Entrevista/ “Precisamos de dar crédito à ciência e usar os instrumentos à nossa disposição para maior segurança”

Pedro Figueiredo, diretor-geral do Instituto Galénico

O Instituto Galénico aproveitou a ameaça do novo coronavírus para concentrar esforços na produção de desinfetantes e não ficou por aqui. Em entrevista ao Link To Leaders, Pedro Figueiredo, diretor-geral da empresa, fala da nova solução 100% nacional que acabam de desenvolver que pretende revolucionar a esterilização do ar e reduzir a propagação de vírus e bactérias.

Se é verdade que o Covid-19 alterou os nossos hábitos e as nossas rotinas, também é verdade que contribuiu para o surgimento de novas soluções. Na altura em que surgiu a pandemia, o Instituto Galénico (IG), empresa de produtos de saúde, cosméticos e outros produtos químicos, direcionou todos os esforços para a produção de água oxigenada e de um desinfetante para limpeza de superfícies. Esta era uma área que já estava a ser trabalhada pela empresa sediada em Sintra, mas que veio a ser acelerada.

O IG não ficou por aqui. Mais recentemente lançou a Steril-Aerios, uma gama de equipamentos, com três modelos distintos – Steril-Aerios Flexi, Sterial-Aerios Pro e Steril-Aerios Systems –  que permitem esterilizar o ar, tornando-o respirável e livre de vírus.

Falámos com Pedro Figueiredo, diretor-geral do IG, sobre a sua mais recente gama desenvolvida em Portugal para esterilizar o ar e que resultou de um investimento de mais de 150 mil euros, e sobre a estratégia da empresa para o próximo ano que passa por um “maior investimento em investigação e desenvolvimento; maior investimento em comunicar melhor”.

Como surgiu a ideia de desenvolverem o Steril-Aerios?
O Steril-Aerios resulta duma decisão estratégica, firme, do Instituto Galénico de se constituir como ator de topo na área da desinfeção/esterilização. Este era um conceito que vinha a ganhar forma e que foi acelerado pela extrema necessidade de responder à situação crítica causada pela pandemia da Covid-19, por ação do vírus SARS-CoV-2. O Instituto Galénico atuava já na desinfeção/esterilização vertente pessoa, aumentou o espectro de atuação para a vertente superfícies e coisas, e procurou uma solução tecnologicamente evoluída para a vertente ar respirável, completando assim a trilogia que garante a maior proteção.

Sendo o Instituto Galénico uma empresa da área da saúde, que desenvolve e comercializa produtos de forma muito criteriosa, até mesmo por via duma regulação muito apertada a que o meio está sujeito, desenvolvemos o Steril-Aerios sob um elevadíssimo padrão de rigor, considerando-o igualmente um instrumento para a saúde, apto a conviver em segurança com as pessoas.

A que mercados se destina?
O Steril-Aerios esteriliza o ar respirável e, conforme relatório de ensaio laboratorial, “… demonstrou um efeito de redução da carga viral de 99,94%, evidenciando atividade virucida após um tempo de exposição de 4,1 segundos.”. É dirigido a todos os locais onde haja necessidade de estarem pessoas juntas e/ou onde, mesmo estando apenas uma pessoa, se lhe proporcione um ar respirável esterilizado, para sua segurança. Neste âmbito, e também com a intencionalidade de revigorar a economia e permitir a retoma duma vida mais normal, alguns exemplos de aplicação do Steril-Aerios, são: restauração e hotelaria; clínicas dentárias e consultórios médicos; gabinetes de profissionais que recebem pessoas; estabelecimentos de ensino; ginásios; agências bancárias; famílias…

“O Steril-Aerios foi totalmente desenvolvido, testado (para aposição da marcação CE, pelo ISQ), ensaiado (para verificação da sua ação virucida contra SARS-CoV-2, pelo Labfit) em Portugal, por instituições portuguesas”.

É um produto 100% nacional?
O Steril-Aerios foi totalmente desenvolvido, testado (para aposição da marcação CE, pelo ISQ), ensaiado (para verificação da sua ação virucida contra SARS-CoV-2, pelo Labfit) em Portugal, por instituições portuguesas. É, igualmente, montado e testado (em final de linha) em Portugal, por instituições portuguesas. Naturalmente, incorpora componentes de empresas internacionais, sendo exemplo disso os emissores UV-C. Consideramos que o Steril-Aerios é um produto 100% nacional.

Qual foi o investimento que fizeram no desenvolvimento deste produto e quanto tempo demorou a ser desenvolvido?
O desenvolvimento do Steril-Aerios passou por diferentes fases ao longo do tempo. Na base de tudo esteve a tomada de conhecimento, estudos aprofundados e averiguações diversas sobre o efeito germicida da radiação UV-C. Seguiu-se a produção do primeiro protótipo e testes caseiros para validação interna do aparelho construído. Depois desta fase, com as alterações resultantes da inerente aprendizagem, chegou-se ao projeto otimizado, que foi submetido a testes de Segurança e de Compatibilidade Eletromagnética, no ISQ.

Depois disto o aparelho foi submetido a ensaios para verificação da sua ação virucida, no Labfit… Até à presente data contamos com cerca de onze meses de envolvimento. O investimento já feito no produto, somando o que ainda está em processo, ascende aos 150 mil euros.

Quais as previsões de comercialização do produto?
Numa primeira fase, a nossa análise de mercado aponta para as dez mil unidades, divididas pelos dois modelos (Pro e Flexi) no mercado doméstico. É nosso desejo atingir o mercado externo, muito embora ainda em processo de estudo e, por isso, falta quantificar.

Como foram os últimos meses para o IG? Quais os grandes desafios que enfrentaram?
Os últimos meses têm sido de grande desafio, ainda que experimentados com serenidade e otimismo. Desafio para corresponder à elevada urgência de mercado, para socorro das pessoas, em meio de tanta azáfama para desenvolver, testar, ensaiar e notificar novos produtos. Contudo, com uma tranquilidade própria de quem sabe fazer e entende que está a fazer o que é certo, da maneira certa e para o bem do próximo. Também, com um otimismo que resulta do entusiasmo de quem continua a ser capaz de encontrar soluções potentes no auxílio das pessoas.

O catálogo do IG inclui dispositivos médicos (como o soro fisiológico), cosméticos (água de rosas, água oxigenada de 10 volumes e vaselina purificada) e produtos químicos ou galénicos (óleo de amêndoas doces, glicerina vegetal, bicarbonato de sódio, cloreto de magnésio e parafina).  Neste momento, há mercado para estes produtos ou só há mercado para os desinfetantes?
Temos verificado que todos os produtos igualmente mexem, ainda que mais lentamente, por força de um conjunto de constrangimentos nos diferentes canais, que resulta dos cortes de despesa que as famílias se vêm forçadas a fazer, resultado da situação económica que atravessamos. Os desinfetantes têm maior procura.

Em termos de matérias-primas são autossuficientes? Como conseguem garantir a constituição de stocks?
O período entre março e julho foi especialmente difícil no acesso às diferentes matérias-primas, com maior incidência nos biocidas.  O acesso a material de embalagem foi igualmente difícil. Naturalmente, os transtornos causados no negócio e na vida das pessoas foram muitos. De momento temos em stock o que precisamos (e até um pouco mais), muito por termos aprendido a reorganizar os nossos procedimentos de compra e a política de stocks, em função das ainda muitas incertezas.

“A ideia do Instituto Galénico se constituir como ator de topo na área da desinfeção/esterilização já estava a ser trabalhada”.

Se vivêssemos tempos normais, o IG estaria focado em que área de negócio?
Acredito ser certo dizer que estaríamos no mesmo caminho no qual agora estamos. Pese embora, provavelmente estivéssemos um pouco mais atrasados.

Quanto prevê faturar este ano?
Contamos ultrapassar os dois milhões de euros.

Considera que as empresas portuguesas se reinventaram de forma positiva para lutar contra a Covid-19?
É verdade que a grande maioria fez das tripas coração para cooperar, até mesmo porque se fosse doutra maneira teriam deixado de existir. No entanto, independentemente das motivações, que podem ter sido diversas, é de louvar o esforço feito.

Em meio a tanta vontade de manter o negócio vivo e de cooperar para o bem das pessoas, com a urgência que se impunha, muitas coisas más foram feitas. Note-se que empresas das mais distintas áreas se envolveram na área da saúde, com desinfetantes e outras soluções que estiveram longe de supervisão e nunca foram ensaiadas na sua componente de saúde humana.

“Portanto, precisamos dar crédito à ciência e usar os instrumentos à nossa disposição, para maior segurança. Exemplo disso é o uso do nosso aparelho de esterilização do ar respirável, Steril-Aerios”.

Teme que a economia mundial volte a parar e que seja necessário implementar um novo confinamento? O que o mantém otimista?
Temo as decisões de políticos desavisados, desadequados quanto ao tempo das suas decisões e que revelam desajuste quanto à noção de bem comum. Acredito que a tentativa de novos confinamentos acabará por conduzir a uma falta de tolerância das populações, que tornará esses confinamentos impraticáveis. Outra vez, tranquilidade e otimismo: é nossa obrigação já termos feito uma aprendizagem que nos dê mais segurança, a todos. Portanto, precisamos de dar crédito à ciência e usar os instrumentos à nossa disposição, para maior segurança. Exemplo disso é o uso do nosso aparelho de esterilização do ar respirável, Steril-Aerios.

Como estão a preparar o próximo ano?
Exatamente da mesma maneira que preparámos os anos anteriores, acrescido dum enfoque especial em duas áreas: maior investimento em investigação e desenvolvimento; maior investimento em comunicar melhor.

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