Opinião
Para onde caminhamos?

Numa das minhas últimas viagens, estava sentado num banco no Aeroporto de Orly, em Paris. O meu voo estava atrasado cerca de 3h00. Olhei à minha volta e comecei a descrever mentalmente os viajantes do mundo:
- Estavam vestidos de forma confortável, sem dispensar as marcas.
- As malas Louis Vuitton eram uma evidência.
- As garrafas de água eram mais comuns do que os refrigerantes.
- A maioria das pessoas viajava sozinha.
- Vi muito pouco contacto visual.
- Algumas pessoas colocavam os sapatos em cima das cadeiras e aproveitavam para relaxar.
- Era notória uma grande variedade de nacionalidades. Naquele espaço, estavam diversos grupos étnicos. Alguns eram mais barulhentos do que outros. Um exemplo disso eram os viajantes norte-americanos. Ouvi a conversa toda, uma verdadeira poluição sonora.
- A comida surgia quase sempre em embalagens de plástico.
- O objeto mais comum que ostentavam era o iPhone. Algumas pessoas estavam com os auscultadores, outras aguardavam que o seu telemóvel carregasse e outras enviavam sms ou faziam chamadas. De longe, a relação mais importante era com o seu smartphone, quer seja para estarem atualizados ao segundo em relação aos acontecimentos mundiais, quer seja para partilhar os seus momentos com amigos do outro lado do mundo, que também, penso, estavam a olhar para os seus telefones.
- Vi pessoas a olharem para os seus telemóveis e a sorrirem, a franzirem a testa ou simplesmente a sonharem acordadas.
- Não vi portáteis nem tablets. Parece que o smartphone os tornou obsoletos.
- Finalmente, alguém falou comigo e pediu-me um carregador. “Desculpe”, respondi. “Não tenho carregador para si”, acrescentei.
- Senti-me desatualizado, uma vez que era o único a escrever num caderno e nem sequer tinha uma revista na mão!!!
Todas estas mudanças aconteceram nos últimos 10 anos. Imaginem o que está para vir. Será que os nossos dedos vão ficar mais finos ou mais precisos, à medida que usarmos os nossos smartphones, tal como as nossas necessidades foram mudando com a utilização dos carros a motor?!
Tenho mãos grandes e dedos descoordenados. Estou em desvantagem neste mundo! A minha única esperança é de que a próxima mudança tecnológica esteja relacionada com a interação humana. Aí tenho a certeza de que terei vantagem.
Temos de ser corajosos para falarmos com as pessoas, mas cara-a-cara. Hoje em dia, todos falam através dos seus telemóveis. Será que alguém vai mesmo conhecer pessoas, sem ser através de um e-mail ou do WhatsApp? Como é que temos encontros casuais nas redes sociais que passam imediatamente para o mundo real e se tornam em contactos físicos?
Provavelmente, se tivesse emprestado um carregador de telemóvel, já teria conhecido alguém nestes moldes.
Vamos lá, malta, olhem para cima! O mundo não está nos nossos ecrãs, está à nossa volta. Estamos a desperdiçar tantas experiências e oportunidades de fazer amigos verdadeiros! No entanto, continuamos a preferir ter fãs ou gostos e a viver para os nossos telefones.
Devemos gostar das pessoas, porque falamos com elas cara-a-cara, porque olhamos nos seus olhos e tocamos no seu coração. Não vimos o seu perfil no Facebook, mas sentimos o seu calor perto de nós.
À medida que se iam levantando dos bancos no aeroporto de Orly, as pessoas continuavam a olhar para o telefone. Não ouvi vozes, nem vi olhares cruzarem-se. Seguiam como zombies e sem tirar os olhos do ecrã.
Consegui, finalmente, arrancar um sorriso de alguém que me viu a escrever num papel. Provavelmente, estava prestes a tirar-me uma fotografia e a partilhar esta prática tão antiga, em todas as suas plataformas digitais.
Preciso de me adaptar a esta realidade, antes que comece a experienciar a minha própria idade do gelo.
Depois, voltei ao mundo e deixei os meus pensamentos… Havia mais atraso no voo e algumas pessoas começavam a conversar sobre este evento inesperado e a sorrir.
Talvez ainda haja esperança!!!