Entrevista/ “Pessoas com uma boa gestão financeira são pessoas mais felizes”
Carina Meireles já ajudou milhares de famílias a alcançar a liberdade financeira. Em entrevista ao Link to Leaders, a especialista em finanças pessoais e empresariais fala do livro que acaba de lançar e com o qual quer ajudar os portugueses a sair do sufoco financeiro, mesmo em tempos de crise.
Com mais de duas décadas de carreira na banca e docente universitária, Carina Meireles é especialista em finanças pessoais e empresariais. Licenciada em Sistemas de Informação para a Gestão pelo Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, possui ainda um mestrado em Gestão Comercial pela Faculdade de Economia do Porto e um MBA em Marketing e Direção Comercial pela Atlântico Business School.
Como especialista em gestão financeira, desenvolveu o Milla, um blogue didático de literacia financeira para pais e crianças, e tem ainda um projeto de mentorias e formações dedicado à saúde financeira de particulares e empresas. A também apresentadora de televisão no programa Finanças a Contar, do Porto Canal, acaba de lançar o livro “Como Sair do Sufoco Financeiro” porque acredita que, com a ajuda certa, qualquer pessoa é capaz de sair do sufoco da ansiedade financeira e deixar de viver de salário em salário.
Que conselhos dá para se sair do sufoco financeiro nos dias de hoje?
É importante ter um orçamento detalhado para sabermos exatamente onde gastamos o nosso dinheiro. Faça um levantamento detalhado das suas despesas e receitas para depois identificar possíveis categorias, onde é possível pagar menos ou mesmo eliminar gastos. Defina um plano para atacar as despesas supérfluas, porque pode estar a gastar dinheiro desnecessariamente. Dica extra: analise os seus débitos diretos!
Negoceie tudo. Depois de olhar para todas as suas despesas, analise, por exemplo, as dos bancos, se paga comissão de conta, como está a taxa de juro do seu crédito, quanto paga pelos seguros, etc. Tudo conta e é importante para conseguir reduzir custos e poupar.
“Sim, é possível ter uma conta poupança desde que saiba onde gasta o dinheiro e identifique onde pode gastar menos como, por exemplo, com os bancos (…)”.
Mesmo ganhando o salário mínimo, é possível ter uma conta poupança? Como?
Sim, é possível ter uma conta poupança desde que saiba onde gasta o dinheiro e identifique onde pode gastar menos como, por exemplo, com os bancos, e, sendo possível, canalize para uma conta poupança programada. Esta conta poupança pode começar com 10 euros por mês e vai aumentando conforme vai podendo. Pense na possibilidade de ter uma renda extra, que pode ajudar a ter mais uma fonte de rendimento, ajudando ainda mais a que possa colocar um valor de parte para uma poupança.
Como avalia o atual estado da literacia financeira em Portugal?
A literacia financeira em Portugal tem melhorado, mas ainda há muitos desafios até porque é importante começar desde cedo com as crianças. É essencial promover a educação financeira nas escolas e nas famílias para elevar o nível de compreensão sobre questões financeiras. É imperativo que possa haver mais informação clara e prática para quem não sabe, se identifique e perceba mais rapidamente, mas também é preciso mudar as mentalidades e percebermos que temos que mudar e só depende de nós.
“O aumento dos preços afeta de uma forma muito direta o poder de compra, por isso é importante saber ao detalhe os nossos gastos, para controlarmos também possíveis desvios e perceber em futuras situações como evitá-los”.
Quais os desafios que os portugueses enfrentam hoje em dia na gestão do seu orçamento?
O aumento dos preços afeta de uma forma muito direta o poder de compra, por isso é importante saber ao detalhe os nossos gastos, para controlarmos também possíveis desvios e perceber em futuras situações como evitá-los. A instabilidade no mercado de trabalho pode ser um desafio para a estabilidade financeira, assim como a gestão das dívidas, porque muitas famílias enfrentam desafios relacionados com dívidas acumuladas ou mesmo impactos significativos com os aumentos das taxas de juro.
Já lá vão os tempos do mapa de despesas na porta do frigorífico ou no Excel. As aplicações ganharam nos últimos anos força para o controlo das contas. Considera que são uma ajuda para as famílias?
Sim, as aplicações financeiras podem ser valiosas, mas confesso que sou adepta do ficheiro em Excel. Elas oferecem conveniência e visibilidade instantânea das finanças. No entanto, é crucial usar essas ferramentas de forma responsável e de preferência que não represente um custo acrescido, mantendo uma compreensão profunda das próprias finanças.
Uma análise da Klarna concluiu que 79% dos portugueses tem interesse no tema finanças pessoais, mas que 52% não se sente bem a falar sobre o assunto. Porque é que as finanças pessoais ainda são tabu para muitos portugueses? O que é preciso fazer para mudar mentalidades?
Porque ainda existe uma mentalidade fechada sobre este tema, que vem também de outras gerações. Há desconforto e vergonha. Muitas pessoas podem sentir desconforto ou vergonha em relação à sua vida financeira, o que contribui para evitar o tema. A falta de educação financeira pode levar à insegurança ao discutir finanças. Por isso, é preciso promover a educação financeira desde cedo, reduzindo o estigma em torno do tema. Por exemplo, através do meu blog de educação financeira para famílias e crianças tento também passar conhecimento nesta área das finanças. São também importantes as campanhas de sensibilização, ou seja, campanhas públicas podem destacar a importância de discutir finanças e desmistificar conceitos complexos, mostrando que afinal não é tão complicado.
“Procuram-me também para fazer formação para os colaboradores, o que significa que as empresas estão mais atentas às pessoas que trabalham e que podem precisar de saber mais para gerir melhor as finanças pessoais”.
Atualmente, a Carina tem um projeto de mentorias e formações dedicado à saúde financeira não só de particulares, mas também de empresas. Que tipo de empresas a procura e quais as razões?
As Pequenas e Médias Empresas (PME) que procuram serviços para melhorar a gestão financeira, desenvolver planos de orçamento e entender estratégias de investimento, percebendo também como podem poupar com os Bancos. Procuram-me também para fazer formação para os colaboradores, o que significa que as empresas estão mais atentas às pessoas que trabalham e que podem precisar de saber mais para gerir melhor as finanças pessoais, percebendo que isso tem também um impacto nos resultados da empresa.
Que conselhos daria às famílias neste momento para uma vida financeira saudável?
Terem sempre um orçamento familiar com metas claras e realistas, não esquecendo do acompanhamento regular. O meu livro é uma ajuda preciosa, porque cada semana é um desafio e pelo meio vai tendo surpresas, paragens e muitas dicas práticas, precisamente para ajudar durante todo o caminho até chegar à meta. Tentar ao máximo e sempre que possível poupar de forma regular (mensal): mesmo pequenas quantias poupadas regularmente podem acumular-se ao longo do tempo. É importante promover a educação financeira, por isso, partilhe em família como é importante termos o controlo do nosso dinheiro.
E às empresas?
Mantenha um orçamento detalhado e faça uma revisão regularmente. Invista de forma estratégica e avalie cuidadosamente os investimentos, focando na sustentabilidade a longo prazo. Aposte cada vez mais na formação contínua em educação financeira para os colaboradores, promovendo uma compreensão mais profunda das finanças corporativas, porque desta forma ganham os dois: a empresa porque tem um colaborador mais feliz porque tem tudo controlado e consegue tomar as decisões certas e essa pessoa passa a produzir mais, com mais impacto e resultados e o colaborador também fica com mais informação para gerir melhor o seu dinheiro.
Que projetos futuros podemos esperar da Carina Meireles?
Ainda muitos projetos a serem trabalhos como o meu podcast que está quase a ser lançado e muitos que ainda não posso contar. Vou continuar a ajudar as empresas a contribuírem para o sucesso dos colaboradores, porque pessoas com uma boa gestão financeira são pessoas mais felizes, logo impactam mais nas empresas onde trabalham.
Respostas rápidas:
Maior risco: Não sonhar.
Maior erro: Não lutar pelos meus objetivos.
Maior lição: Com trabalho e dedicação tudo se consegue
Maior conquista: Ter tido a coragem de sair do certo para o incerto.