Opinião

O meu bom nome

Belén de Vicente, CEO da Medical Port

Quando uma grande percentagem das pessoas que estão a nossa volta reconhece em nós uma determinada característica ou capacidade, começamos naturalmente a ser conhecidos por isso e vemos relacionado o nosso nome a essa/s característica/s.

Quando esse reconhecimento perdura ao longo do tempo, a nossa reputação fica associada a esse fator distintivo. Positivo ou negativo. No longo prazo, essa reputação pode converter-se na nossa marca pessoal e isso, como qualquer classificação estanque, também pode ter consequências positivas ou negativas.

Até que ponto a reputação é importante, quando, na verdade, é uma questão de perceção? De acordo com a Harvard Business Review, 70% – 80% do valor de mercado de uma empresa vem de ativos intangíveis, tais como brand equity, capital intelectual e goodwill. Por isso, as empresas estão tão vulneráveis a aspetos subjetivos que possam prejudicar a sua reputação.

Se nas empresas a reputação é importante, sendo estas sobretudo as pessoas que delas fazem parte, a reputação de cada um de nós também contribui para a reputação da empresa.

Estou convicta de que a reputação do promotor joga um papel muito importante no mundo do empreendedorismo. A maior parte dos jovens empreendedores ainda não criaram uma reputação. Em alguns casos porque não tiveram tempo para a desenvolver. A base da reputação é a consistência e a repetição. Noutros, porque, na verdade, não há nenhuma característica neles suficientemente forte para ser a base da tal reputação.

Quando um investidor avalia um projeto, considera sempre, em primeiro lugar, o/os empreendedor/es, depois a ideia e a seguir o resto. Os bons investidores investem em bons empreendedores (e vice-versa) e os empreendedores ou têm provas dadas e uma reputação criada ou então têm potencial. Os bons investidores investigam os empreendedores que podem vir a incluir no seu portefólio, on-line evidentemente, mas, em muitos países, como é o caso de Portugal, através da sua network.

Numa start-up e numa microempresa, a reputação do empreendedor é a reputação da empresa. Não encontrei estatísticas fiáveis sobre esta correlação, mas intuitivamente sabemos que ela existe.

Para mim, a minha reputação é o meu bom nome. É o conjunto das minhas ações, associado ao que os outros veem em mim e ao que dizem de mim quando eu não estou à frente. O meu bom nome é o melhor que tenho. Como empreendedora, a minha reputação é a reputação da minha empresa. O meu bom nome é o bom nome da minha empresa. Enquanto a reputação é baseada em perceção, o bom nome é baseado em provas dadas, no track record.

Assim, se nos preocuparmos com fazer sempre as coisas bem, aquilo que são as nossas melhores características vai tornar-se evidente ao longo do tempo e este conhecimento vai ser muito útil a vários níveis.

Vai permitir-nos reforçar a nossa equipa, precisamente nas áreas onde nós não somos bons, onde precisamos quem nos complemente.

Vai permitir-nos criar evidência à volta do que fazemos bem, o track record de que falava antes, que é fundamental para sustentar a perceção e objetivá-la.

Vai permitir-nos associar a imagem da empresa a essas características, aos mercados onde elas são necessárias, aos parceiros que as reconhecem e delas necessitam, aos colaboradores que concordam com elas, aos investidores que as apreciam e as potenciam nas suas redes, e sobretudo aos clientes que pagam por elas.

Ao longo da minha vida profissional, tenho-me apercebido de que criar reputação numa determinada área, é muitas vezes inconsciente. Depende do casamento feliz entre as oportunidades que criamos e/ou nos aparecem e agarramos, e do nosso conjunto de competências. Mas também sei que manter a reputação é um ato muito consciente, opcional e relevante.

De facto, é um erro julgar um livro pela sua capa. Mas não há nada de mau, desde que o livro seja bom, em ter o cuidado de desenvolver uma boa capa.

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Belén de Vicente

Belén de Vicente

Belén de Vicente é fundadora e diretora geral da Medical Port, a porta de entrada para cuidados médicos em Portugal, para quem vem de outros países. É também fundadora da Stuward Health. Foi diretora do MBA Lisbon, contando com mais de 20 anos de experiência em consultoria de gestão na Península Ibérica e na gestão de parcerias internacionais nos setores do Ensino Superior e da Saúde. É apaixonada por projetos desafiantes que envolvam transformações com pessoas e para pessoas.

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