Opinião

Procura-se país competitivo para relação de investimento

Carlos Sezões, coordenador da Plataforma Portugal Agora

Atração de investimento! – eis o anseio repetido até à exaustão, por qualquer responsável político, desde um primeiro-ministro ao presidente de uma pequena autarquia. Um desejo legítimo e de saudar, uma vez que é dos investimentos, especialmente dos de grande dimensão, que surgem os meios para criar empregos, reproduzir riqueza, gerar inovação e financiar os bens e serviços públicos que usufruímos.

Mas, questiono-me, será que todos teremos a real noção das condições estruturantes para tornar um país ou uma região apelativos para atrair os tão ansiados investimentos? Esta não é, seguramente, uma ciência oculta!

O Fórum Económico Mundial (WEF) publica anualmente o seu ranking global de Competitividade. Numa lista de 141 países estudados, no último estudo Portugal surge em 34.º lugar. A competitividade é aqui estudada de forma holística, num conjunto de áreas: as instituições e seu funcionamento, o nível de regulação, as infraestruturas, a educação, nível de ensino superior e formação, os mercados de trabalho, a fiscalidade, a inovação e a tecnologia, entre outras que, objetivamente, tornam alguns países mais atrativos e apelativos que outros.

Num outro ranking que me chamou a atenção há dias, o IMD World Competitiveness Yearbook, Portugal ocupa a 36.ª posição. Por curiosidade, o líderes deste ranking têm sido nos últimos anos a Suíça e Singapura – cujo sucesso se explica pelas suas economias abertas e um robusto comércio internacional, pelo facto de serem ambas hubs de investimento, pelos seus sistemas educativos de excelência, por terem mercados de trabalho atrativos e flexíveis e pelas suas excelentes infraestruturas tecnológicas.

Neste ranking, Portugal apresenta alguns pontos positivos: a qualidade das leis para a imigração, a força de trabalho feminina, as nossas boas qualificações (especialmente nas áreas de engenharia), a nossa capacidade de exportação e as nossas infraestruturas. À luz desta análise, Portugal deveria melhorar em algumas áreas-chave: na criação de um quadro fiscal e regulamentar mais favorável às empresas e ao investimento, na definição de uma estratégia nacional de inovação e empreendedorismo, na transformação digital, nas reformas no setor público (eficiência da administração) e nas reformas mais estruturais nas áreas da justiça, saúde e segurança social. E num sistema educativo mais orientado para as metodologias e competências do futuro.

Portugal deveria ainda responder com sentido de urgência aos desafios demográficos – essencialmente, o envelhecimento da população e a natalidade e a promoção de uma imigração qualificada para incrementar o talento nacional. Por último, Portugal deveria também avançar na regulação inteligente dos mercados de trabalho do futuro – numa realidade, pós-pandemia, em que a geografia deixará de ser uma variável crítica para atrair o talento a nível mundial.

Em suma, se pensarmos de modo global, olhando para o mundo como o nosso mercado, aprendendo com as melhores referências, mitigando os nossos pontos fracos e aperfeiçoando os pontos fortes, conseguiremos construir um roteiro de maior sucesso. Pena que, quando nos lembramos do debate político nacional, assente na “espuma dos dias”, vemos que estas questões estão quase completamente ausentes. Precisamos de um novo sentido de prioridades. E de um quadro mental diferente na política portuguesa.

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Carlos Sezões

Carlos Sezões

Carlos Sezões é atualmente Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders, startup focada na transformação organizacional/ cultural e no desenvolvimento do capital de liderança das empresas. Foi durante 10 anos Partner em Portugal da Stanton Chase, uma das 10 maiores multinacionais de Executive Search. Começou a sua carreira no Banco BPI em 1999. Assumiu depois, em 2001, funções de Account Manager do portal de e-recruitment e gestão de carreiras www.expressoemprego.pt (Grupo Impresa). Entrou em 2004 na área da... Ler Mais..

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