Opinião

Qual é a melhor rotina de relaxamento ou descanso após um momento de avaliação?

Lurdes Neves, investigadora e docente no ISG*

Uma série de estudos recentes mostra como o repouso vigilante é a melhor forma de descansar sem prejudicar a aprendizagem e a memorização.

Esses resultados podem ser explicados pelo facto de que antes de a codificação/armazenamento ter lugar, portanto, logo após a aprendizagem de algo, as nossas representações de memória são propensas a interferências. Quanto mais longo for o período de tempo entre o processamento da informação (por exemplo, quando se aprende algo ou quando se estuda) e a atividade de interferência, mais estável é a memória. Por outro lado, quanto mais estável for a memória, menos as pessoas se esquecem e, portanto, mais se lembram.

As memórias interferem umas com as outras, resultando numa diminuição do desempenho da memória. Assim, o repouso após a aprendizagem deve favorecer a retenção da memória mais do que uma tarefa levada a cabo no intervalo (por exemplo, aprender vocábulos), uma vez que a codificação de novo material após a aprendizagem prejudica o acesso ao conteúdo da memória previamente aprendido… Por outro lado, o aumento do intervalo de tempo entre o conteúdo da memória a ser recordada e a informação que distrai leva a uma interferência menos intensa e, consequentemente, a um melhor desempenho da memória.

De igual modo, as memórias são afetadas por interferências após a aprendizagem. Contudo, ao contrário das teorias de interferência, têm frequentemente uma base neurofisiológica e neurocientífica. Pressupõe-se que a informação nova leva tempo a estabilizar, ou seja, a ser transformada em memórias mais duradouras e menos vulneráveis à interferência. Quanto maior for a distância temporal entre a captação de informação e a atividade que interrompe, mais consolidação pode decorrer, resultando em menos esquecimento e melhor desempenho da memória retardada.

Em suma, um longo período de repouso ativo (que envolva algum tipo de atividade) interrompe os processos de codificação e consolidação, enquanto, por outro lado, um repouso de vigília reforça esses processos.

Então, o que significa tudo isto em termos de aprendizagem? Enviar mensagens no WhatsApp, navegar na Internet e jogos são bons exemplos de descanso ativo. Descansar de forma vigilante é mais eficaz em termos de aprendizagem e de memorização, contribuindo para otimizar a aprendizagem.

*Presidente do Conselho Geral e Coordenadora Científica da Pós-Graduação em Gestão Escolar do ISG – Instituto Superior de Gestão

 

Referências
. Dewar, M., Alber, J., Butler, C., Cowan, N., & Della Sala, S., (2012).«Brief wakeful resting boosts new memories over the long term», Psychological Science, 23, , pp. 955-960.
. Martini, M., Martini, C., Bernegger, C., & Sachse, P., (2018) «Post-encoding wakeful resting supports the retention of new verbal memories in children 13-14 years», British Journal of Developmental Psychology, 37, , pp. 199-210.
. Martini, M., Riedlsperger, B., Maran, T., & Sachse, P. (2017), «The effect of post-learning wakeful rest on the retention of second language learning material over the long term», Current Psychology, 39, , pp. 299-306.
. Martini, M., Zamarian, L., Sachse, P., Martini, C., & Delazer, M. (2019), «Wakeful resting and memory retention: a study with healthy older and younger adults», Cognitive Processing, 20, , pp. 125-131.
. Wixted, J. T. (2004), «The psychology and neuroscience of forgetting», Annual Review of Psychology, 55, , pp. 235-269. 

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Lurdes Neves realizou o Doutoramento em Psicologia, com especialização em Psicologia da Educação. Áreas de Especialização em Psicologia da Educação, Psicologia das Organizações, Orientação Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira e Coaching Psicológico.

Foi Coordenadora de Gabinetes de Apoio ao Docente em Agrupamentos de Escolas. Especialista em formação nas áreas de Liderança, Avaliação de Desempenho, Gestão de Trabalho em Equipa, Gestão de Conflitos, Formação Pedagógica Inicial e Contínua de Formadores, Diagnóstico, Conceção, Avaliação e Gestão da Formação, Motivação, Liderança de Equipas e Coaching  com públicos diversificados do setor público e privado.
Consultora especializada em Agrupamentos de Escola, Gestão de Recursos Humanos, Projetos de Liderança Educativa, seleção e recrutamento para o desenvolvimento da liderança estratégica, implementação do projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, coaching educativo e diferenciação pedagógica em sala de aula.
Foi Investigadora no Centro de Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Autora de escalas de perceção de liderança e motivação no trabalho adaptadas a Portugal; Diversas comunicações e publicações nacionais e internacionais na área da liderança, coaching, mudança organizacional, educação e formação profissional.

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