Opinião
Riscos e oportunidades da IA
O avassalador desenvolvimento tecnológico a que assistimos no mundo está, de facto, a revolucionar o mercado de trabalho. Mas ainda não são absolutamente claros os contornos desta revolução.
Na verdade, persistem muitas dúvidas sobre os riscos e os efeitos das tecnologias digitais sobre as diferentes profissões, desde as mais sofisticadas às mais rudimentares. Até há pouco tempo, por exemplo, pensava-se que a Inteligência Artificial (IA) ia extinguir em particular as atividades profissionais rotineiras, previsíveis, eminentemente físicas e de baixo valor acrescentado. Contudo, a emergência de soluções de IA generativa (ChatGPT, DALL-E ou Sora, por exemplo), que possibilitam a criação de textos, imagens e vídeos a partir da análise de conteúdos preexistentes, veio ameaçar também as profissões mais qualificadas e com maior dimensão intelectual.
Isto significa que, com a IA generativa, passam a ser automatizáveis tarefas que implicam raciocínio, criatividade, comunicação e coordenação. Como tal, profissões ligadas às artes, à escrita, à comunicação, à publicidade, aos audiovisuais, às finanças ou ao direito podem sofrer um abalo semelhante ao das profissões de baixa ou média especialização. O risco de extinção da atividade tanto acomete operários ou administrativos como artistas, publicitários, jornalistas, tradutores, contabilistas ou matemáticos, caso as perspetivas mais negativas da chamada “Nova Revolução Industrial” se confirmem.
Mas há também perspetivas mais otimista sobre o impacto da IA no emprego. Importa lembrar que a humanidade viveu idênticos receios, aquando da Revolução Industrial do século XIX. Na altura verificou-se uma transformação profunda do trabalho, com o fim de muitas profissões, mas não a inatividade generalizada da população. Pelo contrário: foi criado mais emprego e menos pesado, exaustivo e entediante para os trabalhadores.
Na “Nova Revolução Industrial” a transformação do trabalho será, também ela, muito profunda. Haverá certamente destruição de emprego, a extinção de algumas profissões e a automatização de muitas tarefas. Mas tudo isto poderá ser amenizado com a criação de novos empregos em setores de ponta como a informática, as telecomunicações, a energia, o ambiente ou saúde, bem como com o aumento generalizado da produtividade laboral e com uma melhoria do bem-estar no trabalho e na vida das pessoas em geral.
Uma coisa é certa: a IA veio para ficar. As empresas não vão deixar de maximizar as potencialidades desta tecnologia para reduzirem os seus custos, serem mais produtivas e eficazes e ganharem competitividade. Inquéritos sobre este tema indicam, aliás, uma vontade crescente das empresas europeias, nomeadamente portuguesas, de utilizarem ferramentas de IA nos seus processos e operações, à semelhança do que já fazem, em maior escala, as suas congéneres norte-americanas.
Neste cenário, a atitude mais avisada é começar a preparar o tecido empresarial e o mercado de trabalho para os impactos da IA. Isto passa, desde logo, por dar formação especializada aos trabalhadores das empresas, para que estes ganhem competências digitais e com isso fiquem capacitados para enfrentar as mudanças introduzidas pela IA. Por outro lado, as empresas devem primeiro identificar as oportunidades abertas pela IA, para só depois decidir que tarefas vão ser automatizadas, que tarefas vão ser executadas com o apoio da IA e que tarefas vão continuar a ser realizadas por profissionais.
*Associação Nacional de Jovens Empresários