Quase 1 em cada 4 jovens com ensino superior tem empregos que não exigem o seu nível de escolaridade

Apesar da maior qualificação dos jovens, o mercado de trabalho não os absorve em ocupações adequadas às suas qualificações, revela insight da Fundação José Neves.

A percentagem de jovens sobre qualificados aumentou significativamente em 2022, invertendo uma tendência de decréscimo que se tinha vindo a registar desde 2018. Dados do mais recente insight da Fundação José Neves mostram que, no final do ano transato, quase 1 em cada 4 jovens entre os 25 e os 34 anos com ensino superior trabalhava em profissões que não exigiam este nível de escolaridade.

Fonte: Fundação José Neves

Citando dados do Eurostat, a Fundação José Neves revela que a percentagem de jovens entre 25 e 34 anos com ensino superior completo aumentou de 27,5%, em 2011, para 44,4%, em 2022. Ou seja, em 11 anos verificou-se um aumento de 16,9 pontos percentuais. Este crescimento fez com que, em 2022, a proporção de jovens com ensino superior em Portugal fosse superior à média europeia (42%).

De acordo com o insight da Fundação José Neves, entre 2013 e 2018, a taxa de sobre qualificação entre os jovens trabalhadores aumentou de 17,1% para os 22,9%. Já entre 2018 e 2021, verificou-se uma redução de três pontos percentuais nesta proporção (dos 22,9% para os 19,9%). Não obstante, em 2022, a tendência de decréscimo inverteu-se e a taxa de jovens qualificados aumentou 2,5 pontos percentuais até aos 22,4%.

Em qualquer um dos anos analisados, a sobre qualificação foi sempre superior para as mulheres (24,1% em 2022) em comparação com os homens (19,9% em 2022). Este indicador não será alheio ao facto de a proporção de mulheres jovens com ensino superior ter sido sempre superior à dos homens na última década. Por exemplo, em 2022, a percentagem de mulheres dos 25 aos 34 anos com ensino superior foi de 51,9%, 15 pontos percentuais acima dos homens na mesma faixa etária (36,9%).

Em média, níveis de escolaridade mais elevados estão associados a vantagens no mercado de trabalho, como maior taxa de emprego, emprego de melhor qualidade e salários superiores. Contudo, para uma parte significativa dos mais qualificados, sobretudo os jovens, existe um desajustamento entre as suas qualificações e a ocupação que desempenham.

O insight conclui ainda que se verifica uma correlação entre os níveis de educação mais elevados e o aumento da sobre qualificação. Apesar da maior qualificação dos jovens, o mercado de trabalho não os absorve em ocupações adequadas às suas qualificações. Este desajustamento repercute-se na qualidade do emprego dos jovens trabalhadores, quer a nível salarial quer na evolução das suas carreiras profissionais.

Este fenómeno pode traduzir-se numa perda de retorno do investimento individual e nacional feito em educação, com consequente subaproveitamento e depreciação das competências recentemente adquiridas, limitando o potencial de progresso do talento nacional, avança a Fundação José Neves.

A elaboração deste insight recorreu aos dados do Inquérito ao Emprego facultados pelo Instituto Nacional de Estatística e aos dados do Eurostat.

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