Opinião
Psicologicamente inseguro?
De há uns tempos a esta parte fala-se muito em segurança psicológica. Na expressão mais comum convencionou-se dizer: segurança psicológica refere-se à criação e manutenção de um ambiente em que as pessoas se sentem livres para compartilhar ideias, fazer perguntas, expressar preocupações e, também, admitir erros, sem medo de serem julgados ou punidos.
Ou seja, a segurança psicológica será a responsável por gerar um ambiente que permite comportamentos de vulnerabilidade. Até aqui tudo certo. Mas isto é apenas uma parte da questão, senão vejamos.
Pergunta: a quem são permitidas vulnerabilidades e a quem é devida segurança psicológica? Resposta simples: às pessoas das empresas e organizações. Todas? Todas.
Aprofundando, então: Que pessoas?
O líder de uma equipa também deve sentir segurança psicológica para com os seus liderados e a sua equipa? Sim, parece óbvio que sim. Porém, há aqui uma parte por explicar e que não é assim tão óbvia quanto isso. Todos querem segurança psicológica. Os líderes terão de a assegurar. Mas os líderes, poderão tê-la?
Esta questão é absolutamente central.
Antes de mais, porque está a redefinir o paradigma da liderança, nomeadamente no pós-pandemia. Claro que a liderança deve sentir segurança psicológica. Mas quem lha dá? O seu líder? Ou os seus liderados? E se este líder for o último da “cadeia alimentar”, i.e., o CEO? Quem lhe dá segurança psicológica?
Depois, porque expressar ideias, as suas ideias, admitir erros, sentir-se livre para atuar tem um quê de complexo. Se um líder mostrar as suas ideias, como um todo, se mostrar a sua liberdade de expressão e se se sentir livre na forma e no conteúdo alguém virá dizer que enlouqueceu. Se mostrar preocupações, aqui d’el rei! Como podemos ser liderados por uma pessoa que não sabe exatamente para onde vai ou que tem dúvidas?
Como poderemos acreditar, estar comprometidos com a empresa, se as próprias lideranças são vulneráveis, praticam erros e não são livres, de todo, na sua forma de expressão? Só serão líderes se viverem em contenção. Vivendo sob os holofotes da avaliação castradora dos seus liderados jamais serão pessoas com segurança psicológica. Porquê? Porque os seus erros, as suas falhas, a sua vulnerabilidade, as suas preocupações não dão segurança psicológica, nem à empresa nem aos liderados.
Ou seja, os líderes que vão buscar segurança psicológica em casa, que nasçam com ela, mas que não a tragam para a empresa. No dia em que o fizerem saberão que os seus liderados os acham líderes fracos. E isto faz emergir um tremendo paradoxo.
Ser um líder fraco é o pior que se pode ter. Porém, eu enquanto liderado, posso e quero a prerrogativa de ser fraco e vulnerável. Trata-se da minha segurança psicológica enquanto liderado.
Ser um líder que erra é mau porquanto atirar-me-ão à cara os erros quando o líder não os deve atirar à cara dos seus liderados. Trata-se da segurança psicológica dos liderados.
Dito isto e postas as coisas nestes termos, ser um líder, hoje, é perder toda a liberdade. Porque a segurança psicológica só se pode assegurar aos liderados. Esses podem ter liberdade de ação. Mas esses, os liderados, não sabem nem reconhecem a necessidade de segurança psicológica dos líderes. Nem tão pouco lhes dão liberdade. Não os querem chefes. Mas não sabem fazer deles líderes. Porque não sabem ser liderados.
Portanto, a segurança psicológica que tanto se quer é coisa gira. Mas só quando os liderados souberem a forma como devem dar liberdade, deixar errar e experimentar, aceitando, os seus líderes. Até lá, apenas teremos uma segurança psicológica vista por um prisma e nunca pelos dois lados. E a conclusão é que os líderes, paradoxalmente, “não são pessoas da empresa”. Mas são eles que têm de garantir que os liderados são pessoas da empresa!