Entrevista/ “No setor tecnológico, o mercado é muito competitivo e está em constante mudança”

“As organizações vão ter de estar prontas para se adaptarem, porque os trabalhadores vão, cada vez mais, valorizar os benefícios, o tempo e a qualidade de vida além do salário”, afirma Sara Mendes, Head of People & Talent da KLx.
O campus tecnológico do grupo Crédit Agricole, a KLx, há três anos que trabalha no desenvolvimento de aplicações bancárias e de seguros e reúne mais de 500 pessoas, de mais de 15 nacionalidades. Uma multiculturalidade e diversidade que a empresa encara como vantagem competitiva. A Head of People & Talent da KLx acredita que diferentes backgrounds trazem mais valor para os nossos projetos. Sara Mendes defende que uma gestão de talento eficiente exige medidas adequadas,que explica qual a estratégia de desenvolvimento de competências da área que lidera como a aposta em academias de reconversão que permitem a atualização dos conhecimentos dos colaboradores, dando-lhes novos desafios dentro da empresa.
Quais as mais-valias do campus tecnológico para o grupo Crédit Agricole?
A KLx tem como objetivo dar novas competências à área das tecnologias da informação (TI) do grupo Crédit Agricole, com especial enfoque no desenvolvimento de aplicações bancárias e de seguros. Trabalhamos com diferentes empresas do grupo, oito atualmente, e procuramos alavancar a sua transformação digital, trabalhando a par e par com os nossos parceiros para desenvolver soluções personalizadas e adequadas aos seus desafios nesta área. Assim, garantimos que os nossos trabalhadores estão a acompanhar os avanços tecnológicos, enquanto colaboram em estreita ligação com diferentes equipas de TI do grupo diariamente.
“(…) acreditamos que diferentes backgrounds trazem mais valor para os nossos projetos”.
Como se gere um campus tecnológico com mais de 400 pessoas onde predomina a multiculturalidade e a diversidade? Quais as bases para uma gestão eficaz?
A questão da língua, para nós, é fundamental. Entre as nossas 500 pessoas, temos mais de 15 nacionalidades na nossa empresa, pelo que tanto se ouve português, como inglês, ou francês. Deste modo, todos os nossos cargos requerem algum domínio do inglês ou francês, não só para garantir que há compreensão entre todos, como também para melhorar a comunicação com os nossos parceiros e assegurar a relação de proximidade que nos caracteriza. Por este motivo, oferecemos a todos os colaboradores a possibilidade de frequentarem cursos de línguas, o que também acaba por ser uma mais-valia a nível de desenvolvimento pessoal das nossas pessoas.
Criámos uma cultura organizacional que olha para a multiculturalidade e para a diversidade como vantagens competitivas e acreditamos que diferentes backgrounds trazem mais valor para os nossos projetos. Desta forma, a gestão é feita continuamente, tendo sempre como base os trabalhadores, o seu bem-estar e constante crescimento.
A KLx tem divulgado a sua intenção de continuar a aumentar a equipa em Portugal. É fácil contratar em Portugal já que estão em causa profissionais altamente qualificados do setor segurador e bancário?
Sim, procuramos chegar aos 750 colaboradores até ao final de 2024, o que significa uma adição de 250 colaboradores em dois anos.
A verdade é que Portugal tem talentos de TI altamente qualificados e verificamos que a formação e requalificação deste talento continua a ser uma realidade. Além disso, o país demonstra também uma grande atração de talentos do estrangeiro.
No setor tecnológico, o mercado é muito competitivo e está em constante mudança, mas acreditamos ter características diferenciadoras em relação às restantes empresas. Importa dizer que atingimos a marca das 500 pessoas em menos de cinco anos, o que é um bom indício de que as nossas condições são atrativas.
Qual o impacto que as universidades têm no vosso processo de recrutamento?
Neste momento, estamos focados em perfis com alguns anos de experiência, de acordo com os requisitos dos nossos parceiros. No entanto, sabemos que as universidades portuguesas estão continuamente a formar profissionais de TI altamente qualificados, pelo que fazemos questão de marcar presença em algumas feiras de emprego direcionadas a alunos universitários.
“(…) procuramos é integrar talentos de topo, que tenham curiosidade em aprender e em manter-se em constante desenvolvimento (…).”
Quais os vossos critérios base para a contratação de talentos?
Sendo que estamos num setor altamente dinâmico e onde há rápida evolução, grande parte das nossas recentes contratações e necessidades vão para profissionais com competências nas novas tecnologias, como por exemplo Java e Angular. Por outro lado, o conhecimento de Agile e, também, da língua francesa, é valorizado em várias posições.
Mas o que procuramos é integrar talentos de topo, que tenham curiosidade em aprender e em manter-se em constante desenvolvimento, de forma a acompanhar a evolução da KLx e dos nossos parceiros. Promovemos diversas iniciativas internamente e queremos não só que sejam um mecanismo de atração das pessoas, mas que elas realmente se interessem e se sintam bem a trabalhar aqui.
Qual o investimento anual da KLx nas suas pessoas?
Fazemos um investimento contínuo nos colaboradores e nas condições de trabalho proporcionadas, não só em termos de formação, como também em termos de bem-estar. No que toca à formação, este ano tivemos um aumento de 130% no orçamento dedicado a esta área, que, já no ano passado, tinha sido cinco vezes superior ao da média das empresas de TI nacionais. Inclusivamente, uma das iniciativas que mais valorizamos são os planos de formação anuais, definidos com os colaboradores e respetivas chefias, com o objetivo de capacitar as pessoas a nível técnico, funcional e linguístico. Este ano, aprovámos 90% das formações propostas.
Numa altura em que se fala tanto dos “novos” trabalhadores, o que procuram quem trabalha convosco? Salário? Benefícios?
Acreditamos que quem nos procura valoriza os benefícios e condições de trabalho que proporcionamos como um todo. Oferecemos um modelo de trabalho híbrido bastante flexível, sendo que os colaboradores podem trabalhar 120 dias por ano a partir de casa e escolher o seu horário de entrada, entre as 7h e as 10h, por acordo com a sua chefia. Também oferecemos seguro de saúde e a opção de alugar automóveis a todos os colaboradores, além de um vasto pacote de benefícios.
Outro dos fatores que acreditamos ser valorizado pelos colaboradores é o investimento que fazemos na sua formação contínua, permitindo-lhes desenvolver novas competências e skills, tanto técnicas, como de gestão e liderança. Por outro lado, queremos que os colaboradores estejam felizes e motivados no trabalho e valorizamos o espírito de equipa. Para consolidar isso, não deixamos de fora os momentos informais de convívio, como as festas em épocas especiais do ano ou as sessões regulares dos nossos clubes de hiking, jogos de tabuleiro, yoga, corrida, dança e padel.
Claro que um salário adequado às funções desempenhadas é relevante, o que também oferecemos, mas acreditamos que a nossa vantagem competitiva está também nas iniciativas internas que promovemos.
Em três anos de atividade, quais têm sido os principais desafios da KLx na gestão de pessoas?
O crescimento rápido é sem dúvida um desafio porque temos que garantir que encontramos o talento certo, com as skills e mindset que valorizamos, num mercado com elevada procura. Ainda assim, atingimos a marca das 500 pessoas este ano o que é muito positivo e mostra que conseguimos realmente atrair talento.
E quais as maiores conquistas que conseguiram neste período?
Uma das nossas maiores conquistas é o facto de, em poucos anos, estarmos a trabalhar com oito empresas do grupo e, até ao final do ano, este número subir para dez. É gratificante ver o reconhecimento do nosso trabalho e competências e saber que os projetos nos quais estamos envolvidos fazem realmente diferença na potencialização das capacidades de TI do grupo Crédit Agricole.
Por outro lado, apesar do nosso rápido crescimento, temos sido bem sucedidos em reter os nossos profissionais qualificados através das nossas políticas. Desde o início do ano, apenas 3% dos nossos colaboradores internos saiu da empresa, o que prova a nossa aposta diária nas pessoas que trabalham connosco.
“(…) a formação dos colaboradores é um dos nossos focos de investimento”.
Como retêm os vossos talentos? Em que vertentes assenta a vossa estratégia de desenvolvimento de competências?
Atualmente, o mercado tecnológico, bem como das áreas bancária e de seguros, é extremamente versátil. É por isso que a formação dos colaboradores é um dos nossos focos de investimento. Além das iniciativas de formação já abordadas, temos ainda as nossas comunidades especializadas em determinadas áreas tecnológicas, que promovem a partilha de conhecimento e expertise entre equipas.
No nosso campus temos também percursos de desenvolvimento de competências, com formações de longa duração. Em outubro de 2022 iniciámos a formação em gestão, numa parceria com a ISEG Executive School, e, no início deste ano, começou também a formação em delivery management. Estes percursos, com a participação de cerca de 60 managers e operacionais cada, permitem que os colaboradores ganhem competências nas áreas do serviço ao cliente, produtividade, qualidade, eficiência e autonomia, aplicando-as a todas as tarefas do dia a dia, além de que demonstram uma aposta clara no desenvolvimento das pessoas.
Com o objetivo de continuar a investir no nosso maior ativo e de promover a sua retenção, iniciaremos em 2024 treinos de reconversão de competências, que pretendem “re-treinar” os colaboradores, dar-lhes novas competências e atualizar as suas skills. Um dos treinos que facilitaremos será a conversão de programadores COBOL em Java, uma linguagem de programação mais recente e valorizada atualmente.
Como vê o futuro do mundo do trabalho? Que tendências vê no horizonte, do lado dos empregadores e dos trabalhadores?
O mundo do trabalho está e vai continuar em transformação. Desde a pandemia, por exemplo, que vemos cada vez mais empresas a optarem pelo modelo híbrido de trabalho e com um regime flexível, não só porque viram que resulta, mas porque já é uma exigência dos colaboradores. Penso que no futuro a questão do work-life balance se tornará ainda mais predominante. As organizações vão ter de estar prontas para se adaptarem, porque os trabalhadores vão, cada vez mais, valorizar os benefícios, o tempo e a qualidade de vida além do salário