Opinião
Portugal Manual – o futuro é feito à mão

Dar voz a portugueses que estão à frente de empresas e projetos pelo mundo fora é o objetivo do projeto do Link To Leaders e da Plataforma Portugal Agora. Filipa Belo, fundadora e curadora da plataforma Portugal Manual, é a oitava convidada desta iniciativa.
Em 2018, nascia em Brasília aquela que seria a primeira plataforma portuguesa dedicada à promoção do novo artesanato português, a Portugal Manual. Hoje, contamos com mais 80 artistas, projetos e marcas que integram a nossa rede.
Atuamos em várias áreas de apoio e divulgação dos que integram a nossa rede, com foco em quatro pilares: cultural, comercial, produção de conteúdo e turismo criativo. Somos autores do primeiro podcast português totalmente focado em dar a conhecer as histórias que dão vida às mãos assim como as novidades do setor. Somos portefólio aberto para todos os que querem conhecer o que de melhor se produz à mão em Portugal. O meu primeiro objetivo, enquanto fundadora e curadora da Portugal Manual, é contar as histórias destes novos artesãos que ousam voltar ao manual.
Tenho observado, ao longo dos últimos anos, que quando se compra uma peça de artesanato, compra-se a história que vem com ela. Cada vez mais o cliente procura uma economia de afeto, conceito desenvolvido pelo criativo brasileiro Jackson Araújo, onde muito mais que uma peça o comprador procura algo que esteja em sintonia com a sua individualidade. Acho que essa dimensão do afeto, da história, de nos querermos ligar a algo, conduz-nos até ao artesanato, tradicional ou novo.
E contar essas histórias ao mundo é reposicionar o mercado feito à mão em Portugal no estrangeiro, mostrando que o novo artesanato português está perfeitamente alinhado com a fase que o país atravessa ao longo dos últimos anos, mostrando que os novos artesãos valorizam o passado e que dessa forma projetam o futuro. Recuperam técnicas, algumas delas já obsoletas, revitalizando oficinas que estavam em risco de fechar, dando origem a uma nova era de colaborações entre designers e artesãos.
Gostaria de destacar o projeto que fizemos em parceria com o Turismo de Portugal, lançado em Tomar no passado mês de outubro. Portugal Manual – Curated Cultural Experiences. É uma proposta imersiva que promove o regresso ao manual através de uma curadoria de experiências autorais e artísticas em Portugal continental e ilhas. Nasce do nosso compromisso assumido 2018 de reposicionar a imagem de um país cosmopolita, contemporâneo e criativo, que reinventa a tradição manual e valoriza todo o processo produtivo. Curated Cultural Experiences apresenta artesãos e artistas que através dos seus projetos e vivências oferecem lugares de encontro, partilha e aprendizagem.
Curated Cultural Experiences vai dar a conhecer quem redesenha a novidade na tradição portuguesa. De Norte a Sul do país, bem como nas ilhas da Madeira e dos Açores, encontrámos novos artesãos que recuperam ofícios tradicionais e matérias-primas locais. Criam peças contemporâneas, personalizadas e únicas, desenvolvendo produção em pequena escala, mas com recurso a tecnologias modernas, numa perspetiva empreendedora que promove uma economia sustentável. Portugal Manual Curated Cultural Experiences é uma experiência única e imersiva que pode ser vivida no conforto dos vossos lares ou diretamente em Portugal e divide-se em quatro categorias: Hear Portugal, See Portugal, Feel Portugal e Be Portugal.
Além deste projeto a Portugal Manual conta atualmente com duas lojas, a sua loja conceito localizada no Centro Cultural de Belém e outra que nasceu de uma colaboração com Catarina Portas e A Vida Portuguesa – o Depozito. Os prognósticos do início do séc. XX, que anunciavam a morte dos trabalhos manuais e da tradição artesã portuguesa, não só não se confirmam como, um século depois, observamos uma evolução do papel do artesanato na contemporaneidade, dando ao objeto uma dimensão que já não é só funcional, mas que é também simbólica.
Contrariando os movimentos criados pelo fast fashion, há um nicho de consumidores que procura por produtos com alma. Questionando menos o preço e mais a história. Novas gerações de compradores, que nasceram numa era plenamente digital e que, por essa falta de identidade e sentimento de pertença, exigem produtos diferenciados e que tenham um sentido cultural acrescido. Mas não é só em Portugal que se observa esta tendência. O movimento de valorização do “feito à mão” está a verificar-se por todo o mundo. Depois de algumas décadas a consumirmos produtos idênticos e impessoais, hoje em dia o consumidor procura produtos que o conectem com a sua individualidade e singularidade, que recuperam sentimentos de pertença que, num mundo altamente globalizado, acabou por se ir perdendo.
Filipa Belo é uma entusiasta do empreendedorismo, do consumo sustentável e da economia da partilha. Criou em 2018 a primeira plataforma portuguesa de promoção do novo artesanato português – Portugal Manual – uma rede de empreendedores para empreendedores. Um portefólio aberto para quem se interessa pela cultura portuguesa. Apaixonada por comunicação, contadora de histórias, reconhece a importância das narrativas na promoção de um produto, de um serviço, de um país. Acredita no poder do coletivo e das sinergias. É a cabeça, as mãos e, acima de tudo, o coração da Portugal Manual.