Opinião

O regresso do “Keep your distance”!

Paulo Doce de Moura, Investment Advisor do Banco Carregosa

Muitas empresas estão agora a reinventar completamente como pensam a sua estratégia física no local de trabalho. O escritório precisa se tornar muito mais adaptável, muito mais flexível.

Com 22 milhões de USD em financiamento de investidores, a VergeSense, com sede em São Francisco, rastreia mais de 40 milhões de metros quadrados de espaço para escritórios. Embora grande parte desse espaço esteja vago no último ano, muitos de seus clientes estão atualmente planeando o seu retorno e investindo em tecnologia para facilitar a transição.

Algumas empresas estão considerando eliminar mesas atribuídas, abraçando sistemas de hot-desk, onde vários funcionários usam uma única estação de trabalho física numa base rotativa. Funcionários cujas empresas utilizam o VergeSense podem usar a sua plataforma para reservar mesas disponíveis e salas de conferência.

Um sensor VergeSense pode medir a distância física entre os funcionários no local de trabalho e as taxas de ocupação do escritório. Esses dados são usados para calcular o distanciamento social de uma empresa.

O sensor pode interpretar o ambiente físico da mesma forma que um humano faria. O sensor pode detetar se há ou não coisas em cima de uma mesa ou dentro de uma sala de conferência, como uma mochila, bolsa, etc. e servir esses dados na plataforma para que as pessoas tenham uma representação muito mais precisa se o espaço está ocupado ou não.

Esta nova tecnologia pode promover o distanciamento social, mas pode também ajudar na limpeza. Os escritórios são normalmente limpos andar por andar, de acordo com um cronograma. Com os dados do VergeSense, os trabalhadores de manutenção das instalações podem identificar espaços de alto uso para limpeza.

No entanto, coloca-se a seguinte questão: tecnologias como o VergeSense podem fazer com que os colaboradores tenham receio de serem rastreados?

Professores de liderança e gestão da Harvard Business School afirmam que depende da forma como as empresas comunicam o propósito desta nova tecnologia aos seus colaboradores. Se as pessoas virem a ferramenta de alguma forma como ameaçadora à sua privacidade, elas ficarão menos entusiasmadas. No entanto, se os colaboradores virem estas alterações como reconfortantes e que os podem ajudar a ter certeza de que o espaço é fisicamente seguro, então ficarão gratos.

Esta tecnologia foi projetada com a privacidade em mente, pois fornece às empresas um conjunto de dados anónimos. Este sensor processa imagens de baixa resolução, tornando impossível capturar informações pessoalmente identificáveis, de acordo com os seus responsáveis.

Em Calgary, Canadá, a empresa de interiores modulares DIRTT também está empenhada em auxiliar as empresas no retorno aos seus escritórios. As suas paredes e portas podem ser criadas em questão de semanas e facilmente movidas e reconfiguradas com base nas necessidades de mudança das empresas, usando essas soluções para preparar seus escritórios para o local de trabalho pós-pandemia.

A DIRTT usa software próprio para projetar, fabricar e instalar ambientes interiores totalmente personalizados, como paredes de escritório e portas.

Em consequência da crise de saúde que assolou e perdura por todo o mundo, as empresas procuram transformar as suas áreas de trabalho de modo a incentivar o distanciamento social, a proteger as suas equipas e em implementar estas soluções para tornar mais seguro o regresso ao trabalho presencial.

Estes investimentos das empresas em tecnologia e inovação para um retorno mais seguro aos escritórios físicos, preveem também um trabalho híbrido como naturalmente possível e inerente aos novos tempos.

Softwares de fluxo de trabalho e plataformas de gestão da relação com os clientes vão com certeza tornar-se tão comuns no futuro do trabalho como o Zoom, Slack e Microsoft Teams, entre outras, se tornaram recentemente.

Quando a pandemia se instalou, as empresas tiveram que se focar primeiro em soluções de “penso-rápido”, equipando trabalhadores remotos com VPN e dispositivos. Agora, as empresas que se encontram mais avançadas estão a adotar estas novas tecnologias para lhes dar mais flexibilidade, o que as ajudará a atrair e reter talentos.

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Paulo Doce Moura

Paulo Doce Moura

Paulo Doce de Moura exerce funções no Banco Carregosa e foi diretor do BNP Paribas Personal Finance. Estudou Relações Internacionais-Económicas e Políticas, na Universidade do Minho e Direção Geral de Empresas no Programa Avançado de Gestão para Executivos na Universidade Católica Portuguesa. Foi presidente de Direção da AIESEC (Association Internationale des Étudiants en Sciences Économiques et Commercialles) na Universidade do Minho, Coordenador Distrital Economia, Trabalho e Inovação no Conselho Estratégico Nacional e membro da Assembleia de Freguesia do Lumiar. Escreveu... Ler Mais..

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