Opinião

O que explica o colapso do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse?

Paulo Doce de Moura, Investment Advisor do Banco Carregosa

O colapso do Silicon Valley Bank no dia 10 de março lançou a incerteza no setor financeiro, contagiando outros bancos regionais e de média dimensão nos EUA. Uma das principais causas foi o alívio nos requisitos regulatórios ocorrido do outro lado do Atlântico, que não teve paralelo na Europa.

Enquanto na Zona Euro temos uma regulação que se manteve muito intrusiva, forte e com uma gestão do risco mais atenta, nos EUA aconteceu o contrário. Houve desregulação e com desregulação houve uma gestão do risco muito mais agressiva. Como exemplo o facto de o limite de supervisão federal dos bancos ter subido de 50 mil milhões para 250 mil milhões, permitindo que instituições como o Silicon Valley Bank deixassem de estar sujeitas às regras mais apertadas. Na Europa, diria que não há quase nada que os supervisores não saibam.

As ondas de choque da banca americana atingiram também o segundo maior banco suíço, tendo sido anunciada a sua aquisição pelo UBS, numa operação forçada pelo banco central, de forma a estabilizar o sistema bancário.
No entanto, o Credit Suisse, não é uma situação nova. As suas dificuldades eram conhecidas e foram agravadas pelos acontecimentos das últimas semanas. Pelos vistos, o sistema de reporte de informação ao mercado e ao público, não eram as mais adequadas e admitindo que o supervisor poderia ter agido talvez com mais antecipação, prevenindo esta situação.

Levará algum tempo a restaurar a confiança, mas volto a sublinhar a diferença entre os EUA e a Europa neste tema. Os rácios de capital da banca americana são mais baixos do que a banca europeia, a banca americana com rácios de capital na ordem dos 11%, enquanto a banca europeia mantém os seus rácios na ordem dos 13,5% a 14%.

Em jeito de conclusão e em relação ao impacto da desvalorização das carteiras de obrigações de dívida pública nos bancos, que terá sido também um dos fatores que levou à queda do Silicon Valley Bank. Este banco tinha uma carteira com um risco absolutamente anormal, que não tem nada que ver com os outros. Essa carteira pode ter um impacto de 1,5%, 2% ou 3% no rácio capital, o Silicon Valley Bank teve um impacto surpreendente e devastador de 10%!

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Paulo Doce de Moura

Paulo Doce de Moura

Paulo Doce de Moura exerce funções no Banco Carregosa e foi diretor do BNP Paribas Personal Finance. Estudou Relações Internacionais-Económicas e Políticas, na Universidade do Minho e Direção Geral de Empresas no Programa Avançado de Gestão para Executivos na Universidade Católica Portuguesa. Foi presidente de Direção da AIESEC (Association Internationale des Étudiants en Sciences Économiques et Commercialles) na Universidade do Minho, Coordenador Distrital Economia, Trabalho e Inovação no Conselho Estratégico Nacional e membro da Assembleia de Freguesia do Lumiar. Escreveu... Ler Mais..

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