Opinião
O que foi, o que é e o que pode ser Portugal
A minha leitura da história, do que foi, e a minha leitura da política, do que é, levou-me a um grande ceticismo acerca da influência positiva dos governos, dos políticos, dos programas e de iniciativas dos mais variados tipos.
Demasiadas vezes, os seus patrocinadores, benfeitores e campeões, independentemente da sua filiação política ou nacionalidade, origem ou boas intenções, levam ao esbanjamento, à ineficiência, à presunção e à corrupção. À medida que fui envelhecendo, concluí que o tempo mostra como os reis e os políticos têm sido loucos e que, nos melhores casos, a política tem um efeito neutro sobre o empreendedorismo. Raramente nos ajuda.
Qual é o denominador comum nessa tolice coletiva, independentemente de fronteiras, épocas e culturas?
Acho que há várias causas, mas uma delas é o desfasamento que esses líderes mostram em relação aos recursos que procuram envolver e empregar em nome dos outros.
A minha experiência diz-me que o empreendedor está em forte contraste com esse modelo macroeconómico; o empreendedor empenha-se, sente, insere-se e, em última instância, vive e morre com a sua capacidade de reunir, implantar e gerir adequadamente os recursos de tempo, dinheiro e talento.
Se um político erra, geralmente deixa o problema para outro dia ou encarrega alguém de tentar arranjar uma solução. Ou, talvez mais frequentemente, simplesmente evita o problema e ignora-o, na esperança de que desapareça.
Nas minhas frequentes viagens a Portugal nos últimos 15 anos, coloco muitas vezes o incrível Palácio Nacional de Mafra na minha lista de locais a visitar. A dada altura da sua construção no séc. XVIII, quase 45.000 pessoas trabalharam na sua construção, num projeto sem qualquer precedente em Portugal, uma vez que o rei João V contratou os mais reputados artesãos e trabalhadores de toda a Europa para virem para Mafra construir o seu palácio.
No entanto, o que é mais fascinante para mim em Mafra é que foi um projeto autoimposto que enfraqueceu fortemente Portugal, esgotando os escassos recursos de que Portugal precisava para satisfazer os seus compromissos no futuro próximo. Todos os países têm exemplos como o de Mafra, sejam eles ordenados por monarcas ou por governantes eleitos democraticamente.
Quando o empreendedor ignora um problema ou desperdiça tolamente os recursos que tem, isso pode arrastá-lo para uma crise e, em última instância, ameaçar muito rapidamente todo o projeto.
Esta proximidade com os recursos necessários e os usados em qualquer projeto empresarial, independentemente do seu tipo, distingue o empreendedor de quase todos os outros participantes em qualquer sistema económico. Aqueles que saltam de uma ideia para outra ideia, de um projeto para outro projeto, de um plano para outro plano, não são normalmente empreendedores, mas sim meras personalidades erráticas. Nos meus 35 anos de experiência como empreendedor, sempre que agi dessa forma, levou-me a desfechos bem diferentes dos que pretendia, quase sempre negativos.
O possível para um empreendedor bem disciplinado, aquele que não apenas utiliza com cuidado os escassos recursos geralmente disponíveis nas start-ups, mas que também equilibra os seus pontos fortes com os dos outros, seja um sócio, um mentor, um conselheiro ou um amigo, é uma realidade onde cada um possa alcançar crescimento económico exponencial, livre das sombras de reis e de políticos.
Tal não significa que o sucesso está de certa forma assegurado, mas sim que o empreendedor sábio aprende continuamente e constrói não apenas sobre os sucessos, mas também sobre os erros. E no centro desta disciplina está o uso cauteloso dos recursos económicos de tempo, dinheiro e talento à disposição do empreendedor.
Este é um grito muito distante daquele com que os políticos e os reis costumam abordar o futuro. Os empreendedores precisam de ver o mundo de maneira diferente. Então, vão e mudam-no!