Portugueses revelam falta de confiança nas instituições, segundo “Portugal, Balanço Social 2023”

O Relatório do Balanço Social 2023, da Fundação “la Caixa”, do BPI e da Nova SBE, atualiza os indicadores relativos à pobreza em Portugal e revela que as pessoas com dificuldades financeiras são as que têm mais falta de confiança nas instituições.

Publicado ontem pela Fundação ”la Caixa”, o BPI e a Nova SBE, o relatório “Portugal, Balanço Social 2023”, um trabalho da autoria de Susana Peralta, Bruno P. Carvalho e Miguel Fonseca, que integram o Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center, analisa a situação socioeconómica das famílias em Portugal a partir do rendimento, da privação material, das condições de habitação, do acesso à educação e saúde e estabelece relações entre pobreza, situação laboral e nível de educação. Esta edição tem a particularidade de ter um capítulo dedicado à saúde mental e ao bem-estar e um outro às perceções, expetativas e confiança nas instituições.

E neste último ponto ficou patente que o descontentamento das pessoas que têm dificuldades económicas é muito elevado e atinge mais de 90% com a situação atual de Portugal, da economia portuguesa e do mercado de trabalho português, em 2023. A inflação é apontada com o problema mais relevante em Portugal, seguinda da saúde e da situação económica.

Por sua vez, as pessoas com dificuldades financeiras revelam falta de confiança nas instituições: 97% não confia nos partidos políticos, 82,5% na justiça e cerca de 66% no Governo ou nas Câmaras Municipais, comparativamente com 75%, 46% e 56%, respetivamente, para as pessoas sem dificuldades financeiras. Também são as pessoas com mais dificuldades para pagar as contas (56,4%) que declaram ter menor satisfação com a democracia do que as que vivem numa situação económica mais confortável (30,8%).

No domínio das condições económicas, o relatório revela que, em 2022, a taxa de risco de pobreza e de pobreza extrema diminuíram, respetivamente, para 16,4% e 10%. Por sua vez, a taxa de risco de pobreza das mulheres é mais alta do que a os homens (16,8% vs. 15,9%), e os trabalhadores com contratos temporários enfrentam um risco de pobreza três vezes superior ao dos trabalhadores com contratos permanentes (20,6% e 7,4%, respetivamente).

Em 2023, a taxa de risco de pobreza (17%) voltou a aumentar, atingindo mais de 1,8 milhões de pessoas, o que representa um acréscimo de 60 mil pessoas em situação de pobreza. Os desempregados continuam com uma taxa de risco de pobreza mais de quatro vezes superior (46,4%) à das pessoas empregadas (10%).

O “Portugal, Balanço Social 2023” mostra ainda que o aumento da inflação teve um impacto significativo nas condições de vida em Portugal, em 2022 e 2023, com especial impacto na população pobre. Verifica-se um aumento na insatisfação económica e nas dificuldades para chegar ao fim do mês da população pobre e da população não pobre, bem como um aumento da prevalência de sobre-endividamento entre os não pobres. A insatisfação económica é especialmente frequente na população pobre, afetando quase dois terços dos indivíduos.

Além disso, a percentagem de pessoas pobres que enfrentam privações aumentou entre 2021 e 2022 (revelando dificuldades no cumprimento de despesas essenciais como o aquecimento da casa, a alimentação adequada e o acesso a serviços médicos), contrariamente à população não pobre em que se verificou a uma diminuição geral da privação.

No domínio geográfico, constata-se que a prevalência da pobreza é maior nas regiões autónomas. A taxa de risco de pobreza é a mais elevada na Madeira, com 10% acima da média nacional, seguida dos Açores (com 9% acima da média nacional). Em 2023, a taxa de risco de pobreza diminuiu ligeiramente em todas as regiões, exceto em Lisboa (onde se registou um acréscimo de 4,3%) e na região autónoma dos Açores.

Apesar da taxa de risco de pobreza entre as crianças ter diminuído entre 2021 e 2022 (de 20,4% para 18,5%), este grupo continua a ser um dos mais vulneráveis a situações de pobreza e exclusão social. A taxa de risco de pobreza entre as pessoas com 65 ou mais anos também diminui, mas há ainda 416 mil pessoas pobres neste grupo etário.

No capítulo da saúde mental e do bem-estar, o relatório constata que quase 60% da população em risco de pobreza não faz exercício físico frequentemente (mais 11% que a população não pobre). Identifica ainda o consumo de fruta e/ou legumes e saladas como pouco frequente (6% e 7%, respetivamente) e consumos mais elevados de tabaco (16,4% vs. 15% para a população não pobre) e bebidas alcoólicas (38,7% vs. 32,4% para a população não pobre).

Quase 16% das pessoas em risco de pobreza afirmam que raramente ou quase nunca se sentiram felizes (mais do dobro do que a população não pobre) e no que respeita à satisfação com as relações pessoais, 5,4% dos pobres reporta um nível baixo de satisfação (um valor mais de 3 vezes superior ao dos não pobres). A população em risco de pobreza é ainda mais suscetível ao isolamento social e indica também mais frequentemente não ter participado em atividades lúdicas (quase 6%), e ter poucos encontros com familiares (11%) e com amigos (15%).

Refira-se que o Portugal, Balanço Social 2023 foi realizado no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Nova SBE, o BPI e a Fundação “la Caixa”, com o objetivo de traçar o retrato socioeconómico das famílias portuguesas e descrever a situação social no país. Tem por base os dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento de 2022 e 2023, do Inquérito ao Emprego 2023, do Eurobarómetro (primavera 2023), do Instituto do Emprego e Formação Profissional e da Segurança Social.

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