Opinião
Por um Banco sempre presente e que seja mais do que um Banco
Está a decorrer, há já algum tempo, uma transformação na indústria financeira a nível global, relacionada com as plataformas digitais.
Embora alguns países já tenham abraçado uma noção de um Banco disponível e preparado para ver os seus serviços integrados com outros players, até de outras indústrias, esta posição ainda não está, de todo, massificada. Temos exemplos de há duas décadas, para termos uma ideia, onde o Microsoft Money já permitia ligar aos Bancos nos Estados Unidos para obter informação acerca de saldos e movimentos – enquanto na Europa todos tínhamos de consolidar a nossa posição financeira à mão, ou usar alguma ferramenta que processasse a própria página do Banco para chegarmos aos mesmos resultados (com uma fiabilidade que deixava a desejar).
Os avanços tecnológicos ao longo dos anos permitiram começar a disponibilizar outro tipo de soluções, e as próprias alterações legislativas e regulatórias (o caso do PSD2 na Europa, por exemplo), acabaram por forçar um movimento de maior integração por parte da indústria financeira, que na minha opinião beneficia os clientes. Havia muito a dizer sobre o sucesso generalizado da Diretiva aplicável a serviços de pagamentos, mas a verdade é que nos possibilita, quando bem utilizada, ter um Banco presente em diferentes sítios e integrado no nosso dia a dia. É aqui que entra a noção de ecossistema digital.
Os ecossistemas digitais, embora sejam aplicáveis não apenas à indústria financeira, têm um papel fundamental naquilo que é a evolução das empresas deste setor, sejam Bancos ou Seguradoras. O conceito está relacionado com a existência de um conjunto de players e ofertas que funcionam integrados com as empresas do setor financeiro e que permitem melhorar a experiência do cliente. Isto tanto se pode verificar dentro do setor – quando um Banco propõe a subscrição de um seguro específico, de acordo com uma compra, por exemplo – mas também entre setores – quando podemos, numa app de um retalhista, fazer um pedido de crédito. São interações contextuais que permitem que o Banco esteja presente quando eu, o cliente, preciso dele – e disponível para ser integrado inclusivamente noutras plataformas de empresas fora do setor.
A tecnologia atual permite, de uma forma segura e escalável, disponibilizar este tipo de serviços para serem utilizados fora do contexto da instituição bancária. Claro que por detrás desta decisão técnica deverá estar uma decisão de negócio fundamentada, mas hoje em dia temos peças suficientes (do ponto de vista tecnológico) para montar uma solução deste tipo, que permita ao Banco ser uma parte integrante do ecossistema, tirando benefícios concretos disso mesmo.
Muitas vezes, ao longo dos anos, se falou que os Bancos iriam desaparecer. Há uma citação famosa de Bill Gates em que ele afirmava: “Banking is necessary, Banks are not.” A frase dita em 1994 não reflete a realidade quase 30 anos depois, mas há claramente algo que é verdade: o papel que os Bancos podem assumir enquanto parte integrante do nosso dia a dia pode ser ainda bastante aumentado, em seu benefício – e para o nosso também.