Opinião

Retenção de talento nos “novos” tempos

Luís Pires, Team People Manager Leader, da Team IT

Quem trabalha na área de Recursos Humanos, nomeadamente na área de Recursos Humanos no mundo do IT, sabe que as pessoas são escassas face às oportunidades existentes e que o objetivo atual das empresas já não passa apenas pelo recrutar, mas também por garantir que as pessoas ficam durante o maior tempo possível na empresa. Não é de espantar, por isso, que o tema com maior ênfase atualmente, seja o da retenção de talento.

O que conseguimos observar é que, ao longo dos últimos anos, as empresas têm feito um esforço cada vez maior no sentido de agradar os seus colaboradores e de tornar o seu trabalho e as suas rotinas profissionais, cada vez mais prazerosas. Para tal, foram introduzidas no espaço de trabalho, as típicas PlayStations, as mesas de ping-pong, entre outros tipos de entretenimento que pudessem funcionar como um momento de descontração e de convívio entre colegas. E tudo isso pareceu funcionar, mas, por um curto período de tempo. As pessoas continuaram a ser escassas e a mudar de empresa, sempre que isso lhes parecesse ser a melhor opção.

Então, a verdadeira pergunta que se coloca é: como é que as empresas se podem posicionar no mercado de forma a serem atrativas, ao mesmo tempo que retêm as suas pessoas? E a resposta é muito simples: olhando para a evolução do mercado de trabalho e das necessidades das pessoas.

Olhando para as três últimas gerações, podemos perceber que existiram três grandes revoluções: a revolução industrial, a revolução da informação e a revolução social.

A revolução industrial é da geração dos nossos avós e caracteriza-se por ser uma época em que as pessoas trabalhavam para sobreviver. A prioridade era fazer dinheiro suficiente para que as necessidades básicas de vida fossem garantidas para a família. Nesta geração, observa-se que as pessoas tipicamente ficavam a vida toda numa só empresa e, segundo muitos relatos, elas mantinham-se mesmo que o ambiente de trabalho fosse rígido e abusivo para com elas. As oportunidades eram poucas e as pessoas não podiam arriscar ficar sem trabalho porque isso traria graves consequências.

Depois, surgiu a revolução da informação que ocorreu na geração dos nossos pais e esta caracteriza-se por ser uma época em que sobreviver já não está na mesa, uma vez que os nossos avós já trataram dessa parte, mas caracterizava-se por construir um bom nível de vida. Esta Era iniciou com o nascimento e crescimento das primeiras empresas de IT, que trouxeram mais oportunidades para o mercado. Nesta geração, o importante era construir um nível de vida para a família, em que esta pudesse ter uma boa casa, um bom carro e uma boa educação para os filhos.

Atualmente, encontramo-nos na revolução social, em que sobreviver já não está na mesa e o nível de vida também não – o que é importante para esta geração é a qualidade de vida. Atualmente, as oportunidades são quase infinitas e o acesso ao conhecimento, em muitos casos, é também gratuito. Ter um bom espaço físico de trabalho, ter um bom ambiente de trabalho, ter uma função bem definida e atrativa, ter várias oportunidades em aberto, uma grande possibilidade de progressão de carreira e um reconhecimento frequente, tornaram-se as necessidades básicas da nova geração. Digamos que é preciso uma capacidade de imaginação extra, para podermos criar estratégias de retenção de talento, para a geração atual.

A empresa de que faço parte, por exemplo, está muito atenta às necessidades das suas pessoas e de todas as que se queiram juntar a este projeto. Foca-se na qualidade de vida que pode trazer à equipa. Como empresa “remote first”, o espaço físico de trabalho não tem limitações nem fronteiras. Como uma empresa que aposta no “work-life balance”, o tempo desperdiçado em deslocações ao escritório deixa de fazer sentido. Investe fortemente na saúde e bem-estar dos colaboradores, física e mentalmente, disponibilizando consultas de nutrição, psicologia, medicina geral e familiar, aulas de yoga, entre tantas outras. Está ciente do seu impacto na comunidade, e tem iniciativas de corporativismo sustentável que permitem que as comunidades cresçam. Para tal, cria parcerias com instituições que permitem potenciar a economia local ao fixar pessoas no interior do país com salário de cidade.

Sendo “remote first”, a empresa criou o primeiro escritório móvel do país. Com os Team Tours, a equipa da sede desloca-se às várias regiões de Portugal convivendo com trabalhadores e reunindo com empresas locais e faculdades. Avançou com o TEAMático, o podcast que aborda temas como trabalho remoto, para que seja atraída a devida atenção para temas que tanto defende.

Estas ações vão ao encontro dos “novos” tempos e podem ser mensuradas. Em apenas um ano, a empresa ultrapassou a barreira dos 10.000 seguidores no LinkedIn. No final de contas, todas as empresas que não olharem para a história e evolução do mundo profissional e criarem mecanismos que reflitam sobre aquilo que realmente importa para as pessoas, irão sempre ter grandes desafios na atração e retenção.

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