Opinião
Por uma política regional integrada do empreendedorismo!

Finalmente Portugal deixou de estar em “Estado de Emergência” e passou à situação de calamidade. As atividades económicas e sociais começam, lentamente, a despertar, procurando os portugueses entrar numa “nova normalidade”.
No entanto, e tal como preconizado por diversas instituições e organismos internacionais, as consequências nefastas do confinamento obrigatório a que grande parte dos países esteve sujeito já se fazem sentir há muito. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que este travão económico e social seja responsável pela perda de cerca de 25 milhões de postos de trabalho em todo o mundo. Em Portugal o panorama é igualmente demolidor, apontando as estimativas do FMI para o dobro do desemprego registado o ano passado (passando de 6,5% em 2019 para 13,9%).
Para inverter este cenário negativo é preciso criar negócios e criar emprego. E ficar na dependência do investimento externo não é a melhor solução. É preciso canalizar o investimento internamente. Um primeiro passo para potenciar a criação de novos negócios pode passar pelo investimento em cursos de formação – conducentes à elaboração de “planos de negócio viáveis” e ao desenvolvimento das soft skills de networking, planeamento estratégico ou venda.
No entanto, uma aposta numa formação desta natureza, embora seja bem-vinda, deve ser integrada numa estratégia ampla de promoção do empreendedorismo, com vista à geração sólida de novos negócios. É preciso apostar numa “estratégia concertada” a nível nacional e regional, que aproveite os recursos endógenos de cada região e os promova de forma integrada. A atual política regional (OCDE, 2019[1]) promove a competitividade territorial (tendo por base a lógica de “rede” e do marketing territorial), ao invés da mera correção dos desequilíbrios regionais (i.e. do favorecimento dos municípios mais desfavorecidos), investindo assim na coesão territorial e na sustentabilidade.
Em concordância com esta política, seria possível apostar numa visão integrada do empreendedorismo para o território nacional, promovendo a diferenciação e a competitividade das regiões e não apenas dos grandes centros urbanos (como Lisboa, Porto ou Aveiro). Esta Política Regional Integrada do Empreendedorismo seria responsável por promover novos negócios, alinhados com as especificidades do território, com os seus recursos endógenos e as suas reais-necessidades, pelo que a sua probabilidade de êxito é maior. Desta forma, estaríamos a contribuir para um empreendedorismo produtivo e sustentado – mudando o foco da “quantidade de empresas criadas” para a “qualidade das empresas criadas”, mais ajustadas às reais especificidades e mais-valias das demais regiões, pelo que mais capazes de crescer e prosperar ao longo do tempo.
Seguindo este panorama, não apenas estamos a contribuir para um empreendedorismo produtivo e sustentado, mas também para um empreendedorismo verdadeiramente implantado em todo o País, promovendo o desenvolvimento económico e social de todos os municípios. Mais ainda, esta Política Regional Integrada do Empreendedorismo permite suprir a lacuna apontada recorrentemente a Portugal, que a nível internacional continua a ser considerado um País que aposta pouco no desenvolvimento de programas articulados de empreendedorismo a nível nacional (cite-se, a título de exemplo, o prestigiado Global Entrepreneurship Monitor, que anualmente compara o estado do empreendedorismo no mundo, envolvendo várias instâncias internacionais).
Naturalmente que uma Política Regional Integrada do Empreendedorismo implica a ação concertada de diversas instituições, quer ao nível do poder central, quer fundamentalmente do poder local (em termos de ação) e da própria universidade. Sem dúvida que o panorama atual de desaceleração económica e social constitui uma oportunidade para tal política. Fica aqui o desafio!
[1] OCDE (2019). Regional Oulook 2019.
*Coordenadora da Escola de Liderança e Inovação do ISCSP – Universidade de Lisboa