Entrevista/ “Os portugueses são demasiado avessos ao risco”
Partindo de um elemento comum, a madeira, duas empresas uniram esforços, em 2016, e deram origem à Sonae Arauco. Edite Barbosa, Chief Corporate Development Officer da empresa, fala desse percurso e dos planos para o futuro.
A Sonae Arauco nasceu da aliança estratégica entre duas marcas líderes mundiais do setor de madeira: a Sonae Indústria e a Arauco. Quais os grandes desafios que enfrentaram nesta join-venture?
A Sonae Arauco combina duas sólidas e conceituadas empresas, resultando na criação de uma organização mais forte e mais competitiva nos mercados europeu e sul-africano. Esta parceria assume-se como um passo estratégico decisivo no sentido da criação de valor para todos os stakeholders da Sonae Indústria e da Arauco. Esta nova empresa tem uma forte solidez, alicerçada nas competências das nossas equipas com longa experiência na indústria e beneficiamos do conhecimento e da força de ambos os acionistas.
Em que mercados opera atualmente e qual tem mais peso em termos de faturação?
Estamos em mais de 75 países, destacando-se a Península Ibérica com 32% do volume de negócios.
Quais os objetivos da empresa para este ano?
Pretendemos continuar a investir nas pessoas, bem como nas unidades industriais, modernizando equipamentos e processos, investir na inovação dos produtos, aumentando a oferta de produtos de valor acrescentado e, ainda, continuarmos a diferenciar-nos na melhoria dos serviços como o apoio técnico, apoio de marketing, desenvolvimento conjunto de novos produtos, em parceria com os clientes.
Que ações de employer branding têm implementado na empresa e que tenham contribuído para o sucesso da Sonae Arauco?
A Sonae Arauco esteve numa primeira fase, focada em divulgar esta nova marca junto dos seus colaboradores, por serem o nosso bem mais importante, e por serem eles próprios os melhores embaixadores da marca. Estamos agora num processo de divulgação da Sonae Arauco junto das universidades e dos alunos, por serem excelentes meios de captação de talento. Temos também feito algumas ações de divulgação em social media, mas que combinam a vertente marca empregadora e comercial.
Levaram recentemente à maior feira Ibérica, a Maderalia, a nova identidade. Pode revelar-nos mais pormenores?
Esta edição da Maderalia foi a primeira em que a Sonae Arauco se apresentou oficialmente como uma nova marca no mercado ibérico, na qual pretendemos aproximar-nos de milhares de profissionais, apresentado uma empresa global fornecedora de soluções para os desafios do presente e do futuro.
Ocupámos o segundo maior stand da Maderalia 2018, com uma área superior a 300m2, um espaço totalmente construído com produtos da marca, que incluiu uma zona de bar, bem como uma sala de reuniões, e incorporou monitores táteis para acesso ao website e simulador digital.
O stand teve a combinação de diferentes materiais, cores e texturas de modo a criar um ambiente que inspirasse a criatividade e que estimulasse os sentidos de todos os visitantes. Demos a conhecer todo o portfólio de produtos, com um enfoque nos acabamentos mais recentes Stucco e Fusion da coleção decorativa Innovus, bem como as gamas Essence e Coloured MDF. A marca pretende, assim, dar destaque à versatilidade de todos os seus produtos quando se trata de alcançar um número infinito de cenários e ambientes.
Pretendeu-se também reforçar a divulgação do website, através do qual os utilizadores acediam a uma ferramenta inovadora e integrada: um simulador digital. Com isso, todos os visitantes tiveram a oportunidade de simular a aplicação dos produtos decorativos da marca em ambientes predefinidos, o que, sem dúvida, proporciona uma ideia muito mais precisa do resultado pretendido.
Como pensam reforçar a forte aposta da empresa no desenvolvimento de soluções diferenciadoras e inovadoras?
Pretendemos continuar a investir na inovação, sempre com o propósito de oferecer uma maior gama de soluções aos diferentes segmentos, apostando no desenvolvimento contínuo de novos produtos, combinando inovação com a funcionalidade, qualidade e design do próprio produto. Queremos manter e criar parcerias como a que estabelecemos com a BASF, no ano passado, e que nos distinguiu com o Prémio de Inovação AVK por termos desenvolvido em conjunto, um produto diferenciador que permitirá à indústria de mobiliário criar novas opções de design.
Quanto faturaram o ano passado?
Em 2017, geramos um volume de negócios de 819 milhões de euros.
Quais os desafios que se colocam hoje à indústria em Portugal?
A indústria em Portugal tem registado um desenvolvimento interessante em termos de inovação e de captação de investimento privado, embora num processo talvez um pouco mais lento do que o desejado. Portugal continua, por isso, a necessitar de investimento pois os resultados ainda se mantêm um pouco aquém das suas potencialidades.
Em termos de índices de inovação, Portugal ainda está em 14.º lugar, de acordo com os últimos dados da Comissão Europeia, e na 42.ª posição no Ranking de Competitividade do Fórum Económico Mundial. Há ainda um caminho longo a percorrer e as práticas de gestão têm de continuar a evoluir e as potencialidades desta nova revolução, que é a indústria 4.0, devem ser mais trabalhados em contexto nacional.
Como vê o ecossistema empreendedor nacional?
A conjuntura económica atual ainda não desfez a barreira das incertezas com a qual nos temos vindo a deparar nos últimos anos. Apesar do seu espírito propenso à descoberta e invenção, os portugueses são demasiado avessos ao risco, quando esse risco implica o sustento próprio e da família, e essa tende a ser a maior barreira à aposta em novos negócios. Portugal não está na linha da frente dos países desenvolvidos e isso torna urgente o fomento da inovação e do empreendedorismo, através da captação de investimento ou da disponibilização de meios de suporte a estas iniciativas. A falta de eficiência em termos burocráticos é também um obstáculo a combater.
E quando comparado com o europeu?
Como referi, não somos encarados como um dos melhores exemplos neste âmbito. Há trabalho a fazer e desafios para superar.
Que alterações gostaria de ver acontecer em Portugal?
Uma maior captação de investimentos e melhorias em termos de eficiência legal e burocrática, seja no que respeita à criação de empresas, mas também no que é relativo à vida e gestão das organizações, sobretudo, no capítulo das relações laborais. Mas esta captação de investimento só poderá ser bem-sucedida se acompanhada de um avanço generalizado em termos educativos. A formação académica tem de ser modernizada e adaptada aos desafios atuais, seja para acompanhar os desafios tecnológicos, ou os desafios trazidos pela necessidade de acompanhar a velocidade do ritmo dos negócios, que acontecem num mundo cada vez mais global e que, por isso mesmo, trazem desafios em termos da fluência de línguas estrangeiras e de capacidade de adaptação rápida em contexto multicultural.
A maior formação em matérias económicas junto dos jovens, para que cresçam com um background mais sólido neste âmbito, poderá ser também uma forma de superar adversidades. No que respeita à indústria, seria interessante vermos uma maior incorporação das práticas da indústria 4.0 e uma maior divulgação do que de melhor se vai fazendo nesta área, até como forma de, por um lado, permitir um avanço mais rápido das diferentes indústrias e, por outro lado, desmistificar este rápido avanço tecnológico que nos surpreende diariamente e que ainda vai causando algum desconforto, nomeadamente, no que diz respeito à evolução do trabalho, às competências do futuro e ao que vai acontecer ao mercado de emprego em geral
Respostas rápidas:
O maior risco: Não conseguir acompanhar a velocidade à qual o mundo está a mudar.
O maior erro: Achar que se sabe tudo.
A melhor ideia: A que surpreende pela sua simplicidade.
A maior lição: Não há impossíveis.
A maior conquista: Fazer parte da equipa da equipa Sonae Indústria e agora da Sonae Arauco.