinha experiência nesta área. É importante perceber que quando um projeto arranca, ninguém te conhece e o orçamento é muito limitado. No nosso caso, é ainda mais difícil porque estamos a criar um mercado que (ainda) não existe.
A nossa abordagem tem sido sempre de fazer o máximo número de testes com o menor orçamento. O nosso processo passa por definir personas num segmento de produtos em que queremos criar procura. Testamos inúmeras variações de comunicação (imagens, copy, meios) e quando atingimos boas conversões, repetimos o processo para novos segmentos.

Quais são as maiores dificuldades que um empreendedor português enfrenta?
As maiores dificuldades que um empreendedor português enfrenta são a desconfiança do mercado para novas ideias. Esta é uma opinião muito pessoal, mas é muito português dizer primeiro que não antes de experimentar. Somos muito aversos à mudança (especialmente tecnológica) e isso cria muitas vezes custos adicionais na comunicação. É caso para dizer, não é defeito, é feitio. Depois há a dificuldade do acesso a capital num super early stage. Apesar de termos bons programas de aceleração e incubação, como o “Lisbon Challenge” da Beta-i ou o Vodafone Power Labs, que ajudam os projetos a dar os primeiros passos há ainda uma grande dificuldade de acesso a capital na ordem das poucas dezenas de milhares de euros que permitem às start-ups fazerem uma primeira contratação crítica e testarem os seus modelos de negócio num primeiro ano de operação. Não acreditamos que seja preciso queimar imenso capital para testar todas as suposições de negócio que fazemos. Pelo contrário, orgulhamo-nos de não o fazer, mas nem sempre as founding teams reúnem as skills necessárias para testar os seus modelos de negócio. Depois há ainda a falta de estímulos ao desenvolvimento de PMEs. Ok, é verdade que temos os estágios IEFP mas nem todos os interessados em trabalhar em start-ups são recém-licenciados sem experiência profissional. Muitos já fizeram o seu estágio em grandes empresas antes de decidirem que querem uma experiência num ambiente diferente. Além de que nem sempre as start-ups procuram pessoal com tão pouca experiência. Contratar é muito caro. Por exemplo, um salário mínimo custa quase o dobro a uma empresa.

Projetos para o futuro da Rnters?
No último Natal  lançamos a campanha Pinheiro Bombeiro  em que usando os  pinheiros de uma herdade da zona de Coruche, que teriam que ser abatidos de forma a minimizar o risco de incêndios,  oferecemos a possibilidade de alugar um pinheiro verdadeiro. Cada um custava 20 euros e doamos 50% para material para os bombeiros voluntários de Portugal. Gostaríamos de replicar este tipo de iniciativa noutras ações sazonais ao longo do ano. São uma excelente oportunidade para mostrar o aluguer como uma alternativa sustentável e mais barata à compra.

Nota: Start-up registada no Viable Report

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