Opinião
Paraquedas de reserva na gestão
Para quem salta de paraquedas (não é o meu caso, acreditem!) este tema é naturalmente aprendido e conhecido. Cada um salta e cada um dobra o seu próprio paraquedas. Mas e caso falhe?
Para que a adrenalina não seja em demasia (já bem chega atirar-se alguém de 3500 metros de altitude) caso o paraquedas não abra há um de reserva. Mas este não segue os procedimentos do primeiro. Não é o próprio a dobrá-lo. Não é o próprio a acondicioná-lo. E não fica dobrado por muito tempo. A cada 3 a 4 meses é um profissional certificado e especializado que garante a mais exímia dobragem e acondicionamento do paraquedas. Para que nada falhe. E se tudo for correndo bem, a cada 3 a 4 meses é revisto, re-dobrado, re-acondicionado pelos “riggers” autorizados.
Esta ideia não deixa de me suscitar alguma reflexão. Também na vida das empresas gostaríamos todos de sentir que temos um “anjo da guarda” que cuidou do colchão e da rede para as quedas. Poderíamos atirar-nos de cabeça às decisões sabendo que, se algo falhasse, poderíamos contar com a reserva, cuidadosa e meticulosamente dobrada e pronta para abrir, ajudando-nos a pousar de forma elegante e contra o vento, nas pontas dos pés sem qualquer dor ao tocar no solo.
Antes fosse..
No dia a dia, infelizmente, temos grande parte das decisões sem qualquer paraquedas. Ou melhor, temos dois: o primeiro a nossa própria consciência sobre a tomada de decisão, e o segundo a confiança e maturidade das equipas que nos rodeiam e com quem nos alinhamos.
Até os mais banais pormenores afetam a nossa tomada de decisão. O clima, pois claro, o mais normal e tantas vezes descurado como se fosse um pormenor decorativo: certas condições atmosféricas afetam o nosso comportamento e cérebro límbico, afetando por isso o estado anímico e emocional e influenciando sem qualquer dúvida a nossa tomada de decisão (para o bem, ou para o mal).
Nessa medida, como consumidores ou como gestores, a consciência de que não somos inertes ao que nos rodeia para a tomada de decisões é algo que, como Fritz Stemme revela no seu livro “O Poder das Emoções”, está impregnada de uma maturidade emocional, mais do que uma sagacidade e conhecimento racional. Mentes emocionalmente maduras e sãs tomam decisões mais acertadas. Pensar bem é pensar emocionalmente bem.
Até o paraquedas de reserva de pouco poderá valer a quem se atira dali de cima no meio de uma tempestade. Se a mente se contorce. Se o raciocínio não serena. Se a índole impulsiva urge sobre a clarividência. Ou pior, a ilusão de estar na posse da clarividência quando na verdade rodeia um fraco raciocínio simplista baseado no senso comum..
Saber-nos rodear de quem nos cuida dos pormenores em backup à nossa atuação na liderança, protegendo e preparando, qual sombra, o que nem nós conseguimos por vezes lembrar e notar no caso de algo falhar é tremendamente precioso. Mas paralelamente às nossas boas equipas devemos cuidar sobretudo do paraquedas principal para que o outro não seja permanentemente necessário – a nossa capacidade de nos conhecermos e desenvolvermos uma mente autoconsciente, com a sensibilidade de sabermos quando estamos prontos para tomar uma decisão. Verdade que nunca saberemos se acertada até depois. Mas saberemos nesse momento de a tomar que é pelo menos o momento certo de puxar pelos cabos da boa esperança que irão abrir o velame e fazer-nos planar para ver a superfície na sua plenitude. Ao pousar saberemos melhor as consequências das ações tomadas. Mas essa é já a parte seguinte do episódio.








