Entrevista/ “Queremos compras sem sair de casa, não estar limitados aos horários ou dependentes dos outros”

Sérgio Rodrigues, CEO da StoresAce

“Acedemos a milhões de data points de todo o tipo de retalho e, através de algoritmos de machine learning, podemos corelacionar todo o tipo de negócios para prevermos vendas ou consumos. Isto levará a uma otimização de recursos humanos ou de compras que, de outra maneira, seria impossível”, explicou Sérgio Rodrigues, CEO da StoresAce, em entrevista ao Link To Leaders, revelando que a tecnológica prevê a abertura de dois escritórios em Espanha e na Europa Central até 2023.

Imagine uma plataforma que agrega um conjunto de ferramentas, que permite, verificar em qualquer altura e em qualquer lugar o nível de vendas diário de um espaço comercial, analisar se a faturação está em linha com o orçamentado, avaliar o stock, estudar os preços de venda e de custo e detetar os picos de atividade. A  StoresAce desenvolveu uma solução tecnológica que resolve o problema de gestão de múltiplas lojas em simultâneo. Criada em 2017, a StoresAce conta com mais de 400 clientes, entre eles a Jerónimo Martins, Flying Tiger, Spar e, mais recentemente, o Burger King Iberia.

Esta start-up da Maia faturou no ano passado 300 mil euros. Confiante na solução desenvolvida pela empresa e na expansão internacional que agora se iniciou, Sérgio Rodrigues aponta que, em 2023, o volume de negócios poderá chegar aos 1,5 milhões de euros.

Como e quando surgiu a StoresAce?
A solução StoresAce surgiu no seguimento de algumas conversas tidas pelos fundadores do projeto, Ivo Marinho e Daniel Silva, com empresas do setor retalhista, que recorrentemente lhes apresentavam um desafio: a falta de respostas específicas para a gestão eficaz de contextos multiloja. Até então, as organizações tinham de utilizar um conjunto de ferramentas, muitas delas com necessidade de uma quantidade de recursos grande para produzirem dados e, mesmo assim, com dificuldade de fornecerem inteligência que as ajudasse a tomar decisões estratégicas.

Os fundadores, ambos profissionais da área tecnológica, em conjunto comigo como advisor, perceberam que se tratava de uma lacuna com potencial e começámos, assim, a desenvolver a solução. Uma vez no primeiro cliente, a empresa foi criada e, com o segundo cliente – o Grupo Jerónimo Martins -, o conceito ficou provado.

Quais têm sido os grandes desafios da StoresAce? Se pudesse o que teria feito de diferente?
Os maiores desafios com que nos temos deparado, curiosamente, não dizem respeito à implementação da solução em si, antes com a atração de talento e o crescimento da equipa da StoresAce. Temos verificado que a vinda de grandes multinacionais para Portugal tem gerado um aumento dos valores de remuneração, principalmente quando falamos de recursos técnicos, o que faz com que esteja a ser difícil contratar e reter pessoas que nos interessam puxar e ter na empresa.

“A StoresAce é uma plataforma web especializada na gestão multiloja. Trata-se de uma solução totalmente online, alojada na cloud, usada para gestão de redes de lojas (…)”.

Que tipo de solução disponibilizam e quais as mais-valias?
A StoresAce é uma plataforma web especializada na gestão multiloja. Trata-se de uma solução totalmente online, alojada na cloud, usada para gestão de redes de lojas, nomeadamente dos setores da restauração e do retalho, desde a base da operação aos níveis intermédios. Permite, em tempo real, um controlo total e sempre acessível de uma rede de lojas, em qualquer lugar e em qualquer momento, o que confere flexibilidade e fiabilidade aos utilizadores.

Em termos de particularidades da nossa plataforma, posso destacar mais três: a resposta que a solução garante ao desafio da integração global com qualquer sistema pré-existente no cliente; o facto de permitir uma coerência em termos de decisões e dados, bem como a capacidade de utilizar inteligência artificial e machine learning, para que as compras sejam eficientes e a previsão de vendas seja precisa; e finalmente, a mais-valia de, quer o cliente tenha cinco, cinquenta ou quinhentas lojas, o valor inicial de arranque com a StoresAce ser exatamente o mesmo.

Um estudo da Adyen apresentado no ano passado referia que 36% dos retalhistas portugueses têm uma estratégia formal e ativa de digitalização, sendo que apenas 10% têm canais físicos e online diferentes e não pretende uni-los. Quais os desafios que se colocam ao setor do retalho?
O que temos visto é que momentos de crise pressionam muito negativamente a restauração e o retalho especializado, mas, simultaneamente, são tempos positivos para o retalho alimentar. No caso do retalho alimentar, apesar de viver tempos de crescimento, estes momentos são de contenção. Isto quer dizer que as empresas adiam investimentos em sistemas de IT tradicionais e, ficam com canais físicos e digitais separados. Ora, isto muitas vezes faz com que as estratégias de digitalização falhem, pois não é suposto existirem estruturas duplicadas para canais diferentes.

Nós, percebendo isso mesmo, oferecemos uma solução que faz da gestão omnicanal um processo transparente e, acrescido, trazemos duas valências importantes ao setor: ganhos em eficiência muito grandes, com as ferramentas de mobilidade, do acesso à informação em tempo real e da introdução de inteligência artificial para tomar decisões melhores; e ferramentas que permitem adquirir mais clientes, bem como abrir canais de venda novos.

Sabemos que a compra online teve um boom em Portugal durante a pandemia. Que expectativas tem agora o consumidor no regresso ao retalho físico? O que mudou e vai prevalecer?
A experiência de compra online é irreversivel e, apesar de as pessoas quererem voltar às lojas após o tempo em que foram impedidas de o fazer, o comportamento passará a ser mais híbrido: visitas a lojas que forneçam experiências de compra distintivas e, compras online para os que já se habituaram. O retalho físico não desaparecerá, mas terá de se adaptar aos novos canais de venda, sejam plataformas do tipo Uber ou Glovo, sejam plataformas dedicadas de comércio eletrónico.

A StoresAce acrescenta muito valor a esse comportamento híbrido, pois, sendo completamente omnicanal, permite que o retalhista gira as suas lojas do mesmo ponto, implementando modelos de venda física ou digital, com vendas e entregas online ou pickup in store.

“Queremos compras sem sair de casa, não queremos estar limitados nos horários, ou dependentes da disponibilidade de outros”.

Qual a sua visão para o futuro do retalho? Quais acha que serão as tendências?
O retalho será mais cómodo e as experiências de consumo serão tendencialmente mais importantes. Queremos compras sem sair de casa, não estar limitados aos horários ou dependentes dos outros. Os retalhistas vão aproximar-se destas necessidades e, para isso, têm de implementar experiências de consumo mais unattended, inteligentes e convenientes.

Alguns exemplos disto são lojas totalmente automáticas, nas quais pegamos no que pretendemos e somos reconhecidos para o pagamento ser automático ou, lojas digitais que detetam o tamanho das pessoas para identificarem os tamanhos certos dos produtos. Tudo isto tirará partido das tecnologias emergentes, nomeadamente da inteligência artificial e do machine learning, que permitirá aos retalhistas antever os hábitos de consumo e automatizar todos os processos que permitam o retalhista ser mais eficaz a servir o seu cliente.

Que planos tem a StoresAce para os próximos meses em termos de oferta?
No que diz respeito a funcionalidades da solução, estamos agora a acrescentar uma camada de inteligência, pois a quantidade de dados que a plataforma gere é imensa – cerca de 80 milhões de detalhes de vendas por mês, o equivalente aos dados resultantes de 10 milhões de vendas por dia.

Temos também projetos em curso para utilizar machine learning para otimizar encomendas, e inteligência artificial para estimar necessidades de recursos e produção.

Quanto faturaram no ano passado e quais as previsões para este ano?
Em 2021, a StoresAce faturou um total de 300 mil euros, sendo que no ano anterior tínhamos registado uma faturação de 200 mil euros. 2020 foi um ano que, devido à pandemia, não registou grandes investimentos do lado dos retalhistas. O nosso objetivo para este ano é duplicar o resultado do ano passado e, em 2023, atingirmos a meta de 1,5 milhões de euros. Acreditamos que estas previsões podem melhorar com a expansão em curso para o centro da Europa.

De  que  forma  o  apoio  da Frenétik Priority tem  contribuído  para  o  vosso  sucesso?
Quem investiu na StoresAce foi um veículo de investimento/fundo chamado Frenétik Priority. Os administradores do fundo são associados da Invicta Angels. O investimento da Frenetik Priority foi importante no momento em que a StoresAce estava a precisar de lançar o produto. Um investimento angel tem características diferentes de outro tipo de investimentos, sendo que no caso da StoresAce, beneficiámos não só do investimento financeiro como também do networking e conhecimento de negócio da equipa da Frenetik. Mesmo numa fase mais avançada continuam a intervir. Nesta fase, por exemplo, estão a ajudar a preparar a próxima ronda de financiamento, seja na ponte com as capitais de risco, seja no apoio ao desenvolvimento do pitch deck.

“Procuramos no curto prazo a consolidação da marca StoresAce em Espanha e na Europa Central, geografias nas quais se prevê o surgimento de dez mil lojas novas, e nas quais ambicionamos abrir dois escritórios”.

Expandir para outros mercados está no horizonte da empresa?
Sem dúvida que sim. Em termos de negócio, procuramos no curto prazo a consolidação da marca StoresAce em Espanha e na Europa Central, geografias nas quais se prevê o surgimento de dez mil lojas novas, e nas quais ambicionamos abrir dois escritórios até 2023. A resposta dos clientes ao produto e à equipa tem sido muito positiva, o que é um bom incentivo para os planos que traçámos.

No médio prazo, o nosso objetivo é endereçarmos o mercado da América do Norte, alavancado por clientes existentes, como a Burger King (Grupo RBI). Como temos em mãos uma solução de gestão, que se liga por um lado a sistemas de ponto de venda e, por outro, a sistemas de contabilidade, está abstraída das questões fiscais de cada país, o que em termos de internacionalização é uma vantagem.

Como vê a StoresAce dentro de dois anos?
Estamos a fazer um esforço intenso para termos a StoresAce a ser “a solução” solução para qualquer empresa que tenha cadeias de lojas – é dessa forma que a perspetivo nos próximos 18 meses.

Projetos para o futuro da StoresAce?
Em termos de desenvolvimento, a StoresAce tem um roadmap dividido em três grandes áreas: Customer Aquisition, Customer Loyalty e Customers of the Future. As primeiras duas áreas centram-se na aquisição de clientes e na sua manutenção; a terceira é o que consideramos ser o produto do futuro.

Em Customers of the Future, trabalhamos em inteligência artificial, sendo que a StoresAce está numa situação privilegiada em relação à maior parte das empresas do mercado, pois tem muitos dados na plataforma e consegue tirar partido deles. Acedemos a milhões de data points de todo o tipo de retalho e, através de algoritmos de machine learning, podemos corelacionar todo o tipo de negócios para prevermos vendas ou consumos. Isto levará a uma otimização de recursos humanos ou de compras que, de outra maneira, seria impossível.

Respostas rápidas:
O maior risco:
a falta de recursos humanos.
O maior erro: assumir que os nossos parceiros teriam sucesso comercial.
A maior lição: todas as empresas têm uma solução “concorrente”.
A maior conquista: ter um cliente, com mais de mil lojas, a usar a solução da StoresAce em tempo real.

Comentários

Artigos Relacionados