Opinião
Paradoxo da escolha… ou talvez não!

Com o início do 2.º período, a angústia de muitos estudantes aumenta quando pensam que faltam pouco mais de 6 meses para terem que decidir a que curso universitário se vão candidatar.
Apenas por curiosidade deixo alguns números. De acordo com o site da Direção Geral do Ensino Superior, em Portugal existem 106 instituições de ensino superior e 4864 cursos. Destes, 76 instituições e 1405 cursos dizem respeito a licenciaturas. Simples? Talvez não…
Sentemo-nos agora com o João. Trata-se de um aluno com uma média de 16, que esteve primeiro em Ciências e Tecnologia, mas que decidiu repetir o 10.º ano e mudar para Economia. Quando lhe pergunto se fez a mudança por vocação, olha para mim muito sério e responde ‘na realidade nem sei bem porque mudei, acho que foi somente porque não gostava de Físico-Química’. A uns meses de entrar na universidade continua sem saber bem o que quer estudar, sendo que o que tem mais certo é que gosta de História. Também gosta de Economia, mas já no que diz respeito à Matemática… Engenharia e cursos muito quantitativos ficam de fora, mas fica a dúvida do que quer escolher. A preocupação com o futuro e o medo de não conseguir ganhar dinheiro deixam-no assustado e sem saber o que verdadeiramente fazer.
Falemos agora com a Marta. Aluna brilhante pode escolher o que quiser, e é exatamente aí que reside o problema. As expectativas que têm sobre ela são tão elevadas que nenhuma escolha lhe parece suficientemente boa. Apaixonada por pessoas e arte, sabe agora que a área de Ciências e Tecnologia não foi a certa para lhe abrir os horizontes para profissões que vão para lá do óbvio. Acabou por seguir essa via apenas porque era a que deixava mais opções em aberto, e agora sente-se numa encruzilhada porque toda a gente a pressiona para ir para Medicina.
Estas são apenas algumas histórias das muitas histórias que existem. Sim, porque cada caso é uma história, e quando começam a ter nomes em vez de números deixam de ser apenas uma estatística!
E no contexto de cada história apercebemo-nos que, perante uma oferta de cursos que não para de crescer, o que os jovens estão a sentir é o paradoxo da escolha. Este conceito foi desenvolvido por Barry Schwartz no início deste século, e aquilo que nos mostra é que, ao contrário do que se possa pensar, quanto mais aumenta a escolha, menos felizes ficamos com a nossa opção.
Na realidade, com o aumento das escolhas as expectativas também aumentam, havendo uma idealização das diferentes opções. Quando os nossos jovens se decidem por um curso pensam que vai ser tudo perfeito, mas como sabemos o primeiro ano da universidade é um ano cheio de desafios, em que a adaptação à mudança e a resiliência serão fundamentais para se conseguir ter sucesso. Esta é uma fase em que muitos desistem do curso, uma vez que o seu dia a dia está demasiado longe da projeção.
É normal que perante a adversidade muitos deles se questionem se escolheram o curso certo e possa surgir o arrependimento. Neste contexto não posso deixar de referir a importância da escolha ser feita de forma consciente, tendo como base o locus interno. Se o estudante escolher sendo fiel a si mesmo e ao que verdadeiramente o inspira, a motivação interna vai ajudá-lo a enfrentar a adversidade e a ultrapassar a dúvida.
Um outro elemento associado ao paradoxo da escolha é o custo de oportunidade. Com todas as opções disponíveis, quando me decido por um curso estou invariavelmente a abdicar dos benefícios de todos os outros. Este é talvez o maior desafio com que os jovens têm que lidar no momento da escolha, sendo que o desafio aumenta exponencialmente para os melhores alunos.
Contemos agora uma história diferente. Apresento-vos o Francisco. Desde que se lembra de ser gente que adora construir coisas e de vender aquilo que constrói. A certa altura da vida conseguiu convencer os pais a deixarem-no ter um website para poder dar visibilidade aos seus produtos e conseguir vender mais. O negócio foi ganhando forma e a verdade é que já se torna difícil conciliar tudo.
Chegou a um acordo com os pais, que o deixariam continuar com o negócio desde que entrasse na universidade. Falando com várias pessoas, todos lhe diziam que devia seguir empreendedorismo. A ideia não só o entusiasmou como lhe fazia todo o sentido. O negócio estava a crescer e sentia que precisava de ajuda para conseguir dar o próximo passo.
Munido de toda a motivação visitou o assistente de escolha do site da Direção Geral do Ensino Superior, e eis a surpresa com o resultado que obteve quando escreveu ‘empreendedorismo’ e selecionou universidades públicas “Nenhum registo satisfaz as condições introduzidas. Verifique os seus critérios de pesquisa e tente novamente”.
Entre o paradoxo da escolha de uns e a ausência de escolha para outros, existe uma profunda reflexão a fazer relativamente ao sistema educativo. Estamos apenas preocupados em formar jovens para serem assalariados? Como é que formamos pessoas para prosperarem na gig economy? Porque é que temos tantas universidades a oferecer cursos semelhantes? Como é que a universidade se propõe ajudar esta nova geração a prosperar no desenvolvimento dos seus próprios negócios e serem eles os empregadores?
Sim, porque a verdade é que continuamos a ter a mentalidade que o mais importante é que os jovens se preocupem em ter a formação adequada para conseguirem arranjar um bom emprego, esquecendo-nos que o mais importante é dar-lhes ferramentas para que possam fazer escolhas, ao invés de serem os escolhidos.